Pages

segunda-feira

Caetano Veloso e a Perfeita Imbecilidade Ególatra...

por Mauro Carrara*



Disse o baiano ao jornalão dos Mesquitas, declarando seu voto em Marina Silva:

- Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é
analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando,
grosseiro. Ela fala bem.

A declaração é reveladora. Serve bem a desmascarar esse Caetano
ególatra, subproduto pós-moderno de si mesmo, tolo que substituiu o
poeta sem lenço e sem documento.

O atual Caetano, aliás, converteu-se numa espécie de Gabeira sem
carreira parlamentar.

Folga em construir frases de efeito (?) que ecoem o pensamento da
malta conservadora.

Aliás, ególatras, tanto um quanto outro, pronunciam aquilo que os
eleva a ícones publicitários da mídia reacionária e monopolista.

Para Cagabeira, bons alunos de FHC, princípios e história estão em
segundo plano. Vale a exaltação do "eu", muitas vezes doentia, muitas
vezes ridícula, quase sempre deprimente.

Cabe lembrar que, no agora decadente, ambos não se envergonham de
adular o tucano-demismo. Julgam-se, assim, diferentes, autônomos,
batutas...

No caso do compositor baiano, não há acanhamento na rotina de visitas
à casa grande. Pede-se a "bença" ao coronel, como se isso fosse
"bonitinho", supimpa.

Logicamente, ao sair, entregam-lhe na varanda uma cesta de pães
amanhecidos, uns maracujás murchos e até uns tostões, prova da
generosidade do senhor de engenho.

Caetano se julga o gênio da raça, o supra-sumo da cultura mestiça
brasileira, o sol da Tropicália, o sabe-tudo que, de tão sabedor, pode
desprezar os incultos da pátria. Blasé por desejo divino e
necessidade.

O poeta se julga mais poeta porque inventa coisas enigmáticas que o
povo não compreende. Acredita, desde sempre, que se distinguiu dos
mortais da arte ao reproduzir os vôos concretistas dos irmãos Campos e
de Décio Pignatari.

Qual seria, então, o conceito caetanista de analfabetismo? E o que
seria "saber falar"? Para quem cagou montes para a regra, o vetusto
Caetano agora se arroga protetor da norma culta.

Metido com os descolados gurus da Semiótica, tão afeitos à subversão
das formalidades da língua, Caetano vai terminando a vida como um
ortodoxo, rabugento e tolo capataz copista.

Talvez o que incomode Caetano seja justamente a inteligência de Lula,
sem verniz, sem laços, fitas e rimas forçadas. O pernambucano
comunica-se, transmite a mensagem e, mais que isso, faz de sua locução
uma poderosa arma de transformação. Lula, para completar, é autêntico
e "faz acontecer".

Ora, isso causa muita inveja nessa turma dos pedidores de "bença",
tantos deles enfiados na boa Bahia, uns rebolando em cima de trios
elétricos pagos pela Philips, outros servindo de escribas para a
família Marinho.

Ironicamente, o Caetano envelhecido, cruzado da gramática, também
levaria puxões de orelha dos Pasquales da vida. Pontua mal,
embanana-se em conjugações e, não raro, confunde-se nas regências.

Por fim, talvez "cafona" seja a palavra mais "cafona" da língua.
Perceba-se: somente cafonas e afetados a utilizam.

E a que será que se destina, a cajuína?

No caso de Caetano, fazer papel de imbecil ególatra. Esta, pois, virou
a sua sina.



*Mauro Carrara é jornalista, nascido em 1939, no Brás, em São Paulo.
Na década de 80, prestou serviços para a ONU em países como China,
Iraque e Marrocos. Atua na área de comunicação e relações
internacionais.

0 falações!: