Eu pensava em emitir este alerta desde o fim de 2008, mas o Jornal do Commercio de 1º de janeiro já se antecipou: as passagens de ônibus de Recife e região metropolitana vão aumentar logo, mais precisamente em fevereiro.
Será “felizmente” num período em que as aulas vão retornar e os ânimos dos estudantes, os mais potenciais manifestantes, vão estar renovados, mas não há perspectiva de que algo vai ser diferente, pelo menos até agora. É hora de perguntar: você vai de novo fraquejar, admitir, aceitar, se conformar com esse aumento?
A tarifa A, a da maioria das linhas de ônibus do Grande Recife – com duplo sentido, me referindo à região metropolitana e à ex-EMTU –, provavelmente vai para 2 reais. A ARPE vai permitir tudo, exceto por determinar um aumento um pouco menor do que a turma liderada por Dilson Peixoto vai propor. Ninguém do poder público, fora talvez a hipócrita oposição direitista, vai se manifestar a favor da dignificação da política de transportes urbanos.
Vindo de quem prometeu baixar as passagens na campanha eleitoral de 2006 e no começo do mandato, novamente é percebida a hipocrisia, a desonestidade e a falta de palavra. É de se lembrar também a tal nova política pública de transporte coletivo urbano prometida por Lula e seus comandados, que foi enterrada no piti deles pela derrota da CPMF. Depois daquilo, não se ouviu falar mais nada sobre ser trabalhada a questão da exclusão social causada pela inconveniência tarifária.
E quanto ao povo, o prejudicado por mais um golpe inclemente contra o bolso? A indignação, a decepção eleitoral, a inadmissão, vários outros sentimentos mais vão invadi-lo. No entanto, vão reduzir tudo à resignação. Ou melhor, se não começarem a conceber logo seu papel de cidadãos com poder de parar o que os ameaça, algo para que, no entanto, não creio haver tempo suficiente antes do aumento de fevereiro… É, pelo visto vai tudo se repetir de novo, da atitude abusiva do poder público até a impotência auto-induzida da população.
Já os estudantes são os únicos que me dão esperança, já que vão voltar às aulas e em pouco tempo terão seu espírito de gente esforçada que estuda por um futuro melhor reaquecido. Lembro que, em janeiro do ano passado, até mesmo os movimentos estudantis que protestaram bravamente em 2005 e conseguiram boas vitórias, como a redução de cinco centavos na passagem em vez de mais um ano de aumento em 2006, foram pegos desmobilizados, já que estavam de férias. Agora o recesso terá terminado em fevereiro e isso vai dar mais condição para haver o devido esquentamento da cidadania o qual levará os estudantes de volta às ruas, para bloquear a Avenida Conde da Boa Vista.
No ano passado, fraquejei perante as preocupações de arrastão e repressão policial que alguns não iniciados em manifestações expressaram para mim e confessei que não iria protestar na rua por isso. Confesso hoje que aquilo foi uma atitude um tanto medrosa de minha parte, comportamento combustível dos medos da população de portar sua cidadania e agir em protesto contra quem a hostiliza. Mas agora a mentalidade é outra, amadureceu mais, e meu compromisso de comparecer, nem que seja com protesto solitário ou nas bordas da massa manifestante, pronto para correr de pessoas potencialmente hostis, é mais firme.
E você, usuário de ônibus? O que pensa em fazer quando estiver na iminência de pagar mais caro pelo direito de estudar e trabalhar? Fora correr direto para a praça Maciel Pinheiro ou o Expresso Cidadão apressar a recarga do Passe Fácil, o que pretende fazer para defender a si e a seus direitos? Nada? Resignar-se de novo? Deixar essa humilhação coletiva passar novamente? Usar a desculpa de que “eles vão ter o troco nas urnas”? Esperar o ano que vem para, achando que está dando um troco nos “safados” e mudando sua situação, votar no outro lado, a mesma turminha política da direita que aumentou a tarifa A em 154% em oito anos e nunca deu um piu sobre política pública de transporte coletivo? Está mais do que na hora de pensar melhor no que fazer, de mudar seus conceitos sobre como reagir à opressão financeira do transporte público. Se não quer ir para a rua, debata com seus amigos e familiares sobre o que fazer, porque ficar parado será um desserviço moral que você estará cometendo.
Atente-se, há um projeto de corredores viários, que o Diariodepernambuco.com está divulgando, para ser construído nos próximos anos. Perceba também a política de adição de parafernálias nos ônibus, como novos leitores de cartões de passagem e televisores de cristal líquido, que deve incluir mais apetrechos nos próximos meses. Esses fatores serão as próximas desculpas para haver mais e mais aumentos nos próximos anos. E você vai continuar aceitando tudo passivamente?! Vai cometer a vergonha de dizer “Assim não dá! Até quando? Não aguento mais!” e não fazer nada vezes nada contra?
Ainda tenho esperanças de que, a partir de fevereiro, vai haver organização estudantil para protestar contra esse novo aumento. Pelo menos eu vou fazer algo, nem que seja portar solitário uma cartolina de protesto e distribuir este texto pelos ônibus e paradas. E você? Vai finalmente pensar em fazer algo ou vai aceitar continuar sofrendo com os abusos tarifários? Vai admitir que tem o poder (ainda latente) da cidadania e pôr a boca no trombone ou vai se restringir à reclamação particular e às velhas frases de efeito que não têm efeito nenhum (“Até quando?”, “Não aguento mais”, etc.)? Vai reagir ou vai de novo demonstrar que abraça a velha covardia popular que permite que tudo de ruim aconteça?
Aviso aos que querem protestar: sejam pacíficos e racionais no que farão nos locais de manifestação. Se pensarem em pichar e depredar ônibus ou agredir a polícia, saibam que estarão prestando um desserviço enorme em desestimular a cidadania e alimentar o medo da população de protestar. Além de vocês próprios estarem sendo delinquentes, estarão passando a terrível e inverídica imagem de que todo aquele que vai à rua lutar contra o que é abusivo, ainda que pacificamente, é um vândalo que não tem o que fazer. Não é interessante nem um pouco incentivar atitudes violentas, encorajar o vandalismo e a agressividade, muito pelo contrário.
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