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domingo

Sentimento do Mundo...

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar,
o céu estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo,
morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação do sineiro,
da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais noite que a noite.

(poema: Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade)

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