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sábado

Frei Betto: acusações contra MST são infundadas

O MST jamais desviou dinheiro público para realizar ocupações de terra — eis a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI), integrada por deputados federais e senadores, instaurada para apurar se havia fundamento nas acusações, orquestradas pelos senhores do latifúndio, de que os movimentos comprometidos com a reforma agrária se apoderaram de recursos oficiais.

Por Frei Betto

Em oito meses, foram convocadas 13 audiências públicas. As contas de dezenas de cooperativas de agricultores e associações de apoio à reforma agrária foram exaustivamente vasculhadas. Nada foi apurado. Segundo o relator, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), “foi uma CPMI desnecessária”.

Não tão desnecessária assim, pois provou, oficialmente, que as denúncias da bancada ruralista no Congresso são infundadas. E constatou-se que entidades e movimentos voltados à reforma fundiária desenvolvem sério trabalho de aperfeiçoamento da agricultura familiar e qualificação técnica dos agricultores.

O que os denunciantes buscavam era reaquecer a velha política — descartada pelo governo Lula — de criminalizar os movimentos sociais brasileiros. Esse tipo de terrorismo tupiniquim a história de nosso país conhece bem: Monteiro Lobato foi preso por propagar que havia petróleo no Brasil (o que prejudicou os interesses norte-americanos); foram chamados de comunistas os que defendiam a criação da Petrobras; e, de terroristas, os que lutavam contra a ditadura e pela redemocratização do país.

A comissão parlamentar significou, para quem insistiu em instaurá-la, um tiro saído pela culatra. Ficou claro para deputados e senadores bem intencionados que é preciso votar, o quanto antes, o projeto de lei que prevê a desapropriação de propriedades rurais que utilizam trabalho escravo em suas terras. E resolver, o quanto antes, a questão dos índices de produtividade da terra.

A investigação trouxe à luz não a suposta bandidagem do MST e congêneres, como acusavam os senhores do latifúndio, e sim a importância desses movimentos no atendimento à população sem terra. Eles cuidam da organização de acampamentos e assentamentos e, assim, evitam a migração que reforça, nas cidades, o cinturão de favelas e o contingente de famílias e pessoas desamparadas, sujeitas ao trabalho informal, ao alcoolismo, às drogas, à criminalidade.

Segundo Jilmar Tatto, os inimigos da reforma agrária “fizeram toda uma carga, um discurso muito raivoso, colocaram dúvidas em relação ao desvio de recursos públicos e perceberam que a montanha tinha parido um rato. Porque não havia desvio nenhum. As entidades e o governo abriram todas as suas contas. Foram transparentes e, em nenhum momento, conseguiu-se identificar um centavo de desvio de recurso público. Foram desmoralizados (os denunciantes), e resolveram se ausentar dos trabalhos da CPMI. (...) Foi um trabalho produtivo, no sentido de deixar claro que não houve desvio de recurso público para fazer ocupação de terras no Brasil. O que houve foi a oposição fazendo uma carga muito grande contra o governo e o MST”.

Os parlamentares sensíveis à questão social no Brasil se convenceram, graças ao trabalho da comissão, de que é preciso aumentar os recursos para a agricultura familiar; garantir que a legislação trabalhista seja aplicada na zona rural; e incentivar sempre mais os plantios alternativos e os alimentos orgânicos, sobre cuja qualidade nutricional não paira a desconfiança que pesa sobre os transgênicos. E, sobretudo, intensificar a reforma agrária no país, desapropriando, como exige a Constituição, as terras improdutivas.

Dados recentes mostram que, no Brasil, se ocupam 3 milhões de hectares com a lavoura de arroz e 4,3 milhões com feijão. Segundo o geógrafo Ricardo Alvarez, se compararmos com os 851 milhões de hectares que formam este colosso chamado Brasil veremos que as cifras são raquíticas. Apenas 0,85% do território nacional está ocupado com o cereal e a leguminosa. Um aumento de apenas 20% na área plantada significaria passar de 7,3 para 8,7 milhões de hectares, com forte impacto na alimentação do povo brasileiro.

Para Alvarez, o aumento da produção levaria à queda de preços, ruim para o produtor, bom para os consumidores. Caberia, então, ao governo implantar uma política de ampliação da produção de alimentos, garantir preços mínimos, forçar a ocupação da terra, combater o latifúndio, gerar empregos no campo e atacar a fome. Ação muito mais eficiente, graças aos 20% de acréscimo na área plantada, do que o assistencialismo alimentar.

O latifúndio ocupa, hoje, mais de 20 milhões de hectares com soja. No início dos anos 1990, o número beirava os 11,5 milhões. A cana-de-açúcar foi de 4,2 para 6,5 milhões de hectares no mesmo período. Arroz e feijão sofreram redução da área plantada. Hoje o brasileiro consome mais massas do que a tradicional combinação de arroz e feijão, de grande valor nutritivo.
Alvarez conclui: “Não faltam terras no Brasil, faltam políticas de distribuição delas. Não faltam empregos, falta vontade de enfrentar a terra improdutiva. Não falta comida, falta direcionar a produção para atender as necessidades básicas de nossa população”.


Fonte: Correio Braziliense

segunda-feira

Vox populi...

Venezuela: A guerra econômica às vésperas das eleições parlamentares...




A revolução venezuelana, para ser vitoriosa, deve ser levada até o final, com a expropriação dos capitalistas e latifundiários que ainda controlam dois terços da economia.

A revolução venezuelana, para ser vitoriosa, deve ser levada até o final, com a expropriação dos capitalistas e latifundiários que ainda controlam dois terços da economia. Este controle é uma alavanca poderosa em suas mãos e que estão utilizando para organizar a sabotagem econômica para minar o governo. A direita, a quinta coluna reformista dentro do movimento bolivariano, está tratando de frear a revolução. É aí que mora o perigo.


As próximas eleições à Assembléia Nacional, previstas para 26 de setembro, representam um sério desafio para o futuro da Revolução Bolivariana. Nesses meses que antecedem as eleições, a Venezuela passou a viver uma situação muito volátil. A contra-revolução está em ofensiva, utilizando seu poder econômico para sabotar e açambarcar a fim de provocar escassez de alimentos.

Por seu lado, o governo está tratando de resolver alguns dos problemas, mas as medidas que adotou são tímidas e não vão ao cerne do problema. Uma grande parte do problema enfrentado pela Revolução é o grande e generalizado ressentimento popular contra a burocracia chavista – aqueles elementos que se uniram ao Movimento, não para lutar pelo socialismo, mas para fazer carreira, obter contratos lucrativos do governo ou postos de trabalho no Estado ou no partido. Este estrato, que se está tornando cada vez mais poderoso, representa a verdadeira quinta coluna da burguesia dentro da Revolução. E seus tentáculos chegam muito longe, no governo e no PSUV.

Há alguns meses, em abril, uma multidão de dignitários da América Latina chegou a Caracas, onde dominaram os meios de comunicação durante vários dias. Houve numerosos e longos discursos recordando os logros de Bolívar e a liberação da América Latina do jugo colonial. Mas às pessoas também lhes foi lembrado que a verdadeira independência deste grande continente ainda está por ser conquistada.

Nos últimos meses, o presidente Chávez insistiu repetidas vezes que não pode haver qualquer solução para os problemas dos povos da América Latina sob o capitalismo e que a única alternativa da raça humana é o socialismo ou a barbárie. A manifestação de 13 de abril deu ocasião para uma impressionante exibição da Milícia do Povo: operários, camponeses e estudantes armados.

No congresso de fechamento do PSUV, milhares de chavistas com suas camisas vermelhas gritavam Viva Chávez! E Viva a Revolução! Mas, sob a superfície existe um profundo sentimento de mal estar. Por trás dos discursos oficiais, as bases do PSUV estão expressando uma preocupação séria pela forma como vão as coisas e o que se depara no futuro.

Uma ativista bolivariana, Mônica, expressou sua preocupação:

“Quando vi a todos os milicianos e milicianas marchando no dia 13, enchi-me de orgulho. Mas há um problema. O número de bolivarianos nas ruas foi menor que em anos anteriores. Temo que estes desfiles estejam desviando a atenção das questões políticas, para longe dos problemas que preocupam as pessoas comuns”.


E confessou:

“Nós, os bolivarianos, estamos perdendo a batalha junto à população. Atualmente, os contra-revolucionários podem gritar contra Chávez nas paradas de ônibus e estações de metrô e ninguém lhes responde. Os chavistas estão cabisbaixos. Estamos na defensiva”.


Outro ativista chavista, Gustavo, comentou amargurado:

“O ambiente nos bairros pobres é muito ruim. No passado, as pessoas brigavam para subir nos ônibus para ir aos nossos comícios. Agora, ninguém mais quer ir. Alguns, inclusive, dizem: se me pagas, irei. Dizem que há um monte de dinheiro neste país... para alguns!”.


Como conseqüência disto, o resultado da próxima eleição é difícil de ser previsto. Muitas coisas podem acontecer nos próximos meses. Mas uma coisa está clara: não será fácil para os candidatos do PSUV. A vanguarda do PSUV e do movimento bolivariano vêm com crescente alarma que a contra-revolução está minando a revolução e que se prepara para um novo desafio para destituir Chávez de seu cargo.


PDVAL – o câncer da corrupção

Qual é a origem do problema? É o fato de que, onze anos depois de que Chávez chegou ao poder, a Revolução ainda não foi realizada até o final. O presidente admitiu honestamente que a Venezuela continua sendo um Estado capitalista. As esferas mais importantes da economia continuam em mãos privadas. A maior parte da terra está nas mãos dos latifundiários, enquanto que cerca de 70% dos alimentos são importados (apesar de a Venezuela ser um país agrícola fértil).

Isto contribuiu para exacerbar o problema da inflação (atualmente, uma das taxas mais altas na América Latina). A distribuição de alimentos continua nas mãos dos grandes supermercados e dos monopólios de alimentos, freqüentemente de propriedade de grandes consórcios estrangeiros. A fraude e a corrupção florescem neste setor e em outros.

Apesar de todos os esforços do governo, é freqüente e recorrente a escassez de determinados produtos alimentícios. Vimos o mesmo às vésperas do referendo constitucional (que o governo perdeu como resultado da alta abstenção). Esta é a clara evidência de uma campanha deliberada de sabotagem organizada pelas grandes empresas para desestabilizar o país e espalhar a desmoralização no período prévio às eleições de setembro.

Estes problemas são inseparáveis do problema da burocracia e da corrupção. O papel da burocracia é o de paralisar o avanço da Revolução, sabotar as leis progressistas e cancelar as iniciativas do presidente. A burocracia constitui a ala direita bolivariana, que se opõe obstinadamente às medidas revolucionárias, como a nacionalização e o controle operário. Em muitos casos, esta sabotagem já teve efeitos muito prejudiciais. Em nenhuma outra esfera isto é mais claro que no delicado setor de alimentação.

Um exemplo disso foi o recente escândalo na empresa estatal de alimentos PDVAL, que distribui mais de mil toneladas diárias de alimentos na Venezuela. No final de maio, o serviço de inteligência da Venezuela encontrou uma reserva secreta de 2.334 contêineres de alimentos, que haviam sido ocultos por alguns administradores corruptos da empresa. Como resultado, o ex-presidente de PDVAL, Luís Pulido, foi detido por corrupção e roubo.

Investigações posteriores indicaram que os problemas afetam muito mais que um só indivíduo. Segundo um artigo publicado em Últimas Noticias, de 09 de junho, os trabalhadores de PDVAL entregaram um informe a Chávez que revela como uma máfia organizada está operando na empresa de alimentos de propriedade do Estado.

O informe assinala que 12 altos dirigentes haviam organizado uma rede gangster que sistematicamente açambarcava os contêineres e os escondia por um tempo, até que superavam seu prazo de validade; então, eram vendidos no mercado negro e, logo, se faziam novos pedidos de contêineres através de PDVAL. Todos os que se atreveram a opor-se foram silenciados com ameaças de morte. Heartfriend Peña, um trabalhador que havia denunciado a existência de mais de 400 contêineres acumulados, foi despedido imediatamente pelos administradores corruptos.

A oposição de direita tratou de “provar” que o assunto de PDVAL revela que a própria revolução é um projeto fracassado. Por outro lado, os trabalhadores do setor estatal manifestaram-se para mostrar seu apoio aos programas alimentícios do governo.

O caso de PDVAL revela que é impossível construir uma sociedade nova, socialista, se o velho Estado burguês ainda permanece intacto. Sem o controle democrático da classe operária, é impossível evitar a corrupção e a burocracia. A corrupção é o câncer que está destruindo a revolução a partir de dentro. Se a revolução não destruir a burocracia, a burocracia irá destruir a revolução.


A direita chavista

A burocracia – esses agentes da burguesia com camisas vermelhas – está conduzindo uma cruenta guerra de desgaste contra os chavistas de esquerda. Usam de listas negras para impedir que os indivíduos verdadeiramente revolucionários tenham acesso ao presidente. Propagam mentiras e rumores contra a ala esquerda do PSUV, acusando-a de contra-revolucionária!

A ordem do dia para estes elementos é: disciplina! Com isto, querem dizer que os ministros devem fazer o que a burocracia lhes disser que façam! Antes que um ministro possa fazer algo, a ele ou a ela lhe dizem: primeiro, deve consultar a este ou àquele, para obter a aprovação. Mas este e aquele nunca vão aprovar medidas progressistas ou revolucionárias. Desta forma, a Revolução está sendo paralisada.

Quando algum ministro se nega obstinadamente a seguir a linha, ele ou ela pode ser marginalizado ou eliminado. O caso mais escandaloso foi a recente remoção de Eduardo Samán, o ministro mais popular no governo, que havia prestado seu apoio ativo às ocupações de fábricas e às nacionalizações.

Samán era muito popular com as pessoas simples, mas muito impopular com a burguesia e a quinta coluna, porque exigia o monopólio estatal do comércio exterior, uma medida absolutamente correta e necessária numa economia socialista. Ele também se ocupava do que era praticamente uma cruzada de um só homem para manter baixos os preços dos produtos alimentícios básicos. O homem que o substituiu imediatamente aumentou o preço de toda uma série de produtos alimentícios básicos e suprimiu os controles de preços dos produtos básicos que Samán havia mantido em seu lugar. Esta não é a melhor maneira de se ganhar o apoio das massas chavistas e, ainda mais, em ano eleitoral!

Algumas empresas supostamente implicadas no setor alimentício fazem fortunas especulando em dólares e em bolívares, e praticamente nada produzem. Inclusive algumas das nacionalizações realizadas são discutíveis. Em muitos casos, a burocracia destruiu o controle operário e recolocou os velhos administradores. Em outros casos, os antigos donos continuam administrando as empresas. Em outros, a única coisa que mudou foram as etiquetas das latas de café, e assim sucessivamente.

Contrastando com tudo isto, está o caso da fábrica La Gaviota, que produz sardinhas e que foi nacionalizada e opera com êxito sob controle operário. O problema é que casos como este são a exceção e não a regra.


É necessário completar a revolução

Em sua clássica análise da revolução espanhola, o marxista norte-americano Felix Morrow relata uma conversa típica entre um miliciano e um camponês pobre durante a guerra civil. O primeiro trata de convencer o segundo sobre a necessidade de defender a República Espanhola. Este último responde com uma pergunta simples e direta: “Que nos deu de comer a república?”.

Este episódio tem um profundo significado atualmente para a Venezuela. Não basta ter boas intenções ou defender o socialismo como um ideal. Para as massas pobres, o socialismo deve significar pão, manteiga e leite. Deve significar o final dos altos índices de delinqüência, o final dos aumentos de preços e o final da pobreza completamente.

Enquanto alguns funcionários e ministros do governo estão ocupados fazendo longos discursos sobre “democracia popular”, o inimigo está se referindo aos problemas reais, como a inflação, a escassez de alimentos e o índice de criminalidade. Naturalmente, a corrupta oposição venezuelana (que é financiada pelo imperialismo dos EUA) faz isto de forma cinicamente proposital e com o único objetivo de minar a revolução. No caso de voltarem ao poder, poderemos estar seguros de que as coisas serão muito pior, da mesma forma que as coisas se tornaram muito pior para os trabalhadores e camponeses espanhóis depois da vitória de Franco do que antes, durante a República.

Contudo, é particularmente perigoso neste momento tratar de evadir os problemas reais. Alguns setores reformistas, tanto na Venezuela quanto internacionalmente, trataram de negar os problemas sociais e econômicos do país, tratando-os como simples “propaganda da oposição”. Mas ao negarmos o que é evidente para todos, tornamo-nos cada vez mais distanciados do sentimento das massas, que sofrem os efeitos da crise econômica em sua vida cotidiana.

A necessidade de se completar a revolução é mais urgente que nunca. Incrivelmente, depois de mais de dez anos de revolução, apesar da irresolução, a situação continua sendo favorável. Chávez poderia utilizar sua maioria no Parlamento para aprovar uma lei que permitisse nacionalizar as maiores companhias, o setor de alimentação e supermercados, os bancos e a indústria, que permanecem em mãos privadas. Isto poderia acontecer acompanhado pelo monopólio estatal do comércio externo, o que permitiria à Venezuela ter o controle total sobre a economia do país. Ademais, um decreto introduzindo o controle operário em todo o setor estatal com total segurança receberia uma resposta entusiasmada dos trabalhadores, criando comitês de fábrica em todas as empresas, como vimos de forma embrionária em Sidor e outras indústrias básicas de Guayana.

Ao avançar nestas linhas, o governo rapidamente enfrentaria com realismo os problemas da inflação, da especulação, da moradia, do açambarcamento de alimentos e da infra-estrutura. Poder-se-ia introduzir uma reforma agrária radical, cujo objetivo seria o de suprimir o predomínio do latifúndio no campo e de dar terras aos camponeses. O controle do crédito em grande escala permitiria ao Estado fornecer crédito barato aos pequenos agricultores e incentivos à produção agrícola e, dessa forma, por um fim à absurda importação massiva de produtos alimentícios.


Nacionalizar os bancos sob controle operário!

Na segunda-feira, 14 de junho, as autoridades venezuelanas anunciaram o fechamento temporário e a investigação do Banco Federal, o maior banco do país. Uma das razões era que o banco não cumprira uma lei venezuelana que estimula o investimento mínimo para fins lucrativos.

Esta medida foi tomada depois da intervenção e subseqüente nacionalização de uma série de bancos de tamanho médio em novembro do ano passado, que conduziu à fundação de um novo banco estatal, o Banco Bicentenário. Isto significa que o setor estatal agora possui entre 20-25% do sistema financeiro.

Embora estas nacionalizações representem um passo a frente, há que se assinalar que os capitalistas do setor financeiro da Venezuela (vários deles multinacionais) continuam tendo liberdade para sugar uma enorme riqueza do país. Um artigo da revista financeira burguesa Reporte – Diário da Economia (de 05/02/2010) revelou que haviam obtido 2,615 bilhões de dólares americanos de lucros em 2009. 86% desse valor vieram da cobrança de comissões. Esta é uma cifra grotesca, tendo em consideração que milhões de venezuelanos vivem em bairros extremamente pobres, sobrevivendo com 5-10 dólares ao dia.

Além da evidente injustiça social, o que isto indica é que, depois de uma década desde o início da Revolução Bolivariana, a economia venezuelana continua sendo claramente uma economia de mercado, um fato que é inclusive admitido por funcionários do governo. De acordo com as cifras do Banco Central da Venezuela, o setor privado continua criando 70% da riqueza gerada na Venezuela.

Embora continue sendo o maior, o setor privado teve uma queda mais abrupta que a do setor público. Por exemplo, em 2009, o PIB caiu 3,3%, correspondendo a uma redução de 4,5% para o setor privado e um crescimento de 0,9% para o setor público. O PIB (em bolívares) foi de 56 bilhões de dólares, dos quais 33 bilhões foram criados pelo setor privado e 17 bilhões pelo setor público (seis bilhões foram provenientes de impostos líquidos sobre os produtos). Apesar da imprecisão, isso significaria que o setor privado representa 66% do PIB, não estando longe que a cifra real seja de 70%. Assim, o que temos na Venezuela não é socialismo, mas uma economia mista, em que predomina o elemento capitalista. Muitas coisas se deduzem deste fato.

Manter o sistema capitalista fez com que a Venezuela tenha sido duramente golpeada pela recessão mundial. O ano de 2009 terminou com o PIB do país contraído em 3,3% e o primeiro trimestre de 2010 se traduziu numa queda de 5,8%. Em 2008, o PIB cresceu 4,8%. Mas, no mesmo período, o setor privado caiu 0,1% e o setor público cresceu 16,3%. Isto significa que, na atualidade, é o setor estatal que está sustentando a economia. A razão é clara: os capitalistas não são capazes, nem estão dispostos a expandir as forças produtivas.

Nos últimos dez anos ocorreu o fechamento de quatro mil pequenas e médias empresas na Venezuela. Ao mesmo tempo, a inflação é muito alta. As cifras recentes revelam que a inflação acumulada nos primeiros quatro meses de 2010 é de 11,3%, enquanto que, no mesmo período do ano passado, era de 6,7%. Esta situação está tornando a vida cada vez mais difícil para as famílias da classe trabalhadora, porque os aumentos salariais foram a exceção e não a regra. Dessa forma, há uma queda real do poder aquisitivo dos trabalhadores venezuelanos.

A revolução deve levar em consideração esta situação e tirar as conclusões necessárias: dentro dos limites da economia de mercado não há maneira de resolver os urgentes problemas das massas. No período prévio às eleições parlamentares da Venezuela, os marxistas venezuelanos lutarão por um verdadeiro programa socialista no PSUV, junto à juventude do PSUV e na UNT. A nacionalização de INAF é a primeira vitória neste sentido e mostra como é possível ganhar-se uma luta se os métodos do marxismo estão na vanguarda.

Contudo, a nacionalização parcial não funcionará. O que se requer é uma economia socialista planificada. Com o objetivo de se por um fim ao caos, todas as alavancas dominantes da economia, incluídos os bancos, devem ser expropriadas sem indenização. E com a finalidade de erradicar o câncer da burocracia e da corrupção, é essencial que a economia e o Estado estejam nas mãos da classe trabalhadora.

Em várias ocasiões, Chávez citou o Estado e a Revolução de Lênin como uma leitura obrigatória para todos os membros do PSUV. Quais foram as condições básicas que Lênin propôs para a criação de uma democracia operária e do movimento em direção ao socialismo?

  • Eleições livres e democráticas, com direito à revogação;


  • Nenhum funcionário pode receber um salário mais alto que o de um operário qualificado;


  • Não ao exército regular ou à polícia, e sim o povo armado;


  • Pouco a pouco, todas as tarefas de administração devem ser realizadas por todos em turnos; quando todos são burocratas por turno, ninguém é burocrata.


  • Estas medidas devem ser aplicadas imediatamente na Venezuela. Esta é a única maneira de se colocar um fim à corrupção e à burocracia. Em seu discurso ante o Congresso do PSUV em abril, Chávez assinalou a crise mundial do capitalismo e, mais uma vez, enfatizou que somente o socialismo pode salvar a humanidade. Novamente citou Lênin (O Estado e a Revolução e o Imperialismo) e Marx, sublinhando o fato de que o PSUV defende a luta de classes. Já é hora de que as palavras do presidente sejam colocadas em prática!


    Como ganhar as classes médias?

    Uma das objeções fundamentais colocadas pelos reformistas ao programa socialista é a de que afastará as classes médias. Isto é completamente falso. As expropriações não estão dirigidas contra os pequenos proprietários: os donos de pequenas empresas, lojas e bares ou ao campesinato com pequenas parcelas de terra e algumas galinhas. Estão dirigidas exclusivamente aos grandes bancos e monopólios que exploram, enganam e roubam os pequenos negócios.

    O pequeno comerciante, os pequenos camponeses e as outras chamadas camadas intermediárias, que se encontram entre a classe operária e a burguesia, constituem uma classe muito heterogênea. Em suas camadas superiores estão próximas à burguesia. Os advogados prósperos, professores universitários, economistas, jornalistas e outros profissionais têm interesses na sociedade existente e estão dispostos a servir seus interesses. Seus filhos e filhas nas universidades proporcionam a ponta de lança da reação.

    Contudo, as camadas inferiores da classe média são particularmente voláteis e em constante oscilação entre a revolução e a contra-revolução. Estas camadas tendem a seguir a classe que mostra o caminho a frente. Somente podem ser ganhas mediante uma política consistente e firme. Os reformistas sempre apelam à moderação em nome de “ganhar as classes médias”. Mas a vacilação e a moderação são exatamente a forma de se perder o apoio da classe média e de entregá-la nos braços da reação.

    Os reformistas alegam ser “realistas”, mas, na prática, sua política de “moderação” é totalmente utópica, como o revela a experiência. Há um par de anos, o ex-prefeito de Caracas Metropolitana, Juan Barreto, iniciou um programa de expropriações de edifícios e terrenos não utilizados (incluídos alguns campos de golfe), que, inicialmente, teve uma muito boa acolhida dos habitantes, dos quais muitos procediam de famílias de classe média. Viram que, finalmente, o governo começava a atacar os especuladores e os estelionatários imobiliários que estão fazendo dinheiro da falta de acesso a uma moradia barata. Mas esta política foi revertida rapidamente sob a pressão dos reformistas.

    Isto alienou a classe média que estava a favor da expropriação dos ricos parasitas. A lição é clara: a classe média somente pode ser ganha se o governo, baseando-se na classe operária, adotar uma política socialista clara e mostrar coragem e determinação. Enquanto a revolução não for concluída, o pequeno comerciante sofrerá sob a ditadura dos monopólios e os pequenos camponeses sofrerão nas mãos dos latifundiários. É impossível ganhar as classes médias com medidas tímidas e meias-medidas. Somente se a revolução der passos decisivos para destruir o poder econômico da oligarquia poderá ganhar grandes seções da classe média para o lado da revolução.


    O PPT e o apelo a um chavismo “tolerante”

    À medida que a Revolução se aproxima de uma etapa crítica, inevitavelmente tende a se polarizar entre a esquerda e a direita, que representam, respectivamente, a pressão dos operários e camponeses que lutam por derrotar a burguesia e completar a revolução socialista, e a pressão da burguesia e de sua quinta coluna, lutando para derrotar e destruir a Revolução sob a falsa bandeira da “democracia” e da “tolerância”.

    Neste contexto, o PPT (Pátria Para Todos), um partido que pertencia ao bloco pró-governo, mudou de camisa e está tratando de se apresentar como uma versão do chavismo mais “tolerante” que a defendida pelo próprio Chávez. Este partido está liderado por um ex-membro do PSUV que foi governador de Lara, Henry Falcón, que entrou em conflito com Chávez entre outras coisas porque resistiu às tentativas do governo de expropriar uma área industrial em Lara que pertence ao milionário Mendoza (o dono da cadeia produtora de alimentos e bebidas Polar).

    O PPT está tentando agora (em grande parte da mesma forma que Violeta Chamorro na Nicarágua no final da década de 1980) apresentar-se como uma opção de “terceira via”, que pode abrir caminho para uma reconciliação geral sem derramamento de sangue, para um compromisso entre as classes que restaure a “normalidade” e, ao mesmo tempo, termine com as dificuldades das massas, como a inflação, a escassez de alimentos, e assim sucessivamente. Esta retórica é muito perigosa porque oculta a verdadeira face destas pessoas: a contra-revolução com máscara democrática.

    Se o governo continuar sendo incapaz de resolver muitos dos principais problemas, os apelos demagógicos à reconciliação podem ganhar enormes camadas das classes médias e inclusive de algumas camadas da população urbana pobre que estão cansadas e frustradas pela lentidão da revolução e desesperadas por encontrar uma forma de sair do atual beco sem saída. Mas, e isto é o mais importante, o prolongamento da situação atual pode dar lugar à apatia e à desmoralização entre alguns setores das massas, que poderia se refletir em alta abstenção nas próximas eleições.

    A etapa atual se caracteriza por enorme confusão. E, para resolver isto, não ajudam os pequenos partidos e grupos à margem do movimento bolivariano que se descrevem como “marxistas” e “trotskistas”, mas mostram completa incapacidade para entender a forma como se movem as massas. Um exemplo típico deste fenômeno é Orlando Chirino, um sindicalista que tem um histórico de lutas militantes com os trabalhadores têxteis de Aragua e que estava na vanguarda da criação da UNIT, a União Nacional dos Trabalhadores. Em 2007, Chirino decidiu boicotar o PSUV no referendo constitucional. Como advertimos naquele momento, agora ele é incapaz de diferenciar entre a revolução e a contra-revolução.

    Isto foi confirmado de forma notável nos últimos meses. Chirino foi promovido a uma candidatura à Assembléia Nacional na lista do PPT! Assim, o grupo “trotskista” de Chirino está entrando numa Frente Popular de partidos burgueses para atacar o governo antiimperialista de Hugo Chávez! A história conhece todo tipo de transformações! Não contente de ser candidato numa lista burguesa, Chirino está agora publicamente em oposição à nacionalização da cadeia alimentícia Polar. Como ele disse, esta seria uma “nacionalização burguesa”!

    Ao dar ao PPT uma cobertura de “esquerda” e “operária”, está objetivamente servindo aos interesses do imperialismo e da contra-revolução. Isto deve ser entendido e combatido por todos os trabalhadores militantes e sindicalistas. Aqueles que desejem derrotar a contra-revolução lutarão nas fileiras do PSUV para ganhar estas eleições como uma questão de vida ou morte para a revolução.


    Por qual etapa estamos passando?

    Os últimos onze anos da Revolução Bolivariana foram repetidamente salvos pela intervenção ativa das massas: em 2002, 2003 e, mais tarde, no Referendo Revogatório. Mas, já o Referendo Revogatório deu um sinal de alarme. A oposição não ganhou o referendo. Os chavistas o perderam. Três milhões de eleitores ficaram em casa.

    É impossível de se avaliar com precisão a correlação real de forças eleitorais. Não é provável que a oposição de direita vá ganhar muitos votos dos chavistas. Mas há o grande risco de que os partidários de Chávez simplesmente se abstenham. Segundo alguns cálculos, o núcleo duro do voto chavista poderia ser em torno de um terço, com outro terço para a oposição, e outro terço (o elemento decisivo) de eleitores chavistas, que está desiludido e pode ser que não vá votar.

    Isto poderia dar a maioria da Assembléia Nacional à Oposição. Isso seria um desastre para a Revolução. Inclusive se a oposição não obtiver uma maioria, mas conseguir uma importante votação seria um duro golpe. Uma forte presença da oposição na Assembléia dar-lhe-ia uma alavanca para minar e sabotar a legislação progressista. Ela a utilizaria para organizar manifestações massivas nas ruas e para mobilizar as massas pequeno-burguesas e estudantes de classe média como tropas de choque da contra-revolução. O perigo é real e está presente.

    A Revolução Bolivariana está passando por uma difícil etapa: difícil, mas absolutamente necessária e inevitável. Cada revolução na história passa por diferentes etapas. Sempre há uma primeira etapa – a etapa das frases democráticas, como em fevereiro de 1917 na Rússia, ou em abril de 1931 na Espanha. Uma etapa de euforia na qual as massas estão convencidas de que todos os seus problemas serão resolvidos. As coisas parecem muito simples e fáceis nessa etapa!

    Mas, logo, chega outra etapa, quando as massas começam a se dar conta de que as coisas não são nem simples nem fáceis. Vêem que as coisas não estão bem e experimentam sentimentos de decepção e desilusão. Uma camada cai na inatividade e na passividade. A contra-revolução se torna mais audaz a cada passo atrás dado pela Revolução.

    É verdade que muitos antigos ativistas se desiludiram e caíram na inatividade. Mas há outra camada mais avançada e consciente de trabalhadores e jovens, que desenvolveram uma atitude crítica e que estão abertos às conclusões mais revolucionárias. Nos últimos anos vimos como este ambiente está se desenvolvendo rapidamente na base chavista. Odeiam a burguesia e a burocracia reformista. Estão abertos às idéias do marxismo revolucionário. Isto ficou patente na excelente acolhida dada ao novo periódico marxista Luta de Classes, cujo primeiro número se esgotou quase que imediatamente.

    Os camaradas de Luta de Classes estarão nas primeiras filas da luta pela vitória do PSUV nas eleições de setembro. Nossa primeira tarefa, e mais urgente, é a de derrotar a contra-revolução. Mas será impossível derrotar a contra-revolução sem uma luta implacável contra a burocracia e a quinta coluna burguesa dentro do movimento chavista. Baseando-nos nas forças vivas da sociedade venezuelana, nos trabalhadores, nos camponeses e na juventude revolucionária, vamos levar a luta até o final. Uma coisa é absolutamente certa:A Revolução Bolivariana triunfará como uma revolução socialista ou não triunfará nunca.




    Caracas-Londres, 05 de julho de 2010.

    domingo

    O resultado do Datafolha no Estado de Pernambuco...


    Sobre a manipulação do Datafolha, o mais que se comenta na rede é sobre o resultado de Pernambuco.

    Vejamos os resultados, num espaço de 15 dias, de quatro institutos de pesquisas:

    Instituto Maurício de Nassau

    Dilma 54%
    Serra 24%

    Exata/Diário de Pernambuco

    Dilma 50%
    Serra 24%

    Vox Populi, Band. IG

    Dilma 60%
    Serra 24%

    Datafolha/TV Globo/PSDB

    Dilma 46%
    Serra 36%


    Deixando a paixão de lado, dá para acreditar no resultado do Datafolha?Nem os demotucanos fanáticos acreditam na pesquisa do Datafolha.

    As distorções da metodologia das pesquisas do Datafolha...

    O texto do Nassif que postei aqui no blog, 'Decifrando o Datafolha', demonstrou mais uma grave distorção metodológica das pesquisas do Datafolha, que é o fato de que o instituto não entrevista eleitores que não tem telefone fixo e nem celular.

    Portanto, foi descoberta mais uma manipulação das pesquisas do Datafolha. Até agora, o que sabemos é o seguinte:

    1) O Datafolha não entrevista eleitores na área rural, onde vive 15% do eleitorado brasileiro e na qual Dilma abre uma vantagem de 17 p.p. sobre Serra na mais recente pesquisa do Datafolha (Dilma 49% X 32% Serra).

    Com isso, se reduz, artificialmente, o percentual de votos de Dilma e se eleva o percentual de votos em Serra no resultado, distorcendo os números finais da pesquisa.

    2) O Datafolha não entrevista eleitores que não tenham telefone, o que resulta em que cerca de 25% a 30% dos eleitores brasileiros jamais serão entrevistados pelo instituto paulista, pois eles não possuem nem telefone fixo e nem celular.

    3) O Datafolha não inclui a informação sobre quais são os partidos políticos de cada candidato em suas pesquisas.

    Por isso sempre temos, em suas pesquisas, um percentual maior de pessoas que declaram que irão votar no 'candidato do PT', no 'Candidato do Lula' ou no próprio Lula.

    Nesta pesquisa Datafolha este índice fpi de 8%. Já no Vox Populi (que informa o partido de cada candidato) este índice é de apenas 5%, o que dá uma diferença de 37,5%, bastante elevada, portanto.

    4) O Datafolha não faz entrevistas em residências, como acontece com os demais institutos, preferindo entrevistar eleitores em locais públicos de grande movimento.

    Com isso, eleitores que raramente saem de casa dificilmente serão entrevistados pelo Datafolha.

    5) O Datafolha nunca respeita a proporção correta de eleitores com base nos aspectos da escolaridade e do nível de renda.

    Ele sempre entrevista um número maior de pessoas de maior nível de escolaridade e de maior nível de renda do que seria o correto.

    Além disso, muitas vezes, como ocorreu nesta pesquisa mais recente e em anteriores, o Datafolha também não respeita a divisão da população pelos estados e regiões do país. Frequentemente, o estado de SP tem um número muito maior de entrevistados do que seria o correto.

    Tudo isso explica porque as pesquisas do Datafolha dão resultados completamente diferentes daqueles apurados pelo Vox Populi e pelo Sensus, principalmente.

    Com relação ao Ibope, o mesmo também possui várias das discrepâncias apresentadas pelo Datafolha (como a de não informar o partido dos candidatos e de não fazer nenhuma entrevista na área rural do país) o que explica o fato de que suas pesquisas, quase sempre, dão resultados semelhantes aos do instituto da 'Folha' do Tavinho Frias Filho, que é um notório apoiador e um dos grandes sustentáculos da candidatura do tucano.

    Baseado em tudo isso, o que se pode concluir é que a metodologia das pesquisas do Datafolha está completamente errada e a credibilidade das mesmas é nenhuma.

    É mais fácil, portanto, acreditar em Cegonha, no Papai Noel, no Monstro do Lago Ness e na Maldição do Faraó do que nas pesquisas do Datafolha.

    Do blog Guerrilheiro do Entardecer, visitem este blog.

    O vice de Serra...


    O emergente da Barra, Índio da Costa, imposto pelo Demo como vice de José Serra, em pouco mais de uma semana já mostrou em que time joga. É jovem para a política, mas velho no ideário, pois está sintonizado na linguagem da Guerra Fria, que tanto mal causou ao Brasil. Resta agora saber exatamente que setores o instruíram para lançar as baboseiras que anda dizendo. Este Índio inclusive envergonha a etnia indígena, porque o seu nome associa negativamente a esse grupo que faz parte da nacionalidade brasileira. E depõe também contra o Rio de Janeiro.

    Na verdade, a cria de Cesar Maia é um exemplo concreto da mediocridade da direita brasileira, que quando se vê em momento de aperto, no caso em função da campanha eleitoral, apela para tudo, inclusive a mentira e a manipulação da informação, imaginando que com isso obterá dividendos eleitorais.

    Os argumentos levantados pelo (tiremos o índio em homenagem aos indígenas) da Costa são oriundos do manancial programático da CIA na América Latina e que Serra também encampou. Na verdade o candidato do PSDB começou com a história de narcotráfico tentando envolver o governo boliviano. Não colou, apenas demonstrou o perigo para a integração latino-americana que representa o ideário tucano.

    Associar a esquerda na América Latina com o narcotráfico, como fez da Costa em relação ao PT e as Farcs, faz parte do jogo de queimar a imagem de grupos que não aceitam o ideário da potência hegemônica. É o que fez o deputado da Costa, o que não chega a ser propriamente uma novidade. No mesmo diapasão da direita se insere o recente pronunciamento do presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro Aguirre. Este dirigente máximo da entidade que representa o patronato midiático das Américas gratuitamente destilou ódio contra o Presidente Lula, considerando-o um dos “falsos democratas” da região. Aguirre também se valeu do linguajar da Guerra Fria para atacar o Presidente brasileiro.

    Na verdade, os integrantes da SIP, responsáveis pelo jornalismo de mercado que se lê, vê e ouve na região, andam muito preocupados com ampliação dos debates sobre a mídia na região e que o Brasil começa a dar os primeiros passos, sobretudo depois da realização da I Confecom (Conferência Nacional de Comunicação).

    O setor impresso vive uma crise de graves proporções, que se manifesta com o fim de publicações seculares. No Rio de Janeiro, o exemplo mais recente foi o Jornal do Brasil, que acabou de anunciar o fim do impresso a partir de 1 de setembro próximo. Nos últimos dez ou 20 anos, antes mesmo da internet, o panorama não tem sido diferente. No ano passado, por exemplo, um jornal do município fluminense de Campos, o Monitor Campista, dos Diários Associados, fechou depois de 175 anos de existência. Com a Gazeta Mercantil em São Paulo aconteceu o mesmo e assim sucessivamente.

    Mas o senhor Aguirre não está nem aí para essas coisas e só faz criticar quando em vários países o tema mídia entra em debate e são questionadas as facilidades concedidas ao setor.

    Agora, mais do que lamúrias de sempre, o importante é aprofundar o debate sobre o tema e enfrentar a crise no setor impresso, pensar na criação de impressos que contribuam para romper com o esquema do pensamento único, cada vez mais acentuado no jornalismo de mercado. Uma das teses já surgidas e que tem por objetivo enfrentar a situação adversa é a criação de uma Fundação do Jornalismo Público, impresso. Na área audiovisual, em dezembro de 2007, foi criada a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que se consolida. É claro que a idéia enfrenta resistência exatamente nos setores conservadores alinhados com a SIP, que temem a possibilidade do contraponto. Não percam por esperar, vão usar a velha e surrada cantilena de sempre, ou seja, de que a proposta vai acarretar restrições à liberdade de imprensa, quando é exatamente o contrário que acontecerá se for incrementada.

    A discussão deve ser aprofundada. Não se pode esquecer que neste momento o Rio necessita de um jornal impresso diário, até para enfrentar a monopolização representada pelas Organizações Globo, por sinal proprietária numa mesma região de rádio, televisão e jornal, uma prática impedida de acontecer pela legislação de muitos países. Que grupo privado está disposto a criar um novo jornal concorrente de O Globo? Nenhum, em princípio.

    E porque não o Estado brasileiro impulsionar a criação de uma mídia pública impressa, sob o controle da sociedade? Nada a ver com jornalismo chapa branca, que muitas vezes quem faz é exatamente a mídia de mercado que se ajoelha para receber publicidade do Estado. Com isso se estará matando vários coelhos em uma só cajadada, ou seja, se enfrentará o pensamento único e se ampliará o mercado de trabalho. Afinal, é dever do Estado zelar para que os brasileiros tenham direito à informação, um direito humano reconhecido em fóruns internacionais, sem imposições financeiras de nenhuma espécie. E isso resultará, sem dúvida, no avanço do processo democrático.

    Em tempo: a denúncia (o certo é entre aspas) de Uribe segundo a qual a Venezuela abriga integrantes das Farcs em seu território remete às armas de destruição em massa que precederam a invasão e ocupação do Iraque. São as tais mentiras históricas que depois de “cumprida a missão” caem no esquecimento ou são simplesmente desmentidas.

    Aspas para Hugo Chávez: as Farcs deveriam procurar outro caminho, pois o da luta armada, que foi uma opção nos anos 60, não serve mais para alcançar as transformações sociais. Aí está o Presidente do Uruguai, Jose Mujica, que pegou em armas e nos tempos atuais percorreu o caminho político institucional até se eleger em novembro do ano passado, depois de passar pelo Senado e ser Ministro.

    Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação

    Dilma tem medo de que mesmo?


    Há dias que se diz que a candidata petista, Dilma Rousseff, foge de entrevistas, não comparece ou desmarca sabatinas previamente agendadas.

    Mas esta semana termina com duas participações importantes da candidata em encontros com jornalistas que não a pouparam de questões espinhosas, constrangedoras e até de provocações – todas formuladas de forma civilizada.

    Dilma compareceu ao programa 3 a 1, da TV Brasil, e não houve nada de “chapa-branca” na entrevista. Longe disso, os jornalistas que a receberam abordaram quase sempre os pontos críticos do noticiário: como o controle da imprensa, os ataques de adversários, as relações fisiológicas com aliados.

    Sem se enervar, titubear ou reagir mal, Dilma encarou com tranqüilidade surpreendente as perguntas. E, melhor: respondeu a todas. Pode-se discordar das respostas, de sua adequação ou correção. Mas não houve evasiva, da parte da petista.

    Na sabatina do R7/RecordNews, Dilma foi confrontada pela primeira vez em público com temas espinhosos: sua futura relação com os militares, a agora comprovada quebra de sigilo fiscal de Eduardo Jorge, as alianças incômodas com políticos como Collor e José Dirceu, e tantos outros temas. Outra vez, a petista encarou a briga – ou melhor, levou adiante a conversa sem perder a capacidade de dialogar e sem apresentar fragilidades de temperamento ou argumento - dos quais, volto a ressaltar, pode-se discorda, é claro.

    A semana termina com a notícia de que a candidata de Lula passou o adversário tucano em 8 pontos percentuais, segundo levantamento do Instituto Vox Populi. Até este momento, a campanha de Dilma mantém a confirmação de sua participação em todos os debates do primeiro turno a serem promovidos pelas grandes emissoras de tv. A expectativa é de que os números das pesquisas não alterem este compromisso.

    Cristina Lemos.

    sexta-feira

    O Coroné Tasso quer distância de Serra...



    O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) inaugurou o comitê de campanha em Fortaleza sem ao menos uma imagem do presidenciável tucano, José Serra. Ao ser questionado sobre falta de referência à candidatura de Serra, Tasso afirmou que a foto do candidato à Presidência será usada.

    - Fizemos isso às pressas. Não deu tempo. Mas vai ter imagem dele.

    Na casa, em um dos mais movimentados cruzamentos da cidade, um banner exibia retratos de Tasso, do candidato ao governo do Ceará, Marcos Cals, e do vice Pedro Fiuza.

    Apenas um ônibus estacionado ao lado do comitê estampava a imagem de Serra, que só foi citado no fim do discurso.

    - Essa eleição para a Presidência é muito especial: o Serra contra a Dilma.

    Candidato ao Senado, Tasso negou que tenha divergências e atritos com Serra.

    - Me acusam de não me dar bem com Serra. Politicamente, eu me entendo muito bem com ele.

    FHC e o Príncipe das Trevas...


    “Talvez o epitáfio de Fernando Henrique devesse ser ‘Príncipe das Trevas’, uma amarga ironia para quem se queria o autor do renascimento brasileiro e que algum dia foi chamado por Glauber Rocha de ‘príncipe dos sociólogos’”

    Tentando formular algumas características do atual momento político brasileiro, repasso alguns textos de Chico de Oliveira, publicados em “A Era da Indeterminação” [1], precisamente quando este diz que um dos mais instigantes paradoxos da situação brasileira é que a participação da cidadania na política aumentou extraordinariamente no Brasil nos últimos cinqüenta anos, principalmente pela ampliação do colégio eleitoral e diversificação da “oferta política”. O voto obrigatório contribuiu muito para romper o coronelismo, até em locais secularmente oligárquicos, incluindo-se o exponencial crescimento do associativismo civil. Mas é nessas condições extremamente favoráveis que ocorre a perda da representatividade.

    Uma vez que temos aqui uma democracia apenas “formal” e não “de fato e de direito”. Segundo Chico, há uma “ação anticomunicativa”, uma falta de formas, sem as quais a política não se faz. Porque existe a chamada “autonomização do mercado” - nada a ver com a autonomia cidadã da tradição liberal – mas o seu contrário. Aqui “autonomização” significa que não há regras mercantis, é o mercado para além de si, um permanente ad hoc, em que não se fixam contratos.

    Tal processo se fundamenta na financeirização dos Estados nacionais, e é igual à incerteza que se inscreve nos negócios ilícitos do narcotráfico: como as taxas de juros já não dependem do movimento interno de capitais, o movimento financeiro, que se transporta para o Estado e a produção, dança diariamente e somente os especuladores correm o risco. Não há mais parâmetros criados pela experiência: não há mais acumulação de experiências. Daí a financeirização freqüentemente redundar em estagnação da produção material e destruição do aparato produtivo – que na periferia tem assumido os tons mais dramáticos.

    É interessante notar que Chico faz um balanço dos dois mandatos de FHC, sobretudo o último: “Em termos macroeconômicos, o permanente ad hoc requer a violência estatal permanentemente, a “exceção permanente” – que poderia sugerir que o monopólio legal da violência foi reconquistado pelo Estado. Longe disso: a violência permanente também significa que o Estado é ad hoc. A governabilidade é lograda graças ao uso permanente de medidas provisórias e a arquitetura das privatizações requer injeções de recursos públicos em larga escala para sustentar a reprodução do capital, a julgar pelo crescimento exponencial da dívida pública interna e externa e seus pesos no PIB.”

    “A indústria elétrica privatizada, com o racionamento que se impôs para evitar o apagão geral, deixou de lucrar nos termos previstos na privatização e cobrou do Estado aquilo que a dança-de-são-guido do mercado não pode assegurar: a realização do valor. Os custos do racionamento estão sendo pagos pelos consumidores, que racionaram – helas! – seu consumo de energia elétrica, por meio duma alíquota específica nas contas de luz outorgada por medida provisória do presidente!”

    “O Congresso leva meses para – com enorme custo e utilização dos recursos políticos do típico presidencialismo imperial brasileiro – votar um orçamento: uma penada do Banco Central, para vender títulos com correção cambial e enfrentar ondas especulativas que se repetem como norma no período, e leva à explosão da dívida pública interna. Talvez o epitáfio do presidente FHC pudesse ser ‘Príncipe das Trevas’, uma amarga ironia para quem se queria o autor do renascimento brasileiro e que algum dia foi chamado por Glauber Rocha de ‘príncipe dos sociólogos”.

    Para além da tomada de consciência sobre as desigualdades abissais, nas dobras da crítica ao Estado como “mau gerente”, há a privatização das políticas sociais, a “desuniversalização”, a “filantropização da pobreza”. O aumento do associativismo civil no Brasil que tem, virtualmente, capacidade para fornecer as bases para um novo pacto ou contrato social para uma nova hegemonia, com o deslocamento do trabalho e das relações de classes, esvazia essa “sociedade civil” do conflito que estrutura alianças, opções e estratégias. Porque essa “sociedade civil” fica restrita aos arranjos locais e localizados, enquanto as operações da política se tornam “reserva de caça” das grandes empresas e do mercado.

    E Chico conclui: “E todos os programas dos partidos são parecidíssimos porque todos estão pautados pela herança do desastre do neoliberalismo de FHC, e todos buscam representar o irrepresentável: a burguesia nacional, que já não manda; o capital financeiro, que é o obstáculo para o desenvolvimento e que já se desligou de qualquer representação de classe e cujos interesses promovem a exclusão; a classe trabalhadora cujos recursos políticos foram terrivelmente danificados no período neoliberal. A educação e a cultura são transformadas em territórios não-conflitivos, esquecendo-se, novamente, Walter Benjamin, pois cultura e barbárie sempre andaram juntas”.

    E nem precisa ir muito longe, nem muito fundo, é só vocês conferirem aí do lado as colunas do Mirisola, velho de guerra.

    [1] São Paulo, Boitempo, 2007.


    Márcia Denser, Congresso Em Foco

    Eleições 2010: Por um debate elevado...


    A pouco mais de dois meses para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2010, reitero minha expectativa de que, acima de tudo, nesse processo de reflexão sobre os rumos do nosso Brasil, prevaleça um debate sério, profundo e exclusivamente voltado à discussão programática. Porque essa é a melhor forma de os candidatos se submeterem de fato ao julgamento de cada brasileiro, fazendo das eleições o verdadeiro ápice da democracia.

    Mas tem me preocupado dois movimentos paralelos, e intercalados, que tenho presenciado. O primeiro é o rebaixamento do nível do debate eleitoral pela oposição. O segundo é o de preparar o terreno para jogar a decisão das urnas nas mãos do Judiciário. Ambos representam riscos à democracia.

    A oposição demo-tucana, que José Serra como candidato, tem se desviado do caminho do bom debate. A escolha por baixar o nível está evidente nas falsas denúncias, nas acusações levianas e nos discursos tomados pelo tom de medo e terror. Entre as afirmações estapafúrdias está o cúmulo de dizer que a candidata Dilma Rousseff está doente. Mas há também artilharia contra o PT, vítima de acusação, sem base ou fundamento, de ter ligação com as Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o narcotráfico.

    Toda eleição usam desse mesmo expediente quando estão em desvantagem nas pesquisas: acusam o PT para tentar transformá-lo no “partido mau”. Acontece que as pessoas já conhecem o PT e sabem como tem sido o Governo Lula. E isso faz a diferença, porque o discurso do medo não encontra mais respaldo na sociedade: as pessoas querem debater propostas e como fazer para continuar mudando o Brasil.

    Aí reside o problema da oposição. O eleitor está confrontando Lula com FHC, Serra com Dilma. E está vendo que Dilma é melhor opção, que tem as melhores propostas e que reúne as condições para seguir o trabalho iniciado no Governo Lula. Sem propostas e adotando uma campanha de acusações sem provas, a oposição acirra ainda mais esse processo e passa a atacar mais e mais. Foge do debate programático.

    Assumindo de vez que a campanha de Serra não tem saída, a oposição passa a apelar para os escândalos e a baixaria, ficando sem saber como enfrentar a popularidade do presidente e do governo. A perspectiva de derrota parece ter levado a um caminho sem volta: preparar uma campanha de baixo nível e tentar virar o jogo no tapetão.

    Nessa estratégia, acusam o presidente Lula de usar a máquina pública para fazer campanha para Dilma. E a base dessa acusação é Lula declarar que vota em Dilma porque ela teve participação decisiva em seu governo, ao lançar programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, o “Luz para Todos” e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), além de coordenar iniciativas como o Bolsa Família.

    Ora, mas isso é a verdade! Então o presidente Lula não pode dizer em quem irá votar e por quê? Então quando o governo é bom a população não tem o direito de saber quais as pessoas que dele participaram? Isso, sim, é um verdadeiro ataque à democracia e ao direito de informação.

    É preciso que a oposição dê início a um freio de arrumação em sua campanha, para elevar o debate e deixar de lado o discurso do medo, do terror e das ofensas. É assim que se constrói uma eleição limpa, pois não deixaremos sem resposta as calúnias que nos tem sido dirigidas.

    Judicializar a campanha não é o caminho. Porque o povo brasileiro, a democracia e o bom ambiente político nacional exigem que a decisão das urnas seja respeitada.

    José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil

    Serra, PIG e os vendidos partiram para a baixaria...


    A FHCsista, Serrista e indista Dora Kramer deve estar ganhando muito bem da coordenação da campanha tucana para escrever o lixo a seguir reproduzido.Kramer só não tem, aliás, como atua todo jornalista covarde, picareta, pau-mandado, vagabundo, venal, coragem de dizer que é eleitora de Serra e do Índio larápio de merenda.Não tem preço ver a sabuja engolir 8 anos de Dilma Rousseff e mais 8 de Lula da Silva.

    Ladeira abaixo

    Dora Kramer


    O Estado de S. Paulo - 23/07/2010


    O PT é assim: bate como gente grande, mas quer ser tratado com carinhos reservados aos pequenos.

    Quando apanha, se diz vítima da injustiça, do preconceito, do udenismo, do conservadorismo, do moralismo, dos conspiradores, dos golpistas, das elites e de quem ou do que mais se prestar ao papel de algoz na representação do bem contra o mal, do fraco contra o forte que o partido encena há anos.

    Sempre no papel de mocinho, evidentemente, embora desde que assumiu o poder tenha mostrado especial predileção pela parte do roteiro que cabe ao bandido.

    Luiz Inácio da Silva é mestre nessa arte, exercitada ao longo de quatro candidaturas presidenciais e muito aprimorada nestes quase oito anos de Presidência da República.

    Tanto que ao longo desse tempo se consolidou na política uma linha de pensamento segundo a qual o contra-ataque significa insidiosa radicalização que só pode render malefícios aos seus autores.

    Em miúdos: o adversário tem de apanhar calado; se ousar se defender pagará o atrevimento com a condenação geral e consequentemente com a derrota político-eleitoral.

    Por essa lei a oposição teria de assistir quieta ao presidente usar dois anos de seu mandato como cabo eleitoral, sem "judicializar" a política com ações por campanha eleitoral antecipada.

    Deveriam todos ouvir calados os desaforos que sua excelência diz contra quem bem entende quando contrariado, o que, na concepção dele, significa afrontado.

    A Justiça, acionada pelo adversário, deveria atribuir tudo "à guerra eleitoral" e ignorar a existência de leis só porque ao juízo do partido no poder essas leis são retrógradas e atrapalham a marcha do espetáculo do crescimento da hegemonia política, social, ideológica e até cultural do PT e adjacências.

    Pela norma referida acima a oposição deveria se comportar com toda a fidalguia durante o processo eleitoral, aceitando como verdadeiras todas as aleivosias do adversário.

    Como se já não bastasse o tempo que a oposição deixou que o presidente eleito para "mudar" se apropriasse de todas as suas obras para governar e ainda as tachasse de "herança maldita" para efeito de se manter sempre na investidura do "bem".

    Pois chegou a campanha eleitoral e a oposição resolveu enfrentar Lula. Pagou para ver se é perigoso mesmo dar o troco na mesma moeda: dizer umas meias-verdades por aí, carimbar umas perfídias na testa do adversário, manipular emoções do eleitorado, manejar ideias preconcebidas, despertar instintos adormecidos, jogar duro e, quando necessário, baixo.

    Como quem tivesse desistido de andar na linha num embate onde o outro lado não preserva escrúpulos.

    Se será beneficiada ou se isso lhe renderá malefício, é o eleitor quem dirá.

    Agora, o que não soa verossímil é a versão da candidata Dilma Rousseff de que está "assustada" com as reações do adversário José Serra e que por nada neste mundo alguém a fará "baixar o nível".

    Quanta delicadeza e civilidade.

    Ao que se sabe Dilma Rousseff não se assusta com nada. Enfrenta a tudo e a todos, ironiza os "homens meigos" que lhe criticam os modos bruscos no trato cotidiano, reivindica para si a responsabilidade de coordenar todas as ações de governo e leva um susto com palavras mais duras?

    No quesito "nível" não parece que haja nada mais baixo que um presidente da República que desacata as leis e a Constituição e fala palavrões em público.

    Evidente que a cena do candidato a vice de José Serra provocando o adversário para que "explique" suas ligações com o narcotráfico, o Comando Vermelho e as guerrilhas colombianas não é edificante.

    Muito melhor que no lugar disso Serra e Dilma estivessem dizendo ao País como é mesmo que pretendem dar combate à bandidagem e levar segurança ao público.

    Justiça seja feita ao tucano, começou a campanha todo lhano, atribuindo até ao presidente atributos de divindade acima do bem e do mal.

    Mas Lula não aceitou a esgrima como forma de luta. Preferiu a força bruta do vale-tudo. Deu o tom, definiu as armas e, portanto, não estão, nem ele nem o PT nem a candidata, na posse de autoridade moral para reclamar.

    Vox/Band/iG: Dilma 41%, Serra 33%...

    Eis aí o motivo que tem deixado Serra nervoso.A sorte de Serra é que existe o Datafolha para sustentar a sua candidatura.Mas não adianta manipular, ninguém mais acredita no DataSerra. José Serra já era.

    Pesquisa Vox Populi/Band/iG, a primeira feita após a oficialização das candidaturas, mostra petista 8 pontos à frente do tucano

    iG

    A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, lidera a disputa presidencial deste ano e aparece com 8 pontos de vantagem sobre o rival José Serra (PSDB) tanto no primeiro como no segundo turno, aponta pesquisa Vox Populi/Band/iG divulgada nesta sexta-feira. Dilma tem 41% das intenções de voto, enquanto Serra tem 33% e Marina Silva (PV) 8%. Segundo o Vox Populi, José Maria Eymael (PSDC) tem 1%.

    Os outros cinco candidatos não pontuaram. Os votos brancos e nulos somam 4% e 13% dos entrevistados estão indecisos. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos. Esta é a primeira pesquisa nacional divulgada depois da oficialização das nove candidaturas à Presidência.

    Na sondagem anterior, divulgada no dia 29 de junho e que incluía 11 nomes, Dilma tinha 40% contra 35% de Serra e 8% de Marina. Os brancos e nulos eram 5% e os indecisos 11%. A diferença entre a petista e o tucano subiu de cinco para oito pontos. Segundo o Vox Populi, Dilma venceria Serra em um possível segundo turno por 46% a 38%. Na pesquisa espontânea, a petista tem 28%, Serra 21% e Marina 4%.

    Embora não seja candidato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece com 4% e o candidato indicado por ele com 1%.

    A ex-ministra da Casa Civil tem seu melhor desempenho na região Nordeste, onde chega a 54% contra 24% de Serra e 5% de Marina. O ex-governador de São Paulo vai melhor na região Sul, onde tem 39% contra 35% da petista e 7% de Marina. Ele também está na frente na região Sudeste, com 36% contra 34% de Dilma e 10% de Marina.

    A petista lidera tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Ela tem 43% das intenções do eleitorado masculino contra 34% de Serra e 7% de Marina. No eleitorado feminino, Dilma tem 38%, Serra 32% e Marina 9%. A ex-ministra é a preferida em todas as faixas e níveis de ensino.

    Quanto à renda familiar, Serra está na frente, dentro da margem de erro, entre os que ganham mais de cinco salários mínimos com 37% a 36% de Dilma e 11% de Marina. A petista tem o menor índice de rejeição, 17%, contra 24% de Serra e 20% da senadora do PV. O Vox Populi ouviu 3.000 eleitores entre os dias 17 e 20 de julho. A pesquisa foi registrada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 19.920/10

    quinta-feira

    Programa de governo tucano: a trajetória de uma farsa...


    Osvaldo Bertolino

    O ano de 1993 ficou marcado por um triste acontecimento para o país: a nomeação de FHC para o cargo de ministro da Fazenda. O presidente, Itamar Franco, estava sob pressão da direita, que exigia a aplicação do programa econômico do ex-presidente Collor. FHC caiu como uma luva. Já em 1991, quando a crise batia à porta do Palácio do Planalto, um setor do tucanato capitaneado por ele defendeu a incorporação do partido ao governo. A manobra foi combatida pelo senador Mário Covas — o que não impediu, mais tarde, que FHC fosse o principal executor de uma espécie de golpe branco contra o presidente Itamar Franco ao comandar o processo de transição da economia para a ”estabilidade”.

    Sua posse foi saudada por entidades patronais com expressões como “bela tacada de Itamar Franco”, “craque nota dez” e “arauto da modernidade”. Até o secretário de Estado norte-americano, Warrem Cristopher, ligou para parabenizar o novo ministro da Fazenda. FHC chegou dizendo que “precisamos botar a casa em ordem”. “Isso não significa intervenção no mercado”, ressaltou. Estava dada a senha. Ele afirmou que não reduziria os juros, que não alteraria o Programa Nacional de Desestatização (FHC manteve o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES — como comitê de administração das privatizações até os últimos dias de seu governo, em 31 de dezembro de 2002) herdado de Collor e que lutaria pela “estabilidade”. “Nossa prioridade é o combate à inflação, sem matar o povo de fome”, declarou.

    FHC tomou posse prometendo “ordenar as finanças públicas e controlar o endividamento de Estados e municípios”. Eram as mesmas palavras de Collor — só que num tom mais ameno. Dias terríveis aguardavam a nação. A “arrumação da casa” começou com o chamado “Plano Verdade”, que consistia basicamente em arrochar investimentos públicos. A primeira investida de FHC contra os trabalhadores foi a ferrenha oposição à lei salarial aprovada pelo Congresso Nacional. Para ele, o reajuste mensal era uma “esquisitice que serve de âncora para a taxa de inflação”. Ele agregou em sua pasta figuras notórias do conservadorismo econômico brasileiro — classificadas por ele como “notáveis” — e promoveu um festival de arbitrariedades assim que a poeira da posse abaixou.

    Projeto liberal

    Em 1994, FHC seria o principal personagem do país. Já em janeiro, ele ocupou a televisão para pressionar o Congresso Nacional a aprovar seu programa econômico e iniciar a sua indisfarçável campanha à Presidência da República. Com suas manobras, conseguiu aprovar o Fundo Social de Emergência (na prática, uma desvinculação parcial de recursos da área social para criar uma reserva monetária que serviria de garantia à “estabilização”). Era o embrião do superávit primário. Depois o nome do mecanismo passou a ser Fundo de Estabilização Fiscal e hoje se chama Desvinculação das Receitas da União (DRU), a reformulação do Orçamento e a criação da Unidade Real de Valor (URV).

    FHC começava a dar forma ao seu programa de governo. Pela primeira vez, desde a revolução comandada por Getúlio Vargas em 1930, o projeto liberal no Brasil começava a ter sujeito, predicado e objeto direto. Era a hora de aproveitar o vácuo deixado pela reviravolta no cenário mundial (no final dos anos 80 e início dos anos 90 a experiência socialista no Leste Europeu se esfarinhou e o projeto social-democrata, na Europa Ocidental, deu seus primeiros sinais de fraqueza). E, para ajudar, existiam os trilhos políticos adequados, construídos pelo regime militar. Aí foi só encaixar a figura de FHC, cuidadosamente esculpida, para assumir a direção daquele processo.

    A reação dos trabalhadores não tardou. Em fevereiro de 1994, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) chamou outras centrais sindicais para preparar uma greve geral. As perdas, com a conversão dos salários pela média da URV, chegavam a 36%. Enquanto isso, FHC dizia que não precisava de regras para a conversão dos preços porque o próprio mercado se incumbiria de conter os abusos. Seu plano só atingia os salários. Greves e manifestações começaram a pipocar pelo país. No dia 1º de março, a CUT definiu um plano de lutas contra o arrocho salarial. Em conjunto com as CGTs e a Força Sindical, os cutistas programaram a data de 16 de março como Dia Nacional de Lutas Contra o Arrocho da URV.

    Voz isolada do presidente

    No dia 23 de março, os protestos se repetiram. Greves, carreatas e bloqueio de rodovias deram o tom das manifestações. Por todo o país, o panorama foi o mesmo, com dezenas de categorias realizando greves. Em Brasília, mais de 3 mil policiais cercaram o Ministério da Fazenda para proteger FHC da fúria popular. Os protestos continuaram em atividades de campanhas salariais das categorias com data base em maio. Aquelas manifestações mostraram o tamanho do comprometimento da “grande imprensa” com o projeto de FHC. Os programas de rádio convidavam parlamentares de direita, palpiteiros desqualificados e “especialistas em direito trabalhista” para engrossar a baixaria. Os jornais circularam com manchetes agressivas e editoriais que cheiravam a fascismo. Foi um massacre.

    FHC lançara o Plano Real e deixou o Ministério da Fazenda para oficializar sua candidatura à Presidência da República. O trator neoliberal não poupava ninguém. Nem o presidente da República, Itamar Franco, que ousou opinar sobre algumas medidas anunciadas pela equipe econômica. A “grande imprensa” o atacou violentamente quando ele disse que o Congresso Nacional deveria regulamentar o artigo da Constituição que determina o limite de 12% ao ano para a taxa de juros — antevendo o estrago que a turma de FHC promoveria.

    O presidente, no entanto, já era quase uma voz isolada no país. Mas logo se veria que sua preocupação tinha razão de ser — no primeiro dia útil do Real, a taxa de juros, puxada pelo Banco Central (BC), disparou, chegando aos 12%. Desde então, nunca mais o país viu juros abaixo deste patamar. Um ano depois, já estava em 60%. O próximo passo seria a investida contra o Estado — abrangendo a União, os Estados e municípios. O estrago que a confraria neoliberal promoveria no país estava apenas começando.

    "Área política" do DEM aprova candidatura de estelionatário...



    Dono declarado do sexto maior patrimônio entre os candidatos a deputado federal nas eleições deste ano, Selmo Santos (DEM-SP)registrou sua candidatura de dentro da cadeia. O postulante a uma vaga na Câmara está preso preventivamente por estelionato desde 27 de janeiro no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, em São Paulo.


    Ele foi preso por agentes do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), que cumpriram mandado de prisão expedido pela 24ª Vara Criminal de São Paulo, onde Santos responde a processo por estelionato.

    Dois meses depois, foi condenado, também por estelionato, em outro processo. Ele também responde por falsidade ideológica na Justiça Federal e, em 2004, já havia sido preso por tráfico de drogas, mas sem condenação.

    Como revelou a Folha ontem, Santos declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 91,6 milhões, mas mora num casebre numa região de periferia, na zona leste da capital paulista.

    Entre seus bens está uma participação de R$ 80 milhões em uma universidade que existe apenas no papel.

    Apesar do histórico e do fato de estar atrás das grades, ele não pode ser impugnado com base na Lei da Ficha Limpa porque não há sentença com trânsito em julgado (sem possibilidade de recurso) ou condenação por decisão colegiada. Mesmo o fato de ter registrado sua candidatura preso não é ilegal.

    Mesmo preso, sua candidatura foi aprovada, junto com a de outros 30 postulantes, pelo diretório regional do DEM em São Paulo.

    Segundo o partido, a candidatura foi indicada pela "área política" do diretório. O DEM analisa sua expulsão.

    Gravação na cadeia

    Seu advogado, André Luiz Stival, afirma que, caso seu cliente não seja libertado até o início da propaganda eleitoral em rádio e TV, tentará gravar, de dentro da cadeia, a participação de Santos no horário reservado ao DEM.

    Anteontem, Stival foi reticente em relação ao patrimônio de seu cliente. Ontem, afirmou que os R$ 80 milhões de capital da Unilma (Centro Universitário Livre do Meio Ambiente) têm lastro em "imóveis, aplicações financeiras e doações".

    A Folha apurou que a Polícia Civil de São Paulo começou a investigar Selmo Santos no ano passado e que, após encontrar indícios de lavagem de dinheiro envolvendo a Unilma, acionou a Polícia Federal.

    A Procuradoria Regional Eleitoral informou que analisará as candidaturas registradas pelo DEM a partir de amanhã, quando será publicado o edital com os candidatos da coligação. O caso de Selmo Santos, segundo o procurador regional Pedro Barbosa Pereira Neto, será "examinado com cuidado".

    Fonte: Folha Online

    Dilma: diplomacia não pode ser baseada em opiniões pessoais...


    A candidata da coligação "Para o Brasil Seguir Mudando" ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, concedeu nesta quarta-feira (21) entrevista ao programa 3 a 1, da TV Brasil. Dilma afirmou que as lideranças políticas que almejam governar o Brasil não podem balizar as relações internacionais do país em opiniões pessoais. “O Brasil não pode, em momento algum, ver qualquer um de seus líderes [políticos] fazer campanha eleitoral falando de outros países.”
    O comentário da candidata teve endereço certo: o candidato da direita, José Serra (PSDB), que tem dado diversas declarações ofendendo países e governantes amigos do Brasil.

    Ao comentar um ponto crucial do programa de governo, que é a relação com a mídia, Dilma voltou a cutucar seu adversário. " Sou contrária ao controle do conteúdo (da mídia). O que é inadmissível é a censura à imprensa. É inadmissível alguém usar sua posição e ligar para o editor de um jornal e pedir punição para jornalista. Antes de falar em liberdade de imprensa tem que garantir a liberdade do jornalista e o direito de expressão", disse a ex-ministra, sabendo que José Serra é conhecido nos bastidores da política por sua constante irritação com jornalistas. Há muitos relatos de profissionais da imprensa que dizem que Serra liga para os editores pedindo punição para jornalistas que falam ou escrevem coisas que o desagradam.

    Ao falar sobre Educação --um dos temas de maior interesse do eleitorado-- Dilma rechaçou a ideia de que no Brasil se investe em ensino superior público e não se investe tanto no ensino básico. “Essa é a questão mais falsa que este país já enfrentou. Essa coisa da gente fazer uma segregação entre ensino universitário e ensino fundamental não é verdadeira. Toda avaliação, como o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], mostrou que se tem um melhor nível da educação básica, quanto mais se contar com professores formados nas universidades e em alguns casos com pós-graduação. O Brasil, para dar qualidade ao ensino básico, precisa formar professores capacitados a ensinar nossas crianças e nossos jovens. Temos que exigir que os nossos professores tenham curso superior, incluindo pós-graduação e temos de pagá-lo muito melhor do que pagamos”, destacou.

    Dilma ainda disse que pretende continuar a política de interiorização das universidade federais iniciada no governo Lula. “Acho que fizemos um esforço grande ao voltar a investir em faculdades federais e mais ao interiorizá-las. Porque não se pode admitir que o aluno, que não tem grandes recursos, fique mudando de uma cidade para a outra para estudar. Construir campus no interior deste país é fundamental para melhorar a qualidade do ensino”, acrescentou.

    Na entrevista, Dilma também afirmou que “não tem a pretensão” de substituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela disse que vai compensar o carisma de Lula “com muito trabalho”.

    Veja abaixo uma síntese das principais falas da ministra na entrevista:

    Política Externa


    Política externa e representação institucional são bem diferentes de posições pessoais e briga eleitoral. O Brasil não pode, em momento algum, ter qualquer um de seus líderes [políticos] em campanha eleitoral falando de outros países. Não se usam qualificativos em relação a outros governos, a não ser que ser queira um isolamento ou uma política de grande potência ultrapassada da década de 50, do tipo big stick. Ou seja, a capacidade do porrete. Como nós não estamos nessa época, eu acho oportuno ter um extremo cuidado quando nos posicionamos sobre outros países.

    Coalizão


    O Brasil é um país com muita diversidade de opiniões e pontos de vista diversos nos estados. Por isso, acredito na coalizão e temos que caminhar para essa prática no Brasil. Tem de construir um leque de alianças e estruturar propostas para o governo. Vou lutar para construir alianças políticas transparentes e que, na montagem do governo, se respeite essa coligação com critérios técnicos.


    Sou contra a visão da ditadura que políticos teriam que ser tirados da pauta e apenas tecnocratas governariam o Brasil.

    Lula


    O Brasil está preparado para ter uma mulher presidente. Ele [o presidente] tem uma imensa capacidade de envolvimento, persuasão, e sabe escutar. Aprendi muito com ele. Não tenho a menor pretensão de substituir o presidente. Ele é uma pessoa, e eu sou outra. Mas acredito que vou honrar o legado dele, que é o que ele mais ama, que é o povo brasileiro. Isso eu vou fazer: cuidar do povo brasileiro. Mas eu vou me esforçar para compensar [o carisma] com muito trabalho.

    Acusações sem provas


    Estão fazendo ilações infundadas, jogando informações sem prova e, sobretudo, cometendo injúria e difamação. A gente tem que ter cautela e cuidado para não fazer insinuações que só tendem a beneficiar alguém no momento eleitoral. Acho que todas as acusações só podem ser feitas com provas. (...) Esse tipo de dedução (de que setores do PT produzem dossiês) só leva à criação de um ambiente no Brasil de pouca seriedade.

    Ataques do adversário


    Acho até bom que eu não seja uma política tradicional porque ninguém vai me fazer baixar o nível nessa eleição. O povo brasileiro merece respeito. Não esperava da parte do meu adversário que, diante da primeira dificuldade de um certo temor, o temor de perder a eleição, o nível da campanha fosse sendo reduzido com acusações sem prova, com uma espécie de tiroteio verbal que eu não acho correto. Vou insistir em debate.


    Educação


    A educação será um dos fatores de maior inclusão daqui para frente.Todas as avaliações mostram que se tem qualidade na educação quando há mais professores com ensino superior e com pós-graduação. Para ter qualidade, temos de exigir que nossos professores tenham curso superior e pós-graduação e pagar muito melhor que os pagamos hoje. Como é que o jovem que está estudando matemática vai ser professor se no estado mais rico do país [São Paulo] ele ganha R$ 1,8 mil? Precisamos de professores de Física e de Química. O salto que o país precisa dar depende do professor.

    Liberdade de Imprensa


    Temos de distinguir duas coisas. O mundo inteiro tem uma discussão e um marco regulatório em relação à convergência de mídia. Por exemplo, o controle estrangeiro nas mídias. Outra coisa é controle sobre conteúdo e restrição e censura à imprensa. Aí a única censura é o controle remoto. Sou contrária ao controle do conteúdo. O que é inadmissível é a censura à imprensa. É inadmissível alguém usar sua posição e ligar para o editor de um jornal e pedir punição para jornalista. Antes de falar em liberdade de imprensa tem que garantir a liberdade do jornalista e o direito de expressão.

    Reforma Tributária


    O governo tem de olhar se os recursos estão sendo usados da forma devida. A gente tem de procurar a melhoria da aplicação dos recursos arrecadados nos serviços prestados. De forma imediata não tem como [abrir mão da arrecadação]. Sou a favor da redução da carga tributária. Reduzimos o IPI de forma significativa, violentamente, dos automóveis, da linha branca e da construção. E houve um problema grave para os municípios e estados. Se tirasse a arrecadação tinha município que não sobreviveria.

    Serra estaria louco?


    Recife (PE) - Em Serra, olhem bem para os olhos. Eles vagam, fitam distante, como se pensassem em coisa diferente do que a boca fala. Quando dão presença, oscilam da fúria, arregalados, à retração nas órbitas fundas, com íris apagadas, parecendo reclamar de insônia permanente. O candidato não deve dormir bem nos últimos tempos, parece. Mesmo quando sorri, sorri só com a boca, fazendo com os olhos fixos uma composição de máscara. A quem sorri assim, só com os dentes, maxilar colado a maxilar, “com os dentes fechados”, o povo nordestino chama de gente falsa.

    Mas não pensem que ele, apesar da própria cara, não se preocupe com uma boa feição. No Recife, durante uma entrevista coletiva, ao tossir muitas vezes, reclamou da garganta e pediu para não ser filmado nesse aperto: “Eu acho que os meus olhos ficam esbugalhados”. Será? Em sua imagem mais conhecida na web, bem humorado, ele “brinca” com um fuzil de mira telescópica, apontado para o fotógrafo, vale dizer, para todos nós. Aí vem bala, e nos baixamos, como se a imagem viesse com a desgraça de um projétil em três dimensões. No entanto, não precisamos de um novo Lombroso para ver no candidato ares de louco, de um indivíduo com os mais claros sinais de desequilíbrio mental. Basta ir ao que ele declara, de norte a sul do Brasil. Pior que seus olhos e expressões faciais, Serra é aquilo que ele declara.

    Abrem-se as cortinas. Fala, Serra.

    “Vou criar o Ministério do Acarajé”, ele falou, disse, e acrescentamos um futuro do pretérito, teria dito em Salvador. Inacreditável. Será mesmo verdade tal fala e ministério? Qualquer brasileiro pode imaginá-lo, melhor, esperá-lo a prometer um Ministério da Tapioca em Pernambuco, um do Tucupi, no Pará, e outro de Dois Pastel, em São Paulo. Em Goiânia, para não mencionar o Ministério do Pastelão, chegou a afirmar que construir um aeroporto é "como fazer um shopping center", assim, sem qualquer controlador de bobagem ou biruta. Na ocasião, ele ainda reclamou do sotaque local da repórter goiana. Como falam engraçado as pessoas que não são paulistas! Mais próximo de sua base, no Rio, entre oito promessas feitas em menos de dez minutos, como um louco rapidíssimo, assegurou mutirões para prevenir a hipertensão... Será possível que não exista um só fotógrafo para registrar a cara dos acompanhantes quando ele fala tais delírios?

    Antes do Acarajé na Bahia, em Curitiba prometeu dar enxoval às grávidas. E se possível, acreditamos, assumir a paternidade também. De quantas mulheres no Brasil? De todas, fôlego e saliva no candidato não sobram. Há loucos que babam, dizem. Mas não se espantem de tamanha potência e generosidade varonil. Em matéria de paternidade, antes dos filhos de todo o Brasil, ele andou furtando paternidades de outros que não foram seus, como os projetos de lei dos remédios genéricos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

    Observo agora que escrevi acima que no Rio ele estava mais próximo de sua base. Mil e um perdões, porque o candidato José Serra é, pelo que fala, pelo que procura fazer crer, natural de qualquer estado brasileiro ou cidade por onde ande. Entendam, não é só um em Roma como os romanos. Em Pernambuco ele é pernambucano. “Cresci na política aqui em Pernambuco”. Logo... Quando ele viaja para outros estados do Nordeste, tem até um genérico de naturalização, tipo, como dizem os adolescentes, tipo ninguém é mais nordestino: “O político que mais fez pelo Nordeste fui eu”. Um autêntico filho de uma mãe nordestina, poderíamos dizer.

    Os sintomas do mal não apareceram agora, é claro. Lembram-se do conselho do mago médico Serra, quando se anunciou a gripe suína? Um primor: "Ela, a gripe suína, é transmitida dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram. Portanto, a providência elementar é não ficar perto de porquinho nenhum". Viva. A esta altura, há quem diga que o candidato, submetido a fortes pressões, de partido, projetos e destinos, pirou de vez. Daí os sucessivos desvarios, dizem, os olhos que perambulam, imigrantes e fugidios. Especula-se até de tratamentos secretos a que ele se submeteu, com remédios prescritos pela medicina mais confiável, nas últimas semanas.

    Eu, do meu canto, sem ser alienista, penso que a realidade do mal é mais simples. Serra, o nordestino, nortista, sulista, mineiro, criador de ministérios para todos os gostos do mundo, apenas afundou o juízo nas órbitas diante da última pesquisa Vox Populi: Dilma Rousseff tem 43%, Serra, 37%. Em queda, não há lucidez que aguente.


    Urariano Mota, Direto da Redação