Por Maria Beatriz Nader (27/10/11)
Para a compreensão da complexidade da violência contra a mulher o conceito de gênero deve ser entendido como uma construção social e cultural, sustentada pela diferença do feminino e do masculino. Se o conceito de gênero é a distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos sexos e a dimensão biológica de seres humanos, a violência contra a mulher se refere a qualquer ato de violência que tenha por base o gênero, ou seja, o fato de a vítima ser mulher.
Desde os anos de 1960, muitas mulheres, acadêmicas ou ligadas a outros setores sociais, organizadas, deram origem ao Movimento Social Feminista. Fruto desse Movimento, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, desde 2003, institui políticas públicas para o enfrentamento às desigualdades entre homens e mulheres. Sua criação reforça a violência contra mulher como um problema social e dá “visibilidade” a essa violência, pautando-se no entendimento de que a relação entre os sexos não é um fato natural, mas sim uma interação social construída e com interesses ideológicos patriarcais que firmam o poder masculino sobre o feminino.
Para nós, capixabas, a indicação do nome de Iriny Lopes para a direção da SPM foi um orgulho. Ficamos ainda mais orgulhosas quando percebemos que ela é uma ministra atenta e tem se posicionado diante de questões que até então eram vistas como “apenas uma propaganda publicitária”, mesmo que estas reforcem sistematicamente o lugar da mulher como a “boa dona de casa” ou como um “fetiche”.
A estratégia publicitária de transformar o corpo da mulher em mercadoria, ao invés de promovê-la como sujeito, reforça o seu lugar de objeto. E isso tem tudo a ver com o fenômeno da violência contra mulheres, já que o agressor não vê a sua agredida como igual numa relação, mas num patamar inferior.
Vivemos um paradoxo: enquanto o Estado brasileiro promulga a Lei Maria da Penha, uma das mais avançadas do mundo no combate à violência contra mulheres, temos que conviver com propagandas publicitárias com personalidades que reificam a subordinação sexual. No caso capixaba, a situação ainda é mais grave já que, segundo o Mapa da Violência do Instituto Sangari (2010), o Espírito Santo lidera o ranking nacional de mortes violentas de mulheres.
Isso sim deveria se objeto de discussão permanente na imprensa e nas campanhas publicitárias, espaços que poderiam ser aliados da luta das mulheres contra violência, pautando seu trabalho sempre na responsabilidade social e no respeito aos direitos humanos.
*Maria Beatriz Nader é professora da Ufes e membro da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras
Fonte: Gazetaonline