Por Joaquim Onésimo Ferreira Barbosa
Os estudantes da Coreia do Sul também se submetem ao Enem. Ontem foi o dia de eles testarem seus conhecimentos e disputarem vagas nas universidades daquele País. O País parou para apoiar os estudantes. O comércio abriu mais tarde para que não houvesse congestionamento na cidade que impedisse os estudantes de chegarem aos locais das provas. O governo colocou condução a disposição dos atrasados. O Enem coreano é mesmo de primeiro mundo. O nosso caminha, quem sabe, para essa importância. Isso se os contrários deixarem que ele continue.
Segundo especialistas, o nosso Enem não deixa nada a desejar em relação aos outros. A forma de avaliação é justa. Evita a decoreba e os chutes. As habilidades que se exigem dos alunos são as que todos deveriam apresentar: ler, interpretar e raciocinar ao resolver questões. O problema é que ainda não nos acostumamos com esse tipo de avaliação. Os alunos não estão acostumados com questões que exigem habilidade de leitura. Não a leitura pela leitura. Mas a leitura, como diz Lajolo, de/do mundo também. Se o aluno se depara com questões que exigem interpretação, ele se perde.
Os textos parecem ser inimigos dos alunos. Isso porque os professores dificilmente trabalham com textos nas salas de aulas e nas avaliações. Não me refiro aqui somente aos professores de Língua portuguesa, mas aos das outras disciplinas também. Quando apresentam textos em avaliações é para o aluno achar resposta. O comando das questões já direciona o aluno a uma resposta pronta. Por conta disso, o aluno não lê, nem interpreta o texto. Ele procura resposta. O Enem quebra esse vício. Os textos apresentados nas provas do Enem exigem do aluno interpretação. Exigem atenção.
Exigem habilidade de se perceber nas entrelinhas. O Enem inova com o seu método. Mas as escolas precisam trabalhar o aluno para esse novo desafio. E trabalhar a maneira que o Enem exige dá trabalho. Requer dos professores preparo. Requer tempo. E tempo é o que falta aos professores para prepararem suas aulas. Um professor que trabalha três turnos, para ganhar um salário regular, não tem tempo para se preparar. O problema do ensino brasileiro não está nos baixos salários dos professores somente. Está, também, na falta de tempo. Professor precisa de lazer. Professor precisa de descanso. Professor tem família. E, quando ele deveria descansar, distrair, está debruçado sobre os livros, corrigindo provas, preparando aulas. O fim de semana, para os professores, não existe. Daí o estresse nas salas de aula durante a semana. Daí as aulas enfadonhas. O discurso do salário baixo soa como um pretexto. Professor precisa ganhar melhor, para não se superlotar de turmas. Um número menor de turmas e um salário melhor conduzirá o professor a preparar melhor suas aulas. A ler. A ter acesso a informações que os alunos têm. Muitos professores não sabem manusear a internet. Muitos professores vivem como se estivessem no tempo da pedra. Só conhecem giz, quadro e livro didático como recurso de aula. Não é porque lhe falta dinheiro, é porque lhe falta tempo para pesquisar. Falta-lhe tempo para buscar novos métodos para aplicar em suas aulas. O aluno aprende mais fora da escola do que dentro. Talvez, por isso, os cybers estejam lotados de alunos que fogem das aulas para se divertirem.
O Enem coreano é a continuidade do que os alunos aprendem nas aulas normais. Lá, professores ganham bem e têm tempo para acompanhar o desempenho dos alunos. Aqui, o professor ganha mal. Tem que ser pai e babá de aluno. Enfrenta salas superlotadas. E, no final das contas, tem que ouvir que o culpado pelo fracasso do ensino é ele. Não se percebe o inchaço das salas de aulas. Professores passam, num dia, por, no mínimo, doze turmas. Atendem um número de seiscentos alunos por dia. O desafio é maior na sala de aula do que fora dela. Para descansar, o professor enche o quadro de exercícios para que os alunos se entretenham. Mas com questões chatas e que não despertam interesse algum, o que se percebe é a bagunça na sala de aula. Aí acontece o que os técnicos chamam de falta de domínio de classe do professor. Não é. O aluno resolve os exercícios com rapidez, porque as questões que lhes são apresentadas são fáceis demais e, ociosos, começam a brincar na sala. E, então, ao pobre professor, só resta assistir a tudo passivamente. E torcer para que o sinal soe para que possa correr da sala de aula e se ver livre dos alunos. Essa é a verdade. As escolas públicas não têm atrativo algum para os alunos e professores. Não têm bibliotecas satisfatórias. Não têm salas de informática. Não têm auditório. Não tem. Se perguntarmos nas escolas o que há de bom para os alunos e professores, a resposta será unânime: não há nada.
As escolas precisam se adequar às propostas do Enem. Os professores precisam de tempo para isso. Se o professor dispuser de mais tempo para preparar suas aulas, certamente daremos um salto na qualidade do ensino brasileiro. O contrário, teremos alunos medíocres com professores patinando, juntos, na sala de aula tentando achar o caminho do aprendizado. Quem sabe os professores coreanos possam nos dar umas aulinhas básicas sobre como se chegar a um ensino de qualidade. O Enem não é tudo. O tudo começa nas salas de aula.
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