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#BlogNemComento - O caso Palocci e o aburguesamento da cúpula petista


Por Anderson Rodrigo

As denúncias de enriquecimento ilícito contra Antonio Palocci são esclarecedoras de um fenômeno que há muito tempo vem ocorrendo entre os dirigentes petistas. Não quero tratar aqui se o enriquecimento de Palocci é devido à corrupção ou não, mas de analisar o caso sob o prisma da política, particularmente da luta de classes.

Independente de serem ou não legais os meios pelos quais Palocci enriqueceu 20 vezes seu patrimônio nos últimos anos, é necessário analisar o fenômeno que ocorre há pelo menos duas décadas, do enriquecimento dos dirigentes e lideranças do PT. Palocci, neste caso, é apenas mais um exemplo, juntando-se a José Dirceu, que segundo ele mesmo tem uma remuneração mensal de 300 mil reais, ou o ex-presidente Lula que atualmente recebe 200 mil reais por cada palestra proferida para empresas privadas, além de inúmeras outras lideranças do PT que direta ou indiretamente enriqueceram através da política.

A bancada do PT no Congresso Nacional conta hoje com mais de 10 milionários, além de vários outros parlamentares que não chegam a ter seis zeros em suas contas bancárias, mas que estão muito longe de serem trabalhadores.

Temos hoje um distanciamento econômico gigantesco entre a direção petista e sua base, o que resulta num partido supostamente de trabalhadores mas com uma direção burguesa.

Este processo de enriquecimento das lideranças petistas está espalhado em todas as esferas. Há uma multidão de prefeitos, governadores, vereadores, deputados petistas entre outros que descobriram uma outra motivação para fazer política, qual seja: ganhar dinheiro, aliás muito dinheiro.

O fenômeno da mudança de classe destas pessoas possui uma relação direta com o processo de degeneração do Partido dos Trabalhadores. Parafraseando Marx: “ as condições materiais de existência determinam a consciência”.

O que acontece com toda essa camada “emergente” petista é que já não se identificam mais com a classe trabalhadora, para muitos deles a defesa dos interesses dos trabalhadores transformou-se em apenas retórica para ganhar votos.

A mudança de classe tem um preço, vem acompanhada de uma nova consciência, uma nova forma de enxergar o mundo, a partir da ótica da classe dominante da qual agora fazem parte. Obviamente este processo não é automático e provavelmente uma parte destes novos burgueses devem ter “crises de consciência” e são movidos por um voluntarismo sincero que os faz se iludir que mesmo tornando-se burgueses ainda podem continuar ao lado dos trabalhadores. Não se trata de enxergar a “maldade no coração dos novos burgueses petistas”, mas de compreender que ao mudarem de classe, estas pessoas conscientemente ou não, vão gradativamente assumindo os interesses de sua nova classe.

Junto com esta nova consciência, fez-se necessário o surgimento de um novo partido, no qual nossos companheiros burgueses não se sentissem tão deslocados. As “atualizações programáticas” feitos pelo PT nos últimos anos vem dando conta disso. O socialismo vem se tornando cada vez mais uma referência vaga, um sonho utópico , que no final das contas quer dizer apenas um capitalismo com um pouco de distribuição de renda.

Como já dito acima, à medida que seus dirigentes se incorporam à burguesia, o PT adapta-se cada vez mais ao capitalismo. E os trabalhadores que ainda compõem a base desse partido detêm hoje poucos meios para reverter tal situação, uma vez que os organismos de democracia interna do PT atualmente quase inexistem.

Como se vê, o “caso Palocci” é apenas uma pequena parte do problema vivido hoje pelo PT e conseqüentemente pela esquerda brasileira.

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