Pages

terça-feira

#SomDaNoite NEY MATOGROSSO - Homem Com H #BlogNemComento

A entrevista histórica e a pequenez humana

Por Luiz Carlos Azenha*

Acabei de assistir à entrevista concedida pelo presidente Lula aos blogueiros sujos.

Gostei das perguntas, de todas as perguntas, inclusives das feitas através do twitter. O presidente tergiversou aqui e ali, não respondeu diretamente à pergunta que tratava do Paulo Lacerda e da Operação Satiagraha e deixou absolutamente claro que sabe exatamente o que a “velha mídia” andou fazendo no verão passado.

Frases dele:

“A raiva deles é que eu não os leio”.

“Sei que durante muito tempo eles torceram para me derrubar”.

“Eu quero saber a quantidade de leviandades, de inverdades que foi dita a meu respeito” [sobre uma futura leitura do que foi publicado].

Achei muito adequada a ponderação que acompanhou a pergunta de Eduardo Guimarães, do Cidadania.

Achei impagável ver o Cloaca no Palácio do Planalto.

Quem diz que a entrevista foi chapa-branca ou não viu a entrevista ou, francamente, é idiota. Leandro Fortes cobrou Lula. Rodrigo Vianna cobrou Lula. Altamiro Borges cobrou Lula. Conceição Oliveira cobrou Lula. Tulio Vianna cobrou Lula. Cloaca cobrou Lula. Infelizmente, devido ao formato, não houve possibilidade de réplicas.

O presidente da República fez duas digressões absolutamente reveladoras, uma delas não provocada pelos entrevistadores: sobre o processo de escolha de juizes do Supremo Tribunal Federal e sobre os seus contatos com o presidente iraniano, Ahmadinejad.

Ou seja, ainda que nem todos os presentes à entrevista fossem jornalistas, conseguiram o que qualquer jornalista quer: informações e ângulos reveladores sobre o presidente da República.

Portanto, a entrevista foi histórica por ser a primeira dada a blogueiros, mas valeu também do ponto-de-vista informativo.

Não é por acaso a ciumeira que notei aqui e ali.

De fato, foi um erro não ter convocado um número maior de mulheres blogueiras. Quem sabe as mulheres não se organizem, agora, para fazer uma entrevista da “turma da luluzinha” com a presidente Dilma.

No mais, eu me senti representado pelos que foram convocados.

Quanto às suposições de que haveria uma “casta” entre os blogueiros, ela é absurda. Vários dos convidados não puderam comparecer à entrevista justamente por não fazerem parte de casta alguma. A grande maioria de nós não ganha um tostão furado na internet; o blog é uma atividade paralela aos compromissos profissionais. No entanto, no Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas o Viomundo comprou uma cota de patrocínio para ajudar a viabilizar a reunião. A intenção era agregar e ajudar gente que, agora, exibe publicamente toda a sua pequenez humana.

PS do Viomundo: A título de esclarecimento, a Conceição Oliveira ganha a vida publicando livros didáticos; a Lemes escreve livros na área de saúde. Eu, Azenha, sou repórter. Todos nós temos filhos, casas ou gatos para cuidar. Todos nós temos uma ou mais pessoas na família com sérios problemas de saúde, que dependem mais ou menos da gente para sobreviver. Em resumo, ninguém aqui precisa ou está em uma ego trip.

*Matéria originalmente publicada no Viomundo

E quando Meirelles disse “ou ele ou eu” teria selado definitivamente o seu destino

E quando Meirelles disse “ou ele ou eu” teria selado definitivamente o seu destino. Por Mino Carta

Um velho amigo comentou dias atrás: “Ele se meteu em uma enrascada sem saída quando disse: ou ele, ou eu, como Golbery”. Bom assunto para um almoço pacato. Comparava o chefe da Casa Civil de três ditadores, Castello Branco, Geisel e Figueiredo, com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se prepara a deixar seu posto para Alexandre Tombini, diligente funcionário do próprio banco do qual é o atual diretor de Normas.

O impasse para Golbery deu-se logo após a desastrada operação que resultou na tragicomédia do Riocentro, a 1º de maio de 1981. A bomba explodiu no colo do terrorista de Estado que a carregava de carro, destinava-se a provocar uma hecatombe em meio a um espetáculo musical que reunia 20 mil pessoas. Felizmente, uma apenas foi para o Além, quem sabe o Inferno, enquanto o que dirigia o veículo ficou gravemente ferido. O inspetor Clouseau não se sairia melhor.
O humor negro do episódio não haveria de abrandar a profunda irritação que tomou conta do chefe da Casa Civil de João Baptista Figueiredo. Logo depois de ser informado a respeito do evento, caminhou até o gabinete presidencial e exigiu a demissão imediata do comandante do I Exército, sediado na Vila Militar do Rio, o general Gentil Marcondes, primeiro responsável por uma missão de inauditas dimensões criminosas, da qual ele teria de estar necessariamente a par.

Na visão de Golbery, era nítido o propósito da operação fracassada, inserida em um programa de atentados em escalada, que já haviam visado bancas de jornais no Rio e em São Paulo, a sede da OAB nacional e as oficinas da Tribuna da Imprensa. Pretendia-se precipitar um clima de tensão extrema, de sorte a implodir o plano da chamada abertura e a justificar a permanência dos militares no poder. Quer dizer, depois de Figueiredo, previsto como o derradeiro ditador, viria outro da casta fardada, e ele já tinha nome, o general Octávio Medeiros, chefe do SNI e protetor do general Gentil.
Uma guerra surda eclodiu dentro do Palácio do Planalto, a cheirar cada vez mais a quartel, o comandante do I Exército ficou onde se encontrava, o inquérito sobre a tragicomédia debandou para a farsa, e foi então que Golbery impôs: ou Medeiros, ou eu. Figueiredo optou por aquele. Assim como Dilma Rousseff escolheu Mantega e, portanto, Tombini.

É o pensamento do velho amigo, também sábio. Está claro que enredo e protagonistas são bem diversos daqueles, mas a chave da compreensão da saída de Meirelles aí estaria. De todo modo, o confronto era inevitável, em um caso e noutro. Há na imprensa quem se esforce para provar que Mantega foi escolha de Lula, bem como a dos demais da equipe econômica. É do conhecimento até do mundo mineral, contudo, que, desde a composição do primeiro gabinete de Lula presidente, Meirelles foi indicado por ele, e depois, anos a fio, por ele mantido a despeito das críticas crescentes, partidas de conselheiros importantes e de largos setores do empresariado, às políticas rígidas do BC.

A autonomia do presidente do banco é reivindicação teoricamente aceitável. Assim se dá em outros países reconhecidamente democráticos, onde se enxerga o presidente do Banco Central como alto funcionário a serviço do Estado e não deste ou daquele governo, estável na função independentemente dos resultados eleitorais, personagem imanente, digamos assim, em lugar de contingente. No Brasil atual, a ideia de Meirelles é impraticável.

De fato, ou Mantega ou Meirelles. CartaCapital não se surpreendeu com a escolha final da presidente eleita, e aqui manifesta seu apreço pela decisão. E sabe que Tombini chega com o aval da presidente e do seu futuro ministro da Fazenda. No mais, é perfeitamente possível que meu velho e sábio amigo esteja certo: na hora azada, o aut-aut de Meirelles foi a gota decisiva. O mesmo amigo murmura: “É um bancário que deu certo”.

O neto do big boss


29 de novembro de 2010

E de repente descobre-se a surpreendente identidade de um dos homófobos da Avenida Paulista.


Por Paolo Manzo.



Parecia a princípio apenas um esquálido fato da crônica policial. A agressão de domingo 14 de novembro, contra uns jovens que passeavam nas primeiras horas da madrugada numa das artérias principais de São Paulo, a Avenida Paulista, num primeiro momento incluído no cotidiano boletim diá-rio de uma metrópole violenta. Quando, porém, a polícia começou a investigar em profundidade, a história assumiu dimensão diferente. Parte-se da homofobia e chega-se à Máfia. Com M grande, aquela siciliana da Cosa Nostra e de Gaetano “Tano” Badalamenti. Ou seja, o poderoso chefão entre 1974 e 1976, morto numa penitenciária dos Estados Unidos em 2004, condenado a 45 anos de reclusão dura em consequência da operação da polícia internacional “Pizza Connection”: por meio de centenas de pizzarias em Nova York distribuía a droga que chegava da Sicília, sob o comando de “Don Tano”.

Badalamenti sênior fora também condenado na Itália, em 2002, como mandante, entre outros delitos, do homicídio de Peppino Impastato, um radialista que usava a ironia contra “Don Tano” e incentivava a rebelião de uma geração inteira criada a pão e Máfia.

Impastato tornou-se símbolo e inspirou um filme de Marco Tullio Giordana, I Cento Passi (Os Cem Passos), premiado pela cenarização no Festival de Veneza de 2000 e obra cult entre os filmes que denunciam a colusão entre política e criminalidade. Cem passos como a distância que separa em Cinisi, na periferia de Palermo, onde o jornalista vivia, a casa do boss mafioso daquela do jornalista.

E chegamos à Avenida Paulista e ao episódio de 14 de novembro. Primeira conclusão dos investigadores: tratou-se de um ataque homófobo, as vítimas, todas elas, abaixo dos 23 anos e na maioria homossexuais. Verificou-se, além disso, que dos cinco agressores, quatro são menores. Um tem 19 anos e todos são abastados “filhos de papai”. Mas quem era um desses papais acaba por revelar-se a derradeira e clamorosa descoberta.

Um dos agressores chama-se G. M., filho de um certo Carlos Massetti. E os especialistas em Máfia padecem da primeira suspeita. Massetti é um italiano que vive no Brasil há 16 anos, dizem, mas na rea-lidade o homem frequenta o País pelo menos desde 1983. No ano passado, no dia 23 de maio, Carlos foi detido pela Interpol com pedido de extradição para a Itália no âmbito de uma maxioperação da polícia italiana, a “Mixer-Centopassi”, clara referência ao homicídio de Impastato a mando de Gaetano Badalamenti.

Conforme conclusões dos investigadores italianos, a identidade de Carlos Massetti é de fato falsa, como outra, de Ricardo Cavalcante Vitale, também usada por ele. Seu verdadeiro nome seria, pelo contrário, Leonardo Badalamenti, justamente o filho de “Don Tano”, o “superboss” da Máfia que nos anos 70 gerenciava por conta da organização criminal as relações com o chamado “terceiro nível”, o nível da política italiana. Principalmente com Giulio Andreotti, democrata-cristão, sete vezes presidente do Conselho, como pode-se ler com todas as letras na sentença do processo que o viu réu alguns anos atrás em Palermo. Andreotti não cumpriu pena porque o processo prescreveu.

A acusação em relação a Massetti-Cavalcante Vitale-Badalamenti é de fraude e corrupção. Segundo a direção distrital antimáfia de Palermo, para favorecer a organização da Máfia, convicção apoiada pela Interpol, Badalamenti Jr. teria realizado uma série de operações fraudulentas com “bonds” venezuelanos, causando prejuízos para as filiais da Hong Shanghai Bank, da Lehman Brothers e de um banco britânico, por uma importância total de mais de 1 bilhão de dólares.

O nosso herói acaba na cadeia, mas dela sai logo. Com nova identidade, a de Carlos Massetti, e o STF não consegue demonstrar a velha, apesar de uma semelhança com o pai Tano que é deveras impressionante e uma série de dados incontestáveis, segundo a Interpol. Em agosto de 2010 o Supremo Tribunal Federal, na presidência do ministro Celso de Mello arquiva, porém, o processo depois de haver concedido habeas corpus ao recém-nascido Massetti. “Não se revela processual-mente viável, na via estreita do processo de habeas corpus, a discussão em torno da identidade do paciente em questão, que sustenta não ser ele o súdito estrangeiro que poderia vir a ser reclamado, pela República Italiana, ao governo do Brasil (…) Arquivem-se os presentes autos”, escreve o ministro De Mello. Baseia-se no fato de que o governo italiano não formalizou o pedido de extradição juntando os documentos probatórios da culpa do acusado.

Embora Massetti tivesse várias vezes proclamado a própria inocência, declarando ser, no momento da prisão, “prisioneiro político e vítima de um clamoroso erro judiciário” para o então chefe da Interpol-Brasil, Jorge Pontes (hoje tranferido em Paris) não subsistem dúvidas. Trata-se de Leonardo Badalamenti. “É um típico caso de lavagem de identidade – comentava Pontes um ano atrás –, como já aconteceu com os criminosos nazistas, Massetti conseguiu criar uma nova identidade. Assim um dos mais famosos mafiosos vive tranquilo no Brasil.”

E continua. Bem como o filho que, vejam só, é G. de Gaetano. Aos 16 anos revela perigosas tendências, que não deixam de evocar certas características da cultura mafiosa, baseada na importância da família, e pelo qual a homossexua-lidade é vista com terror. Meglio un figlio mafioso che ricchione(melhor um filho mafioso que homossexual).

A mudança de identidade ao se estabelecer fora da Itália também é um fenômeno cultural, digamos assim. Por uma estranha coincidência no Brasil já se verificou outro caso igual, do mafioso das categorias superiores que adotou em relação ao juiz italiano Giovanni Falcone a mesma estratégia da “lavagem de identidade”, para usar a definição do ex-chefe da Interpol brasileira. O nome verdadeiro é Giuseppe Bizzarro e Falcone o interrogou, na penitenciária de Belo Horizonte em 1984, impassível. Bizzarro negou qualquer acusação e a própria existência da Máfia. E, principalmente, negou até de ser ele mesmo: “Eu me chamo José Carlos Fatore Lanza, não sei de que sou acusado, deve ser um erro de pessoa. Sou um prisioneiro político”, disse com um fortíssimo sotaque do sul da Itália.

Bizzarro fora preso no dia 24 de outubro de 1983, juntamente com Tommaso “Don Masino” Buscetta – o primeiro colaborador de Justiça que descreveu em detalhes a cúpula de Cosa Nostra para Falcone – e com Leonardo Badalamenti, aliás Carlos Massetti, aliás Ricardo Cavalcante Vitale, o filho de Don Tano. Já estava no Brasil. De passagem ou estavelmente? Só que então era ainda Leonardo. Quanto a Bizzarro, simplesmente desapareceu.

CartaCapital.

Wikileaks: documentos revelam que Itamaraty é considerado inimigo da política dos EUA


Que seja assim para sempre.



Opera Mundi

30 de novembro de 2010

Mensagens confidenciais reveladas pelo grupo ativista Wikileaks, mostram que o governo norte-americano considera o MRE (Ministério das Relações Exteriores) do Brasil um adversário que adota uma “inclinação antinorte-americana”. Os telegramas foram divulgados no Brasil pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (30/11).

Os telegramas também mostram que, para os EUA, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é um aliado, em contraposição ao Itamaraty. Jobim, que continuará no cargo durante o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, é elogiado e descrito como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”.

Em documento enviado no dia 25 de janeiro de 2008, o então embaixador norte-americano em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço com Jobim dias antes. No encontro, o ministro brasileiro teria contribuido para reforçar a imagem negativa do MRE frente aos norte-americanos.

Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim mencionou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães. Segundo o relato de Sobel, “Jobim disse que Guimarães ‘odeia os EUA’ e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]“.

Já em memorando datado de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos EUA. Ao tratar sobre essa visita, realizada entre 18 e 21 de março de 2008, os EUA afirmaram que “embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema”.

Combate ao terrorismo

Outros telegramas enviados pela embaixada dos EUA em Brasília para Washington revelam que, embora o governo brasileiro sempre tenha negado a existência de atividades terroristas no país, a polícia federal e a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) seguem recomendações do serviço de inteligência norte-americano para realizar operações de combate ao terrorismo no país desde 2005.

“A Polícia Federal frequentemente prende indivíduos ligados ao terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não relacionados a terrorismo para não chamar a atenção da imprensa e dos altos escalões do governo”, segundo mensagem enviada por Sobel em janeiro de 2008.

De acordo com o relatório enviado a Washington, o general Armando Félix diz ser importante que as operações de anti-terrorismo sejam “maquiadas” para não afetar negativamente a “orgulhosa” e “bem-sucedida” comunidade árabe no Brasil, presente principalmente na Tríplice Fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina.

“A sensibilidade ao assunto resulta em parte do medo da estigmatização da grande comunidade islâmica no Brasil ou de que haja prejuízo para a imagem da região como destino turístico. Também é uma postura pública que visa evitar associação à guerra ao terror dos EUA, vista como demasiado agressiva”, afirmou Sobel, que ocupou o cargo de embaixador entre 2006 e 2010.

Pouco antes, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional havia agradecido o apoio dos EUA por meio do RMAS (Regional Movement Alert System), sistema que detecta passaportes inválidos, perdidos ou falsificados. A partir de informações do RMAS, a ABIN e a PF estariam monitorando “indivíduos de interesse” no país.

“Além das operações conjuntas, o governo brasileiro também está pedindo que filhos de árabes, muitos deles empresários de sucesso, vigiem árabes que possam ser influenciados por extremistas ou grupos terroristas”, diz o relato. Para Félix, é de total interesse da comunidade “manter potenciais extremistas na linha”, evitando assim chamar a atenção mundial para os árabes brasileiros.

Segundo o telegrama enviado pelo ex-embaixador Sobel em 8 de janeiro de 2008, a preocupação em não admitir atividades suspeitas de terrorismo seria maior ainda dentro do MRE que, assim como o governo brasileiro, considera o partido libanês Hezbollah e o palestino Hamas partidos legítimos, e não terroristas. Por isso, disse ele, o Brasil participa “relutantemente” das reuniões anuais sobre segurança que reúne diplomatas, oficiais de segurança e inteligência da Argentina, Paraguai e Brasil com os EUA para discutir segurança na fronteira.

CartaCapital.

Os donos da mídia estão nervosos



por Laurindo Lalo Leal Filho, na Carta Maior *

O blogueiro Renato Rovai contou durante o curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado semana passada no Rio, que a Veja andou atrás dele querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.

A essa informação somam-se as matérias dos jornalões e de algumas emissoras de TV sobre a coletiva, sempre distorcidas, tentando ridicularizar entrevistado e entrevistadores.

O SBT chegou a realizar uma edição cuidadosa daquele encontro destacando as questões menos relevantes da conversa para culminar com um encerramento digno de se tornar exemplo de mau jornalismo.

Ao ressaltar o problema da inexistência de leis no Brasil que garantam o direito de resposta, tratado na entrevista, o jornal do SBT fechou a matéria dizendo que qualquer um que se sinta prejudicado pela mídia tem amplos caminhos legais para contestação (em outras palavras). Com o que nem o ministro Ayres Brito, do Supremo, ídolo da grande mídia, concorda.

Jornalões e televisões ficaram nervosos ao perceberem que eles não são mais o único canal existente de contato entre os governantes e a sociedade.

Às conquistas do governo Lula soma-se mais essa, importante e pouco percebida. E é ela que permite entender melhor o apoio inédito dado ao atual governo e, também, a vitória da candidata Dilma Roussef.

Lula, como presidente da República, teve a percepção nítida de que se fosse contar apenas com a mídia tradicional para se dirigir à sociedade estaria perdido. A experiência de muitos anos de contato com esses meios, como líder sindical e depois político, deu a ele a possibilidade de entendê-los com muita clareza.

Essa percepção é que explica o contato pessoal, quase diário, do presidente com públicos das mais diferentes camadas sociais, dispensando intermediários.

Colunistas o criticavam dizendo que ele deveria viajar menos e dar mais expediente no palácio. Mas ele sabia muito bem o que estava fazendo. Se não fizesse dessa forma corria o risco de não chegar ao fim do mandato.

Mas uma coisa era o presidente ter consciência de sua alta capacidade de comunicador e outra, quase heróica, era não ter preguiça de colocá-la em prática a toda hora em qualquer canto do pais e mesmo do mundo.

Confesso que me preocupei com sua saúde em alguns momentos do mandato. Especialmente naquela semana em que ele saía do sul do país, participava de evento no Recife e de lá rumava para a Suíça. Não me surpreendi quando a pressão arterial subiu, afinal não era para menos. Mas foi essa disposição para o trabalho que virou o jogo.

Um trabalho que poderia ter sido mais ameno se houvesse uma mídia menos partidarizada e mais diversificada. Sem ela o presidente foi para o sacrifício.

Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O descompasso será enorme.

As inúmeras conquistas alcançadas ficariam escondidas se o presidente não fosse às ruas, às praças, às conferências setoriais de nível nacional, aos congressos e reuniões de trabalhadores para contar de viva voz e cara-a-cara o que o seu governo vinha fazendo. A NBR, televisão do governo federal, tem tudo gravado. É um excelente acervo para futuras pesquisas.

Curioso lembrar as várias teses publicadas sobre a sociedade mediatizada, onde se tenta demonstrar como os meios de comunicação estabelecem os limites do espaço público e fazem a intermediação entre governos e sociedade.

Pois não é que o governo Lula rompeu até mesmo com essas teorias. Passou por cima dos meios, transmitiu diretamente suas mensagens e deixou nervosos os empresários da comunicação e os seus fiéis funcionários, abalados com a perda do monopólio da transmissão de mensagens.

Está dada, ao final deste governo, mais uma lição. Governos populares não podem ficar sujeitos ao filtro ideológico da mídia para se relacionarem com a sociedade.

Mas também não pode depender apenas de comunicadores excepcionais como é caso do presidente Lula. Se outros surgirem ótimo. Mas uma sociedade democrática não pode ficar contando com o acaso.

Daí a importância dos blogueiros, dos jornais regionais, das emissoras comunitárias e de uma futura legislação da mídia que garanta espaços para vozes divergentes do pensamento único atual.

* Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Ministério da Educação entrega 30 escolas federais de educação profissional

Vamos investir na formação de professores, VIU?
___

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro da Educação, Fernando Haddad, entregaram ontem (29) 30 escolas federais de educação profissional em 13 estados. Das 30 escolas, 18 estão em funcionamento e 12 estão previstas para o início de 2011.

Além das escolas federais, foram entregues 25 campi ligados a 15 universidades federais em 12 estados, incluindo o Rio Grande do Sul.

A iniciativa faz parte do plano de expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e dá continuidade ao Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). Desde 2005, foram criadas 214 escolas federais de educação profissional, totalizando 342. Foram criados 126 campi e unidades universitárias, que passaram de 148 em 2002 para 274 este ano. Há universidades federais em 230 municípios em todo o país. Os recursos para a educação profissional passaram de R$ 1,2 bilhão em 2003 para R$ 4,9 bilhões este ano.

Agência Brasil

Transnordestina transforma Salgueiro


Murillo Camarotto


Valor Econômico - 30/11/2010

Ainda decifrando os muitos horizontes abertos pelo primeiro emprego, a estudante Cyntia Carolina de Souza, de 18 anos, só tem uma certeza imediata: quer consumir. Perguntada sobre o que vai mal em Salgueiro, cidade de 56 mil habitantes no sertão de Pernambuco, ela só se lembrou da torturante demora na conclusão das obras do primeiro shopping center local. "Estou muito ansiosa", afirmou a estudante, que trabalha há quatro meses no controle de qualidade da fábrica de dormentes de Salgueiro, com salário de R$ 792 mensais.

Para desespero de Cyntia, o Salgueiro Shopping só deve ficar pronto em novembro de 2011. O local vai abrigar uma praça de alimentação e 50 lojas, entre as quais já estão garantidas marcas nacionalmente conhecidas, como O Boticário, Americanas e Sorvetes Nestlé. "Também estou negociando com um banco internacional a instalação de uma agência, mas ainda não posso adiantar detalhes", afirmou o empresário Eugênio Muniz, que está colocando do próprio bolso 60% dos R$ 10 milhões investidos no shopping.

O empreendimento é mais uma aposta do empresário em Salgueiro, sua terra natal. Bastante conhecido na região, Muniz também é dono da varejista Tradição, que vende móveis e eletrodomésticos em 38 lojas espalhadas pelo sertão nordestino. Segundo ele, os negócios vão muito bem em todas as praças, mas é em Salgueiro que se colhe os melhores frutos. "Meu faturamento dobrou aqui nos últimos dois anos, mesmo com a chegada de redes concorrentes", relatou.

O dinamismo econômico pelo qual passa a região Nordeste, puxado pela alta vertiginosa da renda e do consumo, é singular em Salgueiro. Localizada em um ponto geograficamente estratégico do Nordeste, a cidade se transformou em um imenso canteiro de obras, com destaque para os projetos da ferrovia Transnordestina e de transposição do Rio São Francisco. "Salgueiro é o lugar onde todo mundo ganha", resume o dentista Julio Cezar Cruz, que nos últimos dois anos ganhou mais de 30 concorrentes, porém viu seu consultório aumentar os lucros em 30%.

Emancipado em 1864, o município está exatamente no cruzamento entre as movimentadas rodovias BR-232 e BR-116 e fica a menos de 600 quilômetros de todas as capitais do Nordeste, com exceção de São Luís (MA). O potencial dessa localização para o setor logístico ganhou força com a definição do traçado da Transnordestina, que colocou Salgueiro como principal entroncamento da ferrovia. A cidade será passagem obrigatória para se chegar a qualquer um dos três extremos da ferrovia, que são os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) e o município de Eliseu Martins (PI).

Segundo o prefeito de Salgueiro, Marcones Libório de Sá (PSB), cerca de R$ 70 milhões irão para os cofres municipais neste ano, um crescimento de 52% em relação a 2009. A arrecadação com o Imposto Sobre Serviços (ISS) deve aumentar impressionantes 275%, para R$ 7,5 milhões. Com a valorização dos imóveis, o IPTU vai dobrar. "Quando assumimos, em janeiro de 2009, a receita própria representava 9% da arrecadação total. Este ano vai chegar próximo de 20%", calculou o prefeito.

O principal projeto instalado em Salgueiro é o canteiro central da Transnordestina, cujas obras estão hoje no pico de atividade. Somente a construtora Odebrecht, que toca o empreendimento na região, está empregando mais de 3 mil pessoas na cidade. Além da transposição do São Francisco, há ainda obras de uma fábrica de computadores, de uma adutora, de pavimentação de ruas, entre muitas outras. De acordo com o prefeito, cerca de 15 mil pessoas estão trabalhando em todos esses projetos.

Números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam um crescimento de 102% na geração líquida de empregos em Salgueiro entre janeiro e outubro deste ano. Mais de 90% dos novos postos de trabalho com carteira assinada foram gerados no setor da construção civil, que sofre com a falta de mão de obra.

Um dos prejudicados por essa escassez é Julio Cesar Vasconcelos, de 26 anos, também natural da cidade. Após estudar Hotelaria no Recife, ele abandonou um emprego de recepcionista na capital pernambucana para ser empreendedor em sua terra natal. Há um ano e cinco meses, comanda um concorrido restaurante de beira de estrada. A primeira ampliação já está em andamento, mas a obra parou por falta de pedreiro. "Já era pra ter concluído faz tempo", queixa-se.

Animado com as oportunidades na região, ele agora quer abrir um hotel em Salgueiro, outra carência local. Reclama, no entanto, da supervalorização das terras e dos imóveis. "Há terrenos que valiam R$ 5 mil e hoje estão pedindo R$ 100 mil", conta o empresário, em um misto de perplexidade e frustração. O prefeito também está atônito: "O dono do imóvel onde fica um posto de saúde nosso quer aumentar o aluguel de R$ 600 para R$ 2 mil de uma tacada só", conta.

Feliz com a situação está Fernando Parente, único corretor de imóveis de Salgueiro, hoje com pinta de celebridade. Cauteloso em revelar números de sua ascensão na pirâmide social, ele diz que seu faturamento dobrou no último ano e meio. Hoje Fernando administra uma significativa lista de espera por imóveis para locação e compra na cidade. "O preço médio dos aluguéis triplicou. O dos imóveis comerciais também. Um ponto que era alugado por R$ 1 mil, foi recentemente alugado por R$ 6 mil", relata.

O boom imobiliário de Salgueiro vem da imensa procura das empresas com obras na cidade. Sem leitos de hotel suficientes, muitas buscam casas para acomodar seus funcionários. Diante do potencial de valorização dos imóveis, até mesmo os engenheiros que estão temporariamente morando na cidade já começaram a comprar terras nos arredores.

De acordo com o prefeito, o último levantamento feito em Salgueiro apontou para a existência de apenas 840 leitos de hotel na cidade, número deveras insuficiente para os padrões atuais, ainda mais em se tratando de acomodações mais confortáveis, voltadas aos profissionais de escalões superiores que visitam a cidade.

De olho neste nicho, a ex-professora Socorro Borba está investindo R$ 1 milhão na expansão do seu Salgueiro Plaza Hotel. O número de suítes passou de 32 para 58. "Nenhuma área do comércio em Salgueiro tem do que reclamar", garante Socorro.

Assim como os demais empresários da cidade, Socorro não acredita na existência de uma bolha em Salgueiro. Uma eventual diminuição do movimento após a conclusão das principais obras, em dezembro de 2012, já está nos cálculos. Porém, todos acreditam que o desenvolvimento veio para ficar.

A principal aposta é o projeto, já em fase inicial, de construção de uma plataforma logística multimodal, que servirá para troca de cargas entre os caminhões e os trens da Transnordestina. O "porto seco", como é chamado o empreendimento, ficará em uma área de 347 hectares e está aguardando licença ambiental para instalação do canteiro de obras.

Responsável pelo projeto, a Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (AD Diper) quer criar ali um polo logístico e agroindustrial. Além da localização estratégica, o porto seco poderia atrair, por exemplo, indústrias interessadas em beneficiar os grãos que chegarão mais baratos pela ferrovia. De acordo com o presidente do órgão, Jenner Guimarães, o governo estadual está em negociações avançadas com alguns grupos que atuam no setor, porém preferiu não adiantar os nomes.

Outra prioridade é definir como será a gestão da plataforma, cujo projeto também prevê a construção de um aeroporto de cargas. O presidente da AD Diper informou que poderão ser adotados os formatos de concessão pura ou de parceria público-privada (PPP)

Hellcife Antigo e o clima de Natal



.

segunda-feira

#SomDoVestibular Sonho Impossível - Maria Bethânia

domingo

#SomDaNoite Lulu Santos Acústico - Tempos modernos

Coletiva dos Blogueiros com o Presidente Lula

Padilha, você vai fazer o Tropa de Elite III?

Padilha: tranquiliza a "Vera" !


O José Padilha, do Tropa de Elite, se tornou uma espécie de Vera Loyola dos neo-neo-Emergentes.

O Tropa de Elite virou o sonho de consumo deles:

Pau !

Senta o pau !

Polícia corrupta, políticos corruptos – só tem saída no pau !

Com o retumbante sucesso da ocupação do Alemão – clique aqui para ler – pergunta-se: o Padilha vai fazer o Tropa de Elite III ?

Vai botar o delegado Beltrame no lugar do maluco do Capitão Nascimento ?

Vai, Padilha: faz outro docu-drama para tranquilizar a “Vera Loyola”.


Paulo Henrique Amorim

sexta-feira

#SomDaNoite Maria Bethânia canta "O doce mistério da vida"

11º Encontro dos Sem Terrinha - Pernambuco

quinta-feira

Violência no Rio: a farsa e a geopolítica do crime


Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos esquecemos que sua única finalidade é a hegemonia do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

* José Cláudio Souza Alves e sociólogo, Pró-reitor de Extensão da UFRRJ e autor do livro: Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência na Baixada Fluminense.

Justiça Federal do DF absolve ex-reitor da UnB

Embora considere que os atos do ex-reitor da UNB, de fato, se enquadram na lei de improbidade administrativa, a argumentação do juiz foi coerente. 'Os carros luxuosos' e as 'instalações dignas de rei e rainha', são uma daquelas injustiças que tornam difícil qualquer cidadão acreditar no poder judiciário de nosso país.

Talvez seria o caso de seguir o conselho do Juiz e, ao invés de inocentar o Timothy, começar a condenar todo o judiciário, legislativo e executivo brasileiro...

Justiça Federal do DF absolve ex-reitor da UnB

A Justiça Federal do Distrito Federal inocentou o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Martin Mulholland, da acusação de improbidade administrativa. Mulholland foi afastado do cargo por comprar artigos de luxo para o apartamento funcional em que morava. No entanto, para o juiz federal Hamilton de Sá Dantas, da 21ª Vara da Seção Judiciária do DF, embora questionáveis, os gastos não foram usados em benefício do ex-reitor e de Érico Paulo Weidle, decano da administração da UnB, que também foi inocentado.

Dantas admitiu o argumento da defesa dos acusados, que alegou que os bens foram adquiridos para o “desenvolvimento institucional” da universidade, destinados à recepção de membros da comunidade acadêmica nacional e internacional. O juiz federal considerou que o caso deve ser tratado no âmbito administrativo, e não pelo Poder Judiciário, sob pena de violação ao princípio da separação dos Poderes.

Ao julgar improcedente a Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal contra o ex-reitor e o decano, Dantas afirmou que, se entendesse que houve improbidade administrativa neste caso, o MPF teria de ajuizar ações contra os administradores e membros dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e até mesmo do próprio MPF, que, “notoriamente, transitam em carros luxuosos e usam instalações dignas de reis e rainhas”.

O caso
Timothy Martin Mulholland e Paulo Weidle foram acusados pelo MPF de utilizar, com desvio de finalidade, recursos do Fundo de Apoio Institucional à Universidade de Brasília, originários da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), destinados ao desenvolvimento tecnológico e científico e ao financiamento de pesquisas.

Segundo ação movida pelo MPF, com as verbas foram comprados um carro de luxo e diversos itens de expressivo valor, como TV de plasma de 52 polegadas, móveis e duas lixeiras com pedal, avaliadas cada uma em cerca de R$ 1 mil. O MPF pediu a condenação dos dois a devolverem aos cofres públicos todos os valores gastos.

O ex-reitor contestou a ação, alegando que não praticou ato de improbidade administrativa, pois não participou da decisão que lhe cedeu o imóvel funcional. Ele afirmou ainda que a compra de utensílios para o imóvel e a aquisição do automóvel são providências inseridas no conceito de desenvolvimento institucional, previsto no Decreto 5.205/2004. A defesa de Mulholland destacou que o valor das despesas é condizente com a dimensão do imóvel funcional e que a decisão é discricionária.

O ex-decano argumentou que apenas deu execução à deliberação do Conselho Diretor da Universidade de Brasília, não havendo a configuração de dolo na sua conduta, sendo evidente a má-fé do MPF ao incluí-lo na Ação Civil Pública.

Ao julgar improcedente o pedido do MPF, o juiz Hamilton de Sá Dantas alegou que não há como enquadrar o caso na hipótese de improbidade administrativa, pois os bens adquiridos foram, desde a data de sua compra, integrados ao patrimônio da UnB. Ele destacou ainda que a verba utilizada não tem natureza pública, segundo informações da própria universidade, pois a Finatec é uma fundação de Direito Privado autônoma, sem vínculo com a UnB.

“Portanto, enquanto não houver a instituição do 'princípio da simplicidade', abolidor de toda suntuosidade inútil e desrespeitosa com a população ainda muito carente deste país, teremos que conviver com o pensamento de que o luxo promove o ‘desenvolvimento institucional’ ou é compatível com a ‘dignidade do cargo’”, afirmou o juiz na sentença. Ainda cabe recurso. Com informações da Assessoria de Imprensa da Justiça Federal do DF.

Clique aqui para ler a sentença.