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sábado

Um dia desses...

A militância é muito boa.

Você conhece novas pessoas, passa admirar outras e existe uma coisa que faz cultivar, ainda, esse desejo de militar: É a utopia da Revolução.

Eu num sei se é utópico achar que a revolução é utópica, mas, que cada vez mais vejo a exploração de certos grupos ou os famosos campos táticos, eu me decido cada vez mais lutar contra esse aparelho ideológico que destroe o movimento.

É certo, que amadureci muito. Parece que todo o sentimento, o sentimento se aproxima o da paixão - avassaladora-, ele está virando um amor. Essa diferença para alguns é fundamental, pois, acreditam que o amor é um campo concreto de base sólida e a paixão é a incerteza do que está por vim. Não sei se vivo na base sólida da militância e nem sei se vivo na incerteza da paixão, porém, só sei de uma coisa: Milito por uma Estado democrático, popular e socialista.

De tantos amores...

De tantos amores
De tantas ilusões
De tantos fracassos
De tantos beijos

Carinhos, afetos e nada mais
Seu rosto colocado no meu
Seu olhar
Do seu jeito

quinta-feira

Memória Brasileira

Indignados com o Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em solenidade oficial presidida por Lula, em dezembro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os comandantes das Forças Armadas teriam apresentado suas renúncias, recusadas pelo presidente da República.

Lula teria prometido rever três ou quatro pontos do programa, como os que exigem a instalação de uma Comissão da Verdade, a abertura dos arquivos militares e a retirada, de vias públicas, de nomes de pessoas notoriamente coniventes com a repressão da ditadura.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, cumpre honradamente seu dever de cidadão e autoridade pública: empenha-se para que a verdade venha à tona. O Brasil é o único país da América Latina, assolado no passado por ditadura militar, que prefere manter debaixo do tapete crimes cometidos por agentes públicos.

A lei da anistia, aprovada pelo governo do general Figueiredo, é uma aberração jurídica. Anistia se aplica a quem foi investigado, julgado e punido. O que jamais ocorreu, no Brasil, com os responsáveis por torturas, assassinatos e desaparecimentos. Aqueles que lutaram contra o regime militar e pela redemocratização do país foram, sim, severamente castigados. Que o digam Vladimir Herzog e Frei Tito de Alencar Lima.

Tortura é crime hediondo, inafiançável e imprescritível. Ao exigir que se apure a verdade sobre o período ditatorial, o ministro Vannuchi e todos nós que o apoiamos não somos movidos por revanchismo. Jamais pretendemos fazer a eles o que eles fizeram a nós. Trata-se de justiça: descobrir o paradeiro dos desaparecidos; entregar às suas famílias os restos mortais dos que foram assassinados e enterrados clandestinamente; comprovar que nem todos os militares foram coniventes com as atrocidades cometidas pelo regime, em nome da Segurança Nacional; livrar as Forças Armadas da influência de figuras antidemocráticas que exaltam a ditadura e acobertam a memória de seus criminosos.

O presidente Lula não merece tornar-se refém dos saudosistas da ditadura. É a impunidade que favorece, hoje, a prática de torturas por parte de policiais civis e militares, como ocorre em blitzen, delegacias e cadeias Brasil afora.

Inútil os militares tentarem encobrir a verdade sobre o nosso passado. Até no filme de Fábio Barreto, “Lula, o filho do Brasil”, a truculência da ditadura é exposta em cenas reais e fictícias. “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton – o filme mais realista sobre o período militar – revela como jovens estudantes idealistas eram tratados com uma crueldade de fazer inveja aos nazistas.

Participei, junto com Paulo Vannuchi, do projeto que resultou no livro “Brasil, Nunca Mais” (Vozes), assinado por Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright. Todas as informações contidas na obra foram obtidas na documentação encontrada no Superior Tribunal Militar. E, em data recente, o major Curió, que comandou a repressão à guerrilha do Araguaia, abriu uma mala de documentos.

Anistia não é amnésia. O Brasil tem o direito de conhecer a verdade sobre a guerra do Paraguai, Canudos e a ditadura instalada em 1964. Bisneto e neto de militares, sobrinho de general e filho de juiz de tribunal militar (anterior ao golpe de 64), gostaria que o nosso Exército, Marinha e Aeronáutica fossem forças mais amadas que armadas.


Texto de Frei Betto.

segunda-feira

Devaneios de um marxista...

Nem bem tinha ocorrido o terremoto do Chile, vozes “civilizadas” se apressaram em diferenciar uma “comunidade” organizada – o Chile – de um agregado de gente – o Haiti. Reproduziam, no seu elitismo, o lema central do capitalismo - “Civilização ou barbárie”. Uma sociedade desagregada, miserável, condenada às calamidades – a menção a que seja uma nacao negra fica sugerida -, em comparação com esse pedaço de Europa no sul do continente - que até elegeu um Berlusconi como presidente. A anarquia haitiana e a sobriedade chilena.

Quando, de repente, comecaram os saques, apareceram aos borbotões os “rotos” chilenos – como os ricos chamam os pobres por lá – atacando supermercados, foi se revelando o desamparo em que ficou a massa da população. Surgiram os erros gigantescos na previsão e na chamada da população para que se precavesse do tsunami que sucedeu o terremoto e causou outras tantas mortes. Revelou-se um número equivocado de mortos, corrigiu-se e de novo tinham se equivocado. A população reprovou a forma vacilante do governo enfrentar as consequências do terremoto.

A própria presidente Bachelet e seu Ministro de Relações Exteriores – dando a impressão que buscavam difenciar-se do Haiti, evidenciando que não tinham se tornado um país desvalido – se apressaram em dizer que não necessitariam de ajuda exterior. Poucos dias passaram até que tiveram que se desmentir, solicitando ajuda.

Os terremotos são fenômenos terríveis, não apenas pelas mortes e outros danos humanos e físicos graves que produzem, mas também porque nos dão a sensação literal de que “nos falta o chão”, jogando-nos no abandono, na insegurança, já que nos faltando o chão, parece que nada mais pode nos amparar. Quem viveu essa experiência traumática, nunca mais a esquece.

É evidente tambem que em qualquer catástrofe natural, os países mais pobres e as regiões mais pobres desses países sofrem muito mais, muito mais casas são destruídas, muito mais gente morre. Não se trata de maior ou menor “civilização”, mas de riqueza, de sua concentração nas mãos dos países que foram colonizadores e são imperialistas e os outros, vitimas deles.

No Haiti, mais além da imagem que a imprensa tratou de passar, do último circulo do inferno, a população se mobilizou, se organizou, demonstrou uma valentia e uma coragem moral que poucos países e povos demonstraram. Assim como o povo chileno resistiu aos duros sofrimentos do terremoto, às perdas, ás destruições. Claro que o nível atual de desenvolvimento do Chile é superior ao do Haiti, por razões históricas muito claras – em que as potências capitalistas têm responsabilidades gravíssimas, basta dizer que somente agora decidiram cancelar a dívida externa do Haiti.

Dá para fazer comparação com o Adriano. Quando ele desistiu de seguir jogando na Inter de Milão, renunciou a um contrato milionário, associado à fama e ao exibicionsmo midiático, porque “não estava feliz”, vozes similares não demoraram a dizer que havia algo muito mais complicado com ele, “álcool, drogas ou até algo pior”. Ele tinha que estar se comportando sob os efeitos da bebida, da droga ou “de algo pior”, para renunciar a dinheiro pelo sentimento de felicidade, de estar na favela da sua infância brincando com pipa com seus amigos, a quem mandava comprar sanduíches.

Agora, bastou o Adriano aparecer envolvido em uma festa noturna, um conflito com a namorada, faltar a treinos, para essas mesmas vozes – que consideram que Kaká, Ronaldinho, etc., se comportam como se deveria comportar um ser humano “normal” -, para pregar que Adriano não seja mais convocado para a seleção, que não vá ao Mundial – talvez com esperança que o Ronaldo corintiano, aquele que deixou de vir para o Flamento, seu time do coração, para ir ao Corinthians, por dinheiro – o substitua.

Essa atitude preconceituosa, a mesma que quis condenar o Haiti e absolver o Chile, se volta contra o Adriano, como a dizer que “quem nasceu nesse meio, quem prefere esse meio a Milão, um tipo com esses valores, acaba recaindo sempre no vício, não é pessoa confiavel”, etc., etc.

Os pobres – os países e as pessoas - nasceram pobres e assim morrerão. Como se tivessem um destino de ser pobres, não fossem produto histórico de processos que os produziram como pobres, sofrendo as pressões para seguirem assim. O Haiti não tem jeito, Adriano não tem jeito. Os pobres não têm jeito, quem nasceu pobre, morrerá pobre.

É intolerável para os preconceituosos, que Adriano tenha tomado essas atitudes, torcem para que naufrague diante do alcoolismo, para vituperar seu famoso: “Eu sabia, eu não disse, essa cara nao presta, etc., etc. Da mesma forma que desconhecem que o Haiti foi a vanguarda das lutas de independência na América Latina, que derrotou a Franca de Napoleão, antes de ser massacrada e pagar até hoje o preco dessa audácia.

Os pobres teriam que se conformar em ser pobres. Evo Morales, Lula, Mujica, Hugo Chavez teriam que dar errado; FHC, Sanchez de Losada, Carlos Andres Perez, Lacalle – teriam que ter dado certo. Mas a realidade é outra.