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sexta-feira

Vanusa é o Cazuza da Vez!




Vanusa nada mais é que uma imagem no mesmo espelho dos que a execram. Ora, o desgraçado é sempre o outro... Ou seja, reflexo do preconceito e da hipocrisia, aquele que inevitavelmente une agora Vanusa e Cazuza na arena pública da crueldade e da falta de respeito.


Na velha arena romana ao virar o polegar para baixo o imperador e a sociedade liquidavam o gladiador que perdia a luta; ou ele era morto pelo adversário, ou era jogado às feras.

O meio artístico é uma arena cruel! E às vezes a punhalada vem pelas costas mesmo.

Já há algum tempo, desde que esqueceu a letra do hino nacional brasileiro, numa luta dolorosa para não sair de cena, a cantora Vanusa, que já esteve em evidência nos anos 70, e agora abandonada pelos próprios pares como um Simonal acusado de traição, vem sendo alvo de chacotas, reportagens maldosas e de uma execração pública que nos lembra a capa da revista Veja de 1989, quando Cazuza era exposto como um desgraçado que agonizava em praça pública por ser portador do vírus da Aids.

Recentemente, Vanusa voltou a esquecer e a confundir letras de músicas que muitas vezes interpretou ao longo de sua carreira. Virou piada na internet. Não estaria ela com problemas de saúde e/ou passando por dificuldades? Não estaria essa artista precisando de ajuda? É ética essa postura de uma parcela da imprensa, setores da mídia e até mesmo do meio artístico tirando o escalpo dessa mulher que, independente de gostos ou tendências musicais, teve lá o seu momento e deu sua contribuição a uma vertente da MPB? Por que esse escárnio em torno de Vanusa?

Claro. Vanusa é alvo daquela visão estúpida do “quanto pior, melhor”, “antes ela do que eu!”, etc. O mesmo escárnio que desafia o suicida a se jogar de um prédio. Um traço da nossa sociedade que “unida” canta o hino nacional tropeçando na letra antes dos jogos da seleção brasileira e depois esquece de novo... Voltando à violência cotidiana.

Vanusa nada mais é que uma imagem no mesmo espelho dos que a execram. Ora, o desgraçado é sempre o outro... Ou seja, reflexo do preconceito e da hipocrisia, aquele que inevitavelmente une agora Vanusa e Cazuza na arena pública da crueldade e da falta de respeito, onde a desgraça do outro resulta em prazer como um espetáculo bisonho de um circo medieval.

(*) Adeilton Lima é ator, professor de teatro e de literatura

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