Pages

terça-feira

A condenação do Cristo marxista

Que estranhos desígnios inspiraram o "L'Osservatore Romano" a atacar,em editorial, o escritor José Saramago, falecido recentemente na Espanha? Chamá-lo de populista extremista, que se referia “com comodidade a um Deus no qual jamais acreditou por considerar-se todo poderoso e onisciente”, não revela apenas uma atitude fria e inflexível com um humanista ateu. Vai além. Reforça apreensões em relação aos objetivos políticos do Vaticano e suas consequências éticas.

Se a eleição do cardeal Ratzinger como supremo pontífice da Igreja Católica constituiu um acontecimento cuja gravidade poucos subestimaram, a superação integrista das contradições do Concílio Vaticano II já se delineava claramente no pontificado de seu antecessor, João Paulo II, quando as bases sociais da Teologia da Libertação foram firmemente atacadas.

Em 1983, ao visitar a América Central, suas homilias mantiveram fina sintonia com o projeto do governo Reagan para a região. Em Manágua, o papa não apenas não correspondeu às expectativas do povo nicaraguense de condenação clara às agressões incentivadas pelo imperialismo estadunidense, como também deu ênfase ao que mais dividia o governo sandinista e a hierarquia eclesiástica, à época: o da fidelidade dos sacerdotes e religiosas à igreja e à exigência de não participarem na responsabilidade da gestão governamental. Uma declaração de guerra aos partidários de um cristianismo progressista. Reafirmação classista de uma instituição multissecular.

Na Guatemala, um dos países em que a repressão dos governos militares fez mais vítimas entre os religiosos, João Paulo II não só visitou o presidente Ríos Montt, conhecido por ordenar massacres contra a oposição, como permitiu que o general lhe pedisse o afastamento de sacerdotes da política. Nos discursos papais não houve qualquer protesto contra fuzilamentos sistemáticos; apenas menções genéricas a Direitos Humanos. O Cristo do Vaticano, ao contrário do de Saramago, não deu ouvido a comunidades indígenas e camponesas tratadas como estrangeiras em seus próprios países.

Embora saiba muito bem que estão implícitas, na violência que se expande, a questão do poder, dos interesses econômicos nacionais e internacionais, além das considerações geopolíticas, o Jesus do "L'Osservatore" ignora que a promessa anunciada só se efetivará provocando uma transformação radical da condição social do homem. No livro de Saramago, Jesus, filho de José e amante de Madalena, vive a Paixão dos novos sujeitos. Seu sacrifício é a labuta das populações negras, o sofrimento das índias e o sangue camponês que jorra nos latifúndios.

A coexistência de um papado ultra-reacionário com governos de extrema-direita, como foi o de Bush, implica uma luta mundial de idéias que, não duvidem, será muito intensa. A crítica a uma religião de mercado, que exige o sacrifício de vidas humanas e o aniquilamento de natureza é a batalha da esquerda de nosso tempo.

Nessa guerra, ao contrário do que afirma o Vaticano, o Cristo de Saramago é aliado fundamental. Nas páginas do “Evangelho segundo Jesus Cristo", a grande heresia não está no fato de o personagem pedir perdão pelos pecados de Deus. O que o Vaticano não pode perdoar é a denúncia corajosa a um cristianismo imperial e colonialista. Um sistema de crenças que, para validar a opressão, necessita de uma metafísica negativa sobre os homens e sua história.

Saramago provocou a ira da cúpula da Igreja Católica ao reafirmar a modernidade e os valores de igualdade e liberdade. Foi isso que seu Cristo Marxista proclamou. Não de maneira idílica, mas de forma dialética, como reafirmação de vidas que devem transcender a si mesmas, eliminando práticas e relações que geram opressão e miséria.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

Marina Silva: Cara de avançada, mas, aliada da direita!




Além de confirmar aquilo que pesquisas anteriores, de outros institutos, já indicavam - a dianteira de Dilma Rousseff sobre o candidato da oposição, José Serra - a pesquisa CNI/Ibope divulgada dia 24 traz outro dado inquietante para os tucanos: se a candidata Marina Silva (PV) continuar estagnada na casa dos nove pontos percentuais (isto significa que, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, seu piso ainda menor, baixando para sete pontos) a eleição será decidida já no primeiro turno, com a vitória da candidata do governo e da esquerda, Dilma Rousseff.

Esta opinião, emitida pelo comentarista João Bosco Rabello, de O Estado de S. Paulo no próprio dia da divulgação da pesquisa, é até agora a melhor indicação do sentido da candidatura de Marina Silva e do senhor ao qual ela serve. E explica o "encantamento" da mídia conservadora com esta candidata louvada, nas páginas de jornais e revistas que não disfarçam seu apoio ao candidato tucano, justamente por sua "origem pobre", por ser mulher, negra, ambientalista e outras qualificações que vão se sucedendo para manter seu nome à tona.

O papel de Marina Silva, repetindo o de Heloisa Helena em 2006, é o de empurrar a eleição para o segundo turno e tirar votos de Dilma Rousseff, aplainando o caminho para a volta dos tucanos, neoliberais e conservadores ao Palácio do Planalto.

Não vai ser fácil. Até porque a campanha ainda nem começou na televisão, que é o meio pela qual ela chega às multidões. E lá, à medida em que Marina for alinhando os mesmos argumentos que vem desfiando pela mídia, seu papel de força auxiliar da direita ficará claro.

Ela tem opiniões anti-desenvolvimentistas. Basta conferir o que ela tem dito. Ela tem, por exemplo, uma opinião conservadora sobre a política do BNDES de financiar o fortalecimento das empresas brasileiras com empréstimos a juros baixos, esquecendo que este é justamente o papel de um banco de fomento do desenvolvimento . Ataca as mudanças propostas para o Código Florestal a partir dos argumentos dos ambientalistas mais radicais considera aquela proposta como "o maior retrocesso na história da legislação ambiental brasileira". Ela diz que a defesa ambiental "é o grande debate do século XXI" mas falseia o verdadeiro grande tema, que é a combinação sustentável de desenvolvimento e preservação da natureza. Apega-se à teoria de que o avanço da economia pode acabar com o planeta. Entra em contradição ao defender o biocombustível com alternativa energética, quando esta opção é atacada por muitos ambientalistas por fortalecer a monocultura de cana e comprometer a produção de alimentos. Entra em contradição também quando se manifesta contra a criação de escolas técnicas ("boa parte dos alunos não quer ir para essas escolas", disse para a revista Veja) mas defende o ensino profissionalizante como parte de "um plano concreto de saída do programa" Bolsa Família, defende o estado mínimo e rotula os políticos de "fisiológicos", declarações que soam como música em ouvidos conservadores.

Será uma engenharia de marketing difícil para Marina apresentar-se como progressista e avançada, marcada com a sombra dos tucanos e do atraso e não com o brilho do futuro. A difusão desse discurso, alheio a um projeto nacional de desenvolvimento, vai derrubar o biombo que tenta esconder o caráter de sua candidatura, e revelar a candidata do Partido Verde como aliada objetiva do conservadorismo representado pelo candidato oposicionista José Serra, e não um apelo ao futuro que conserve os ganhos do governo Lula e avance numa rota de desenvolvimento mais profundo e benéfico para os brasileiros.

segunda-feira

Sonhos de uma mulher...

1 - Já que eu estou de pé, quer alguma coisa?

2 - Nossa, amor, você parece triste. Quer conversar? Quem sabe uma massagem...

3 - Por que a gente não vai no shopping e você escolhe alguns sapatos novos?

4 - Desliga a TV amor. Acho que precisamos falar sobre nossa relação...

5 - Sexo não é importante. Vamos apenas ficar conversando...

6 - Não... não estou com pressa.

7 - Antonio Banderas e Brad Pitt? A gente tem quer ver esse filme!

8 - Quer ajuda para escolher os sapatos?

9 - Você está com dor de cabeça? Deixa que eu pego um remédio para você e faço uma massagem para relaxar...

10 - Eu realmente não sei o caminho. Vamos parar e perguntar...

11 - Eu seguro sua bolsa enquanto você experimenta este outro...

12 - Esse vestido ficou bom... mas porque você não experimenta mais alguns para termos certeza?

13 - Aquela mulher tem os seios muito grandes.

14 - Você cortou o cabelo? Ficou linda!

15 - Nossa! Como você é inteligente. Senão fosse você, não sei como Viveria.

16 - Esta noite quero te dar tudo que você merece. Para começar vamos ao restaurante mais caro e mais charmoso da cidade.

17 - Vamos hoje na casa de sua mãe. Faz tanto tempo que não a vemos e já sinto saudades.

18 - Pode deixar a louça comigo! Hoje é domingo e você merece descansar.

19 - Querida, telefone para você. é o seu amigo.

20 - Eu acho a feiticeira tão artificial.

21 - Eu? Pro bar? De jeito nenhum! Prefiro ficar com você... Só vou se você for.

22 - Não vou beber muito! Afinal, ficar de pileque e fazer você passar vergonha. isso nunca!

23 - Querida, vou reclamar com o vizinho sobre essa história da filha dele ficar de calcinha na janela. Que vergonha!

24 - Adoro sair com você e seus amigos. Eles são divertidos.

25 - Meu amor! Já coloquei a roupa suja na máquina, o que mais posso fazer para ajudá-la.

Nota pública sobre as enchentes...


- AGB SEÇÃO RECIFE-

NOTA PÚBLICA SOBRE AS ENCHENTES EM PERNAMBUCO E ALAGOAS

Mais de 80 mil pessoas, só em Pernambuco, tiveram suas casas parcial ou completamente destruídas pela enxurrada. As enchentes causaram, até agora, 17 mortes só em Pernambuco, oito em Recife. Apenas em Alagoas estima-se 600 desaparecidos. Em Pernambuco, 80 municípios estão afetados e 59 cidades atingidas diretamente, 30 estão em situação de emergência, e 9 em estado de calamidade pública. Oitenta pontes foram arrastadas e 2.103 Km de estradas danificadas. As informações demoram a chegar e vem à medida que os acessos às cidades são restabelecidos pelo exército.

A força das águas provocou transbordamento de rios, sangramento das barragens, levou até um tanque de armazenamento de uma usina de açúcar que pesava 180 toneladas. Faltam comida e água, não há comércio para vender absolutamente nada. Diversas cidades estão sem energia elétrica, sem abastecimento de água potável, sem hospitais, sem delegacia, presídios foram destruídos e os bancos estão fechados. O CENÁRIO É DE GUERRA. As pessoas já passam a brigar na rua por qualquer pedaço de comida achado no meio dos entulhos e lama.


Cidades inteiras estão devastadas. Após a enxurrada, a cidade mais populosa da Mata Sul do Estado de Pernambuco, Palmares, com 56 mil habitantes, está completamente destruída e sem acesso por terra. A ponte sob o Rio Una, na BR 101, foi carregada pelas águas. Cortês, na mesma região, foi varrida pelo Rio Sirinhaém e só sobra destroços onde antes era uma cidade. O governo estadual e federal mobilizou as forças armadas, estão sendo desenvolvidos os trabalhos de reestruturação básica, religamento de luz e água potável, os serviços de telefonia móvel estão sendo reestruturados, bem como a montagem de hospitais de campanha.


Mas a verdade deve ser dita. Sabemos que o clima na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas é As’ (Tropical quente e úmido com chuvas no outono-inverno), no qual são comuns, nesse período, chuvas contínuas e de grande intensidade, com precipitações que podem chegar de 1.500mm a 2.500 mm anuais. A Zona da Mata de Pernambuco é caracterizada ainda pelas formações geomorfológicas de “mares de morros” e alguns pontos, principalemente em Alagoas, pelos tabuleiros costeiros, com solos argilo-arenosos, com rios que correm em meandros, sem mais a existência da Mata Atlântica.

Em 1963, na primeira edição do livro A Terra e o Homem no Nordeste, o geógrafo Manuel Correia de Andrade já descrevia o processo de ocupação urbana da Zona da Mata açucareira do Nordeste da seguinte forma:

“As cidades surgiram nas encostas, pois se procuravam a proximidade com os rios, temiam a invasão das águas durante as enchentes, enchentes sempre violentas pela rapidez com que se apresentavam e pela excessiva oscilação do débito dos rios, de vez que estes, tendo a maior extensão dos seus cursos nas áreas semi-áridas do Agreste e Sertão, possuem a irregularidade típica dos rios de caatinga. Irregularidade expressas pela ausência d’água no leito durante o estio e pelo transbordamento para a várzea, alagando e encharcando os canaviais, na estação das chuvas”


Nada mudou de 1963 para 2010. Ao longo de vários anos, a monocultura da cana de açúcar transformou o espaço da Zona da Mata do Nordeste, em um espaço de “confinamento da pobreza” e degradação das relações sociais. O latifúndio da cana, não só deteriorou as condições sociais dos trabalhadores ao longo de vários anos, como também causou graves crimes ambientais, dentre eles, a completa destruição da Mata Atlântica e das matas ciliares, alteração de leitos de rios e seus afluentes, construções de barragens e diques, poluição dos cursos d’água, corte de encostas e muitos outros crimes.


Nos últimos 20 anos, os grandes usineiros e donos de latifúndio da cana, confinaram a pobreza nas cidades de pequeno e médio porte, onde os trabalhadores vivem na dependência do ciclo da cana, do chamado período de moagem das usinas, período em que o cheiro do vinhoto despejado nos córregos e rios, da moagem da cana e das grandes queimadas torna o ar carregado de fuligem e nos remetem a realidade da pobreza e da exploração, fazendo parte da dura realidade das cidades das Zonas da Mata Pernambuco e Alagoas.

A decadência e fechamento de várias usinas de cana de açúcar nos dois estados, o fim dos incentivos governamentais na década de 90 para a produção do álcool e a conseqüente migração dos investimentos, por parte dos usineiros locais, para o Sudeste e Centro Oeste brasileiro, agravou ainda mais a situação. Os trabalhadores que viviam da cana passaram a viver do comércio, e a falta de estrutura de um sistema produtivo com o crescimento populacional das cidades de pequeno e médio porte, fazem da Zona da Mata ainda um lugar da pobreza.


Assim, o resultado de uma desigual ocupação do espaço, aliado aos fatores sociais, a falta de investimentos nas cidades da zona da mata, bem como a não existência de uma articulada rede de prevenção de catástrofes naturais no território nacional, capaz de prevenir fenômenos meteorológicos com mais precisão e eficiência, dando tempo à defesa civil alertar e divulgar medidas cautelares aos moradores das cidades ribeirinhas vem prejudicar mais gravemente os trabalhadores e os mais pobres que vivem na região.


É com este pensamento e avaliação que nós, da Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Recife, nos solidarizamos ao povo Pernambucano e Alagoano apontando o real culpado pelo os estragos, o latifúndio da cana de açúcar e não apenas a grande quantidade de chuvas.

--
Associação dos Geógrafos Brasileiros
Seção Recife

www.agb-recife.blogspot.com
www.agb.org.br
www.flickr.com/agbrecife/

A quem serve o “quanto pior, melhor”?

Algumas forças políticas de esquerda acreditam que o Programa Democrático Popular aprovado pelo PT, em 1986, continua atual. Ele responde aos principais problemas estruturais enfrentados pelo Brasil. Também corretamente, avaliam que esse não foi o programa adotado no governo Lula. Mas, estranhamente, ao invés de avaliaram as condições objetivas que levaram o PT a aplicar um programa tático diferente, ou "rebaixado", como costumam dizer, preferem lamentar-se, ao mesmo tempo em que acusam ao PT de haver abandonado seu programa estratégico.

Alguns se dão conta de que, para a maioria do povo brasileiro, as realizações do governo Lula são vistas e sentidas como avanços e conquistas. Mas, ao invés de tomarem isso como possibilidade real para conquistas ainda maiores, mesmo que lentas, preferem se lastimar de que essa maioria popular não tenha percebido a necessidade de retomar a luta por reformas estruturais na sociedade brasileira.

Assim, reconhecem que a esquerda está diante de um desafio diferente dos que enfrentou no passado. Mas, além de não considerarem isso como um desafio teórico e prático, o tomam apenas como um desafio organizativo. E, ao invés de partirem dos avanços e conquistas percebidos pela maioria popular, lastimam-se de que tais avanços e conquistas foram pequenos, e buscam isolar-se em posições pretensamente revolucionárias.

Não conseguem entender que a caminhada pela via institucional é, em primeiro lugar, uma enorme conquista do povo brasileiro. Pela primeira vez na história brasileira as classes dominantes se viram na contingência de permitir que não apenas políticos populares, mas também socialistas e comunistas, ocupassem postos no governo central e governos estaduais e municipais. Isto pode parecer pouco para os que não viveram a ditadura, nem os períodos anteriores de repressão política e clandestinidade. Mas a ciência histórica demonstra facilmente que foi um avanço considerável.

Essa conquista, por outro lado, acarreta problemas práticos, teóricos e organizativos de monta para as grandes massas do povo e para as forças de esquerda. Ela pode alimentar, tanto entre essas massas, quanto entre militantes da esquerda, a ilusão de que a burguesia se acomodará e jamais tentará uma saída não-institucional para a perda parcial de um dos aparatos do Estado. Essa conquista também pode nutrir uma esperança desmesurada de que seja possível realizar todas as reformas estruturais pela via institucional, e que a burguesia concordará com essa pretensão.

O desafio para a esquerda, diante disso, não consiste apenas, como alguns pensam, em fazer propaganda e agitação das questões programáticas contidas no Programa Democrático Popular do PT. Embora isto seja importante, o grande problema consiste em fazer com que as grandes massas populares compreendam que a via eleitoral e os avanços positivos do governo Lula foram uma conquista delas. E que só elas, mobilizadas e organizadas, podem garantir não só a manutenção desses avanços, como novas conquistas.

Portanto, esse processo "reformista" e "rebaixado" precisa ser uma importante escola de aprendizado para as grandes massas do povo. É um erro crasso negar-lhe essas conquistas e esse aprendizado, do mesmo modo que é um erro crasso não alertá-las para as tentativas desestabilizadoras de seus inimigos. Nessas condições, a esquerda jamais pode tomar a iniciativa de desqualificar a experiência da via eleitoral e os avanços do governo Lula. Esta é uma missão suja que deve ser deixada a cargo da burguesia tentar.

Tudo isso exige que a esquerda esteja junto com as massas populares nessa "experiência". Sem vivenciar com elas seus aspectos positivos e negativos, e procurar tirar as lições desse processo real, será muito difícil a qualquer setor da esquerda apresentar-se como alternativa para o que quer que seja. Não é por acaso que as forças de esquerda que se negam, ou são contra, participar ativamente da experiência Lula, mesmo não estando no governo, sejam residuais e impotentes diante das tendências populares.

Pretender impor às massas populares um projeto que, por mais correto que seja teoricamente, não faça parte do horizonte atual da experiência de luta e da consciência daquelas massas, só pode levar tais forças a falarem apenas para si próprias. Algo idêntico ocorre agora com os setores que concordam com o caráter plebiscitário das eleições deste ano, mas decidiram omitir-se no primeiro turno. Por quê? Porque o plebiscito, segundo eles, será um embate entre um "projeto rebaixado" e o "retrocesso".

Este foi, em termos relativos, o argumento que levou os comunistas alemães a não se aliarem aos social-democratas no início dos anos 1930, permitindo a vitória eleitoral dos nacional-socialistas, ou nazistas. A analogia é válida para alertar que o argumento de não escolher um "projeto rebaixado", quando se está frente a um "retrocesso", pode ser extremamente pernicioso. Estamos, portanto, diante de uma questão tática que pode ter implicações sérias nas perspectivas estratégicas.

Alguns talvez pensem que, com isso, a situação vai piorar e as massas irão se mobilizar. Provavelmente, jamais vivenciaram derrotas profundas e o que isso representa de demora para a retomada da luta popular. Para derrotar o Estado Novo getulista foram necessários quase 10 anos, e mesmo assim num contexto histórico de guerra mundial. Para dar fim à ditadura militar e realizar uma transição pactuada foram necessários 20 anos. Será que vamos ter que reaprender que o "quanto pior, melhor" não nos serve?


Wladimir Pomar é analista político e escritor.

O Feitiço do Sarney...

No Maranhão, Lula e a direção do PT definem apoio à Roseane Sarney e abrem crise no partido local. Por Leandro Fortes


O Maranhão é o quarto secreto onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esconde, como Dorian Gray, uma resistente decrepitude moral de seu governo. Assim como o personagem da obra de Oscar Wilde, Lula se mantém jovial e brilhante para o Brasil e o mundo, cheio de uma alegria matinal tão típica dos vencedores, enquanto se degenera e se desmoraliza no retrato escondido do Maranhão, o mais pobre, miserável e desafortunado estado brasileiro. Na terra dominada por José Sarney, Lula, o anunciado líder mundial dos novos tempos, parece ser vítima do feitiço do atraso.

Dessa forma, em nome de uma aliança política seminal com o PMDB, muito anterior a esta que levou Michel Temer a ser candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, Lula entregou seis milhões de almas maranhenses a Sarney e sua abominável oligarquia, ali instalada há 45 anos. Uma história cujo resultado funesto é esta sublime humilhação pública do PT local, colocado de joelhos, por ordem da direção nacional do partido, ante a candidatura de Roseana Sarney ao governo do estado, depois ter decidido apoiar o deputado Flávio Dino, do PCdoB, durante uma convenção estadual partidária legal e legítima, por meio de votação aberta e democrática.

Esse Lula genial, astuto e generoso, capaz de, ao mesmo tempo, comandar a travessia nacional para o desenvolvimento e atravessar o mundo para tentar evitar uma maior radicalização no Irã, não existe no Maranhão. Lá, Lula é uma sombra dos Sarney, mais um de seus empregados mantidos pelo erário, cuja permissão para entrar ou sair se dá nos mesmos termos aplicados à criadagem das mansões do clã em São Luís e na ilha de Curupu – isso mesmo, uma ilha inteira que pertence a eles, como de resto, tudo o mais no Maranhão.

Lula, o mais poderoso presidente da República desde Getúlio Vargas, foi impedido sistematicamente de ir ao estado no curto período em que a família Sarney esteve fora do poder, no final do mandato de Reinaldo Tavares (quando este se tornou adversário de José Sarney) e nos primeiros anos de mandato de Jackson Lago, providencialmente cassado pelo TSE, em 2009, para que Roseana Sarney reocupasse o trono no Palácio dos Leões. Só então, coberto de vergonha, Lula pôde aterrissar no estado e se deixar ver pelo povo, ainda escravizado, do Maranhão. Uma visita rápida e desconfortável ao retrato onde, ao contrário de seu reflexo mundo afora, ele se vê um homem grotesco, coberto de pústulas morais – amigo dos Sarney, enfim. Logo ele, Lula, cujo governo, a história e as intenções são a antítese das corruptas oligarquias políticas nacionais.

Lula, apesar de tudo, caminha para o fim de seus mandatos sem ter percebido a dimensão da imensa nódoa que será José Sarney, essa figura sinistramente malévola, no seu currículo, na sua vida. Toda vez que se voltar para o mapa do país que tanto vai lhe dever, haverá de sentir um desgosto profundo ao vislumbrar a mancha difusa do Maranhão, um naco de terra esquecido de onde, nos últimos 20 anos, milhares de cidadãos migraram para outros estados, fugitivos da fome, do desemprego, da escravidão, da falta de terra, de dignidade e de esperança. Fugitivos dos Sarney, de suas perseguições mesquinhas, de sua megalomania financiada pelos cofres públicos e de seu cruel aparelhamento policial e judiciário, fonte inesgotável de repressão e arbitrariedades.

Contra tudo isso, o deputado Domingos Dutra, um dos fundadores do PT maranhense, entrou em greve de fome no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. Seria só mais um maranhense a ser jogado na fome por culpa da família Sarney, não fosse a grandeza que está por trás do gesto. Dutra, filho de lavradores pobres do Maranhão, criou-se politicamente na luta permanente contra José Sarney e seus apaniguados. Em três décadas de pau puro, enfrentou a fúria do clã e por ele foi p erseguido implacavelmente, como todos da oposição maranhense, sem entregar os pontos nem fazer concessões ao grupo político diretamente responsável pela miséria de um povo inteiro. Dutra só não esperava, nessa quadra da vida, aos 56 anos de idade, ter que lutar contra o PT.

Assim, Lula pode até se esquivar de olhar para o retrato decrépito escondido no quarto secreto do Maranhão, mas em algum momento terá que enfrentar o desmazelo da figura serena e esquálida do deputado Domingos Dutra a lembrá-lo, bem ali, no Congresso Nacional, que a glória de um homem público depende, basicamente, de seus pequenos atos de coragem.

Passado...


Deixado pra trás
Sem deixar o aprendizado
Levado comigo sempre
Por mares nunca Dantes navegados

sábado

Pressão...

Viver na pressão é péssimo.

Num estou muito afim de escrever não.

Por isso vou esquecê-lo (por algum tempo), Nem comento!

quarta-feira

The Red Army...


Mesmo não sussurros são ouvidos no jardim,
Tudo morreu para baixo até o amanhecer.
Se você soubesse como queridas para mim
São essas noites de Moscou.
Os movimentos do rio, imóvel,
Tudo ao luar de prata.
A música é ouvida, ainda inédita,
Nestas noites silenciosas.
Por que você, caro olhar de esguelha,
Com sua cabeça abaixada assim?
É difícil expressar, e é difícil de segurar,
Tudo o que meu coração possui.
Mas a aurora está se tornando cada vez mais brilhante.
Então, por favor, basta ser bom.
Não é, também, esquecer
Estes verão, as noites de Moscou.

Bendito seja...



Bendito seja o Mundial com que sonhamos,
Bendito cada nome que tem sido designado,
Benditos os garotos que sempre dispensamos,
O peso da história e o respeito ganho.

Malditas sejas as lembranças doloridas,
Maldita a impotência, as injustiças que vivemos,
O voltar para casa cada um pelo seu lado,
As finais sem jogar que ficaram no caminho.

Bendita a anestesia geral as dores,
As tristezas que saramos com abraços,
As gargantas que se quebram pelos gols,
O sentir-nos melhores por um tempo.

Malditos os sorteios e os grupos da morte,
Os controles com azar que sentenciaram nossa sorte.
Malditos os mesquinhos que jogam sem poesia,
Os que batem, os que invejam, os que quebram e lastimam,
Bendito seja o orgulho com que entramos em campo,
A "pelada" e a bola não se mancham.

A TV que repete a ginga
Inflar a rede dos outros, inflar os peitos dos nossos,
Merecer a camisa!

Os turistas, os cronistas, os sponsors, os amigos, o hino!
As mulheres seguindo as partidas.
Benditas a 'cabalas' que dão resultado,
O riso e o choro que guardamos tanto,

Bendito o momento que nos presenteia o futebol
De poder mudar nosso destino e sentir,
Outras vez, enfrente ao mundo
O glorioso, e o orgulho de ser alvirrubro!

segunda-feira

Algo...

domingo

Savage Garden - I Knew I Loved You

Por Fernando Pessoa...




Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

Faltam 17 vitórias...

Os primeiros passos da democracia...

Há 25 anos o Brasil iniciava a transição para sair do regime militar. O que aquele país tem a ver com o de hoje? Leia sobre músicos de funk que formam associação e lutam por reconhecimento. E como a mídia comercial reduziu o Santo Daime ao uso de chá e confundiu a opinião pública.

Cristina Uchôa e Glauco Faria

Ao menos duas datas podem ser consideradas como o início da Nova República. A posse de José Sarney em 15 de março de 1985 ou a morte do presidente eleito Tancredo Neves em 21 de abril, que faz com que seu vice se torne definitivamente o mandatário da nação. Mas o que era realmente novo nessa República, além da origem não militar de seu presidente, é o grande ponto de discussão. Diferentemente de outros países da América Latina, a fase democrática brasileira surgiu de um longo processo de negociação e transição, e não de ruptura, como houve na Argentina, por exemplo. Claro que cada país tem suas peculiaridades e, obviamente, esse período trouxe ganhos e conquistas que permanecem no país até hoje. Mas o que, de fato, representou o início da Nova República para o Brasil?

Primeiro, é preciso contextualizar aquela época, já que quase metade da população brasileira não era nascida em 1985, quando José Sarney tomou posse como presidente, enquanto Tancredo Neves era hospitalizado às vésperas daquele 15 de março. Mesmo com a derrota da emenda das Diretas em 1984, era patente o declínio gradual do poder do regime militar, como aponta o sociólogo Gláucio Ary Soares, que à época já estudava o assunto, publicando seus trabalhos pelo Centro de Estudos Latino Americanos da Universidade da Califórnia. “É preciso diferenciar bem uma distensão política de uma abertura política. O que o governo Geisel começou a promover no Brasil, conscientemente, foi uma distensão”, aponta. Maria Celina D’Araújo, professora da PUC-RJ e estudiosa do tema, lembra que o processo de transição começou, na verdade, em 1974, estendendo-se por 11 anos com uma série de costuras políticas. “É claro que foi uma conquista, mas todas as conquistas se dão em processos de negociação”, afirma Maria Celina, referindo-se aos diversos acordos em que militares e políticos chegaram ao consenso de que, para se viabilizar a abertura, alguns pontos de interesse militar deviam permanecer intocados, como a Lei de Anistia que também beneficia os torturadores, promulgada muito antes da transição política.

Para Soares, embora o processo de distensão não tenha sido controlado de forma absoluta pelos militares, seus interesses principais acabaram preservados. “É claro que quando se dá espaço para instituições democráticas, como a imprensa, por exemplo, o processo de democratização se acelera, porque essas instituições fazem mais e mais pressão. Mas o diferencial do Brasil foi que os militares, apesar de perderem o controle, nunca perderam um nível mínimo de poder – coisa não natural em governos civis – que lhes garantiu a condição de não serem alvo de julgamento civil”, avalia Soares.

Acordos pré-eleitorais

De dentro do Congresso Nacional, Fernando Lyra, que foi deputado de 1966 a 1985, relata que não havia nenhuma vergonha ou receio em se trabalhar por uma distensão, e não por uma abertura política. Em diversas passagens de sua autobiografia, Daquilo que eu sei, Lyra, que foi coordenador da campanha eleitoral de Tancredo Neves e o primeiro ministro da Justiça da Nova República, conta que havia a noção de que o fim do regime militar deveria vir por negociação. Embora houvesse discussões sobre a implantação, logo, de eleições diretas, propostas formalmente pela Emenda Dante de Oliveira, o próprio Lyra diz ter trabalhado em duas frentes, sem apostar todas as fichas na realização do sufrágio popular. Na hipótese da realização de eleições indiretas, o candidato viabilizado dentro do Congresso, desde 1983, por uma série de acordos tratados por Lyra e seus correligionários, era Tancredo Neves.

A emenda das Diretas não vingou, muito por manobras dos militares, mas também por interesses comungados por políticos “civis”: era aposta certa que o nome a sair vitorioso de uma eleição direta era Ulysses Guimarães. Mas no Colégio Eleitoral o nome do líder peemedebista enfrentava resistências da chamada Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS (ex-Arena), e seu nome também não era bem visto pelos militares por conta da sua marcante atuação na oposição durante o regime autoritário. Mesmo no PMDB havia sérias resistências. “É bom lembrar que o MDB, que depois se tornou PMDB, tinha sido criado por imposição legal da ditadura militar, que estabeleceu o bipartidarismo. Mas era um ‘balaio de gatos’, tinha políticos radicais, moderados, dissidentes da Arena, tinha uma parcela conservadora muito forte”, aponta Vitor Amorim de Ângelo, doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.

A solução foi lançar um nome com perfil mais conciliador, o moderado governador mineiro Tancredo Neves. Vindo da escola getulista, tendo sido inclusive ministro de Vargas, ele já tinha em sua carreira política um histórico de lidar com momentos difíceis da vida nacional, agindo de forma a contornar crises. Quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República em agosto de 1961, foi um dos negociadores que tratou com o vice-presidente João Goulart para que fosse aceita provisoriamente a solução do parlamentarismo, tendo ocupado a vaga de primeiro-ministro por pouco menos de dez meses. Ali, a preocupação, como confessou Tancredo mais tarde, não era efetivamente o que ele pudesse fazer como líder do Parlamento, mas sim evitar o que estava para ser feito: um golpe militar.

Quando o golpe se materializa em 1964, Tancredo é o único parlamentar do PSD mineiro que não vota no marechal Castelo Branco, primeiro presidente eleito indiretamente pela ditadura. Mesmo assim, durante o período ditatorial, não deixou de ter suas pontes com os militares. “Ele era uma pessoa conservadora, um político moderado que mantinha um diálogo com os militares. Não organicamente como José Sarney, claro, mas Tancredo sempre quis fazer uma transição negociada para a democracia”, explica de Ângelo.

A polêmica da posse

Depois da eleição em que derrotou o candidato do PDS no Colégio Eleitoral, Paulo Maluf, Tancredo montou um ministério que atendia às necessidades da aliança encabeçada por ele, contando com dissidentes do PDS em cargos importantes, como Aureliano Chaves, ex-vice de João Figueiredo, na pasta de Minas e Energia, e Marco Maciel no Ministério da Educação. Para a Fazenda, entretanto, trouxe um homem de confiança, o hoje senador pelo PP-RJ Francisco Dornelles, seu sobrinho.

Porém, o mineiro carregava consigo uma diverticulite que progredia silenciosamente. Um dia antes de sua posse, em 14 de março de 1985, a doença não pôde mais ser escondida. “Ele havia tido uma crise nos Estados Unidos, em uma das suas viagens ao exterior, logo depois de eleito. A verdade é que sofria, resistia, não queria operar, principalmente às vésperas da posse, preocupado com a consecução da transição democrática”, conta Lyra em seu livro. Na noite anterior a 15 de março, dia marcado para a posse, Tancredo foi internado com uma crise aguda e não teria condições de sair do hospital para a cerimônia de transição do cargo, pois seria operado naquela mesma noite.

A primeira pergunta que surgiu quando os políticos envolvidos na campanha se reuniram, antes mesmo de considerar se Tancredo estaria em condições de saúde no dia seguinte para assinar a posse no próprio Hospital de Base, foi: “Quem tomará posse?”. José Sarney, em entrevista realizada no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2005, conta que encontrou Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados, no Hospital de Base de Brasília, onde Tancredo havia sido internado. No encontro, trataram da questão. “Minha primeira reação foi uma reação pessoal e de natureza sentimental. Eu disse para ele: ‘eu não quero assumir, senão com o Tancredo’. E estava na certeza de que o Tancredo, dali a alguns dias, estaria bem. Aí Ulysses me diz: ‘Olha, Sarney, nós não temos que examinar nenhum problema pessoal neste momento. Nós temos a responsabilidade de atravessar esse momento político, porque o Brasil se preparou um longo tempo para isso, nós construímos e agora, neste momento, nós temos é que ter decisões. Vamos saber o que nós vamos fazer e de que maneira devemos fazer. Você deve assumir a Presidência da República.”

Nesse momento, a participação do general e futuro ministro do Exército de Tancredo Neves, Leônidas Pires Gonçalves, teria sido decisiva em prol da posse de Sarney. “ [Leô­nidas] disse: ‘Vamos ao Leitão de Abreu [na época, ministro-chefe da Casa Civil de Figueiredo] comunicar que o Sarney toma posse às dez horas da manhã na Presidência da República, ele que é o vice-presidente’. Ele, então, não admitia mais esse fato de que nós devíamos discutir. A partir desse momento, eles foram para a Granja onde ele estava, não era a do Torto, era a do Ipê. Então lá tiveram uma conversa com o Leitão, e o Leitão teve a oportunidade de dizer a eles que achava, como o presidente Figueiredo também achava, que quem deveria assumir era o Ulysses. E eles pediram: ‘Tragam a Constituição’. E no meio da leitura da Constituição, ficou ali claramente decidido que eu assumiria”, conta Sarney.

A teoria jurídica colocada em questão era se o cargo seria repassado para o vice eleito na chapa, Sarney, ou para o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses. O advogado Saulo Ramos diz, em sua autobiografia romanceada Código da Vida, que foi ele quem deu a argumentação jurídica para a defesa da tese constitucional: quem deveria assumir a presidência era o presidente eleito ou o vice. Mas sua visão sobre a postura de Ulysses Guimarães no episódio é distinta da de Sarney. Segundo Ramos, Ulysses teria ficado alvoroçado com a possibilidade de se tornar presidente por um imprevisto e que resistira a todos os argumentos que defendiam a posse de Sarney, com o apoio enérgico de Mário Covas e o coro de parlamentares como o deputado Freitas Nobre e o senador Saldanha Derzi. Mas, enfim, rendeu-se, com seus apoiadores, ao argumento constitucional.

Ramos afirma que os militares exerceram forte pressão na escolha do vice-presidente, embora seu nome não fosse bem visto pelo gabinete de Figueiredo, que o considerava, assim como os outros dissidentes do PDS, “traidor”. Ainda assim era um nome mais confiável nas Forças Armadas que o presidente da Câmara. “De longe os militares preferiam Sarney, que fez parte do regime, a Ulysses, que era mais combativo. Não é à toa que eu digo: o Brasil não passou de um governo militar para um regime democrático; passou de um regime militar para um ‘governo Sarney’”, pontua.

Governo Sarney – da euforia à frustração

Sarney manteve a composição ministerial de Tancredo Neves, também pela expectativa de que o presidente realmente se recuperasse e assumisse seu planejado governo. Apesar dos rumores de que Tancredo já estaria definitivamente sem condições de assumir o cargo quando foi internado, ou mesmo de que sofrera um atentado (as teorias conspiratórias eram muitas à época, com diferentes algozes), havia contraponto nas notícias oficiais de progresso médico, dadas pelo porta-voz Antonio Britto e acompanhadas de perto pelo religioso Frei Betto, que, segundo Lyra, era quem dava as informações para os mais próximos.

O próprio Lyra afirma ter visitado Tancredo Neves na UTI em uma ocasião em que ele estava sentado e lúcido, interessado nas notícias políticas. Porém, depois de submetido a sete cirurgias em pouco mais de um mês, Tancredo não resistiu e faleceu. Sarney, como presidente de fato, passou então a decidir com mais clareza, tendo definido que o próprio mandato se estenderia após o término dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte. Depois de um ano como presidente, realizou sua reforma ministerial, substituindo alguns nomes-chave de Tancredo por outros.

Mas antes mesmo da reforma, um dos principais nomes do ministério tancredista já havia saído. Francisco Dornelles, ministro da Fazenda, entrou em rota de colisão com as aspirações dos desenvolvimentistas do PMDB. Foram quatro meses de turbulências, a orientação de Tancredo era de uma linha econômica ortodoxa, seguindo a cartilha do FMI, já que a premissa era que o governo deveria fazer um acordo com o Fundo para retomar os empréstimos que estavam suspensos. A preocupação era conter os gastos públicos e evitar uma disparada da inflação. Assim, o ministro já havia promovido um corte de 10% no orçamento da União, congelado por um ano a contratação de pessoal para o setor público e mantido suspensos por dois meses os empréstimos dos bancos governamentais.

No entanto, havia uma ligeira queda nos índices inflacionários, tanto que em abril de 1985, a inflação tinha batido em 7,2%, que era a menor taxa desde 1983. Para o padrão da época, não parecia algo que justificasse as medidas – impopulares – tomadas e também as planejadas por Dornelles, ainda mais levando-se em conta que a meta de crescimento anual estabelecida pelo governo era de 5%.

O ministro do Planejamento João Sayad, um dos principais opositores de Dornelles no governo, definia assim a situação econômica, de acordo com entrevista publicada no livro Histórias do Poder – 100 anos de política no Brasil: “A inflação estava subindo, o Delfim – o governo anterior – deixou a economia como uma criança que quebra o vaso na sala, disfarça e vai embora: o primeiro que tocar quebra”. A tentativa de solução tomava corpo a partir da posse do então presidente do BNDES e empresário paulista Dílson Funaro como ministro da Fazenda. Sua indicação representava não só uma vitória dos desenvolvimentistas, como o retorno de São Paulo no comando institucional da economia.

Dentro desse contexto nascia o Plano Cruzado, em fevereiro de 1986. Congelamento de preços, salários e da taxa de câmbio, desindexação da economia. Planos similares haviam sido implantados em Israel e na Argentina, com sucesso àquela altura, porém, em condições diferentes. “Nós sabíamos fazer a desindexação, mas não podíamos nem segurar os salários, seria injusto porque estávamos no fim de um período de arrocho de salário, vínhamos do fim do governo militar; era a hora que os trabalhadores queriam salário maior. E o câmbio – nós não tínhamos dólar nem para as reservas mínimas – também não podíamos segurar. Se não se podia segurar nem o câmbio, nem o salário, nós seguramos todos os preços; foi o congelamento que, visto sob a perspectiva histórica, hoje a gente sabe que é impossível”, conta Sayad na entrevista.

Após o sucesso dos partidos governistas nas eleições estaduais, o governo promove o Plano Cruzado II no dia 21 de novembro, liberando os preços e consolidando o fracasso da tentativa de estabilidade econômica. Sarney conviveria até o fim de seu governo com a inflação em alta, planos sucessivos que naufragaram e uma luta ferrenha para assegurar os cinco anos de mandato na Assembléia Constituinte. Concessões de rádio e TV, favores para conquistar aliados e a saída nada honrosa do então presidente, que saiu com um índice de popularidade baixíssimo em meio a uma crise hiperinflacionária: entre fevereiro de 1989 e março de 1990, a inflação chega ao incrível índice de 2.751%. Terminava assim o primeiro ciclo da Nova República, com parte da população atribuindo à democracia as mazelas gestadas durante o regime militar.

O legado político e a força dos militares

Mas se o fim do governo Sarney foi melancólico, importantes conquistas daquela época existem até hoje. A passagem da Nova República marcou a transição para um ambiente de pluralismo que viabilizou a consolidação dos partidos que hoje compõem o cenário político brasileiro.

“O PT se consolida nas manifestações no início da Nova República. Ele surge ainda durante a ditadura militar, depois se envolve intimamente com os projetos das Diretas – apesar de não participar do Colégio Eleitoral –, e ainda participa da elaboração da Constituição de 88, embora não a tenha assinado. Esses três momentos são fundamentais para entender o partido”, aponta Vitor Amorim de Angelo. Para ele, o PT de hoje é um desdobramento desses episódios. “Nos anos 90 há um desenrolar desse movimento anterior, há uma mudança do próprio partido e uma inflexão na conjuntura internacional”, analisa.

Já o PSDB tem seu DNA marcado de forma mais forte pelo início da Nova República, já que sua origem está ligada a um racha ocorrido no PMDB durante a Assembléia Constituinte. “Os dois partidos (PT e PSDB) são aqueles que, ao lado do PMDB, sobreviveram a esse período como partidos grandes. O PMDB não é nem sombra – em termos de atuação política, do pensamento ideológico – do que foi um dia. O PT e o PSDB são legendas grandes, importantes, que participaram da construção desse que é o nosso período democrático mais longo, dentro da democracia chegaram ao poder e imprimiram muitas das políticas públicas discutidas nos anos 80”, explica.

Ao deslocar a visão para fora de Brasília e dos burburinhos da política institucional, a sociedade brasileira viveu uma efervescência política condizente com um período de transição. A campanha pelas eleições diretas, embora frustrada, havia deixado claro que milhões estavam envolvidos em debates de interesse social. E as movimentações, a despeito da repressão, cresciam desde a década de 70. “O movimento da carestia, o movimento da saúde começando muito forte em São Paulo, as pastorais da Igreja Católica etc., eram combativos, mas estavam do lado de fora do Estado. Nos anos 80 e com a Nova República, começam a se organizar e a lutar democraticamente por uma fatia de poder”, analisa José Veríssimo Romão Netto, do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.

Essa presença dos movimentos se fez sentir com mais força na Assembléia Nacional Constituinte, formada por parlamentares eleitos na mesma época da eleição para governos estaduais, no final de 1986. “O movimento popular na área de saúde é emblemático. É por ele e pelo movimento sanitarista que se inscreve na Constituição o capítulo referente ao SUS”, lembra José Veríssimo. Com vitórias e derrotas, a sociedade organizada foi ouvida e, ainda, conseguiu fazer com que a própria Constituição ampliasse as possibilidades de participação, um passo importante para a consolidação de uma democracia participativa.

“Na década de 90, o Estado, subsidiado pela Constituição de 88, abre uma série de canais de comunicação direta com a sociedade civil: Conselho Popular de Saúde, auditorias, conferências públicas, Orçamento Participativo, plebiscito, lei de iniciativa popular… O poder popular não estava mais restrito aos momentos de eleição, não é apenas de quatro em quatro anos que existe o julgamento das pessoas de seus representantes”, avalia o pesquisador.

No entanto, nem todo legado é positivo. Muitos grupos e correntes de defensores de direitos humanos, boa parte deles familiares de vítimas dos abusos do regime militar, defendiam a abertura dos arquivos e a revisão da “anistia geral e irrestrita”. Nos limites da negociação referida por Maria Celina D’Araújo, os interessados faziam suas tentativas de rever os limites da Lei de Anistia. “A anistia e o veto a qualquer tipo de revisão dos excessos do regime eram pontos muito claros para Figueiredo, e foram aceitos pelos parlamentares e todos os civis envolvidos no longo processo de negociação, inclusive por integrantes do PC do B, que viam na aceitação dessa condição a única maneira de se viabilizar a abertura”, conta.

Além disso, os militares eram uma força presente na discussão, se não atuando diretamente, praticando seus lobbies para garantir a blindagem construída desde 1974. “Na própria Constituinte houve sempre uma tutela militar. Os militares tinham seus meios de colocar o que era viável ou não. Eles não tinham voto, mas tinham um grande poder de veto. O Leônidas [Pires Gonçalves] fazia constar sua postura; não sei se ele se encontrava com Ulysses e Sarney, mas certamente tinha um grau de influência muito grande”, explica Gláucio Soares. Na visão de Maria Celina, “havia um clima, sempre uma dúvida para os constituintes, no sentido de ‘será que os militares vão aprovar’? Muito disso era uma paranóia, mas era uma preocupação presente”.

Desse modo, mesmo que ganhando espaço gradualmente após 1985, a sociedade civil, no entanto, não conquistou plenamente o poder de forma a desequilibrar a força do poderio militar que, à sua maneira, não se ausentou dos espaços de decisão. “Na república brasileira, nunca houve grau de autonomia dos militares inferior ao visto em outros países da América Latina depois do fim dos regimes autoritários”, avalia Soares. Para ele, foi engenhoso da parte dos militares que comandaram a distensão criar formas de democratização gradual e, portanto, lenta, porque medidas drásticas como o julgamento de abusos cometidos durante períodos de exceção são mais eficazes se adotadas com rapidez. “Se hoje o Brasil fizer um julgamento radical como se fez na Argentina, vai condenar cadáveres ou pessoas muito idosas”, aponta.

A principal bandeira de familiares de vítimas da violência da ditadura e militantes por direitos humanos é de se abrir os arquivos, outro ponto blindado pelos militares no longo processo de abertura. “A influência dos militares decresce, mas está longe de ser zero. As Forças Armadas continuam tendo um grande poder de veto. É um veto discreto. Eles conseguem manter a versão de que não existem documentos a ser divulgados, que tudo foi destruído, mas volta e meia aparece algum documento. É claro que esses documentos estão lá”, aposta Soares.

Maria Celina é firme ao não responsabilizar apenas as intenções controladoras dos militares. “Colocar o Leônidas como Ministro do Exército e vetar a iniciativa de criação de um Ministério da Defesa para controlar as Forças Armadas, naquele momento, foram medidas interessantes para evitar mudanças de rumo, mas se isso aconteceu, é porque foi resultado de concordância dos setores civis envolvidos na negociação. E isso se dá até hoje”, diz, referindo-se às sucessivas polêmicas envolvendo a revisão da anistia e a abertura de arquivos, como a polêmica gerada em torno do lançamento do novo Programa Nacional de Direitos Humanos. Para ela, essas polêmicas são abafadas no sentido de não reavivar a memória do período da ditadura, mais por falta de peso político para a pauta do que receio dos militares. “Na prática, não há medida de força que os militares possam tomar hoje contra episódios que confrontem sua postura silenciosa”, afirma.

Isso, para ela, consolida a grande conquista iniciada na Nova República: a consolidação de uma política em que não se cogita o uso de armas e de força, mas de idéias e palavras, num processo conduzido essencialmente por civis.

quarta-feira

As gafes de Serra...

Jarbas: Lambe ovos oficial...

Jarbas Vasconcelos disse, no dia de ontem, que nunca foi oposição à Lula, que Lula está sendo um bom governo e que a disputa aqui em Pernambuco nada tem a ver com a eleição nacional.Segundo Jarbas, o adversário dele é Eduardo Campos(PSB-PE) e não Lula.Ah! tá, Jarbas, assim como José Serra, pensa que com essa conversa mole vai enganar o politizado povo de Pernambuco.Não vai mesmo. O povo de Pernambuco sabe que Jarbas passou quatro anos no Senado em plena oposição ao governo Lula.Jarbas assinou todas CPIs contra o governo Lula, Jarbas votou contra a prorrogação do CPMF, Jarbas torceu contra a instalação da Refinaria Abreu e Lima aqui em Pernambuco.Jarbas disse que Lula crriou o maior programa de compra de voto do mundo, o Bolsa Famíla.Agora, de uma hora para outra, Jarbas finge de bonzinho, que desde criancinha gosta de Lula. Conta outra, Jarbas.

terça-feira

Todos os amantes...




Dançar
É tudo que eu quero fazer
Então, você não quer
Dançar
Eu estou aqui com você
Por que você não se mexe?
Vou entrar na sua onda
Porque eu estou pegando fogo fogo fogo fogo

Machuca
Quando você chega perto demais
Amor, você sabe que dói
Se o amor é realmente bom
Você simplesmente quer mais
Mesmo se te jogar para o fogo, fogo, fogo, fogo

Todos os amantes
Que passaram antes
Eles não se comparam a você
Não se assuste
Apenas me dê um pouco mais
Eles não se comparam
Todos os amantes

Sentir
Você não vê que há muito aqui para sentir
Bem no fundo do seu coração
Você sabe que eu sou de verdade
Você não consegue ver que está mais alto, mais alto,
mais alto, mais alto

Respirar
Eu sei que você acha que é difícil,
Mas, amor, respire
Você está ao meu lado
É tudo que você precisa
E eu vou te levar lá
Eu vou te levar mais ao alto, mais alto, mais alto

Todos os amantes
Que passaram antes
Eles não se comparam a você
Não se assuste
Apenas me dê um pouco mais
Eles não se comparam
Todos os amantes

Dançar
É tudo que eu quero fazer,
Então você não quer dançar?
Eu estou aqui com você,
Por que você não se mexe?
Mesmo se te jogar para o fogo, fogo, fogo, fogo

Todos os amantes
Que passaram antes
Eles não se comparam a você
Não se assuste
Apenas me dê um pouco mais
Eles não se comparam
Todos os amantes