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quinta-feira

Vamos ocupar a UNE

A atual gestão da UNE, iniciada em 2007, reflete esse momento geral de dispersão do ME e da ação política da UNE.

No debate mais geral, as forças políticas que constroem a UNE acertaram ao assumir a elaboração do projeto de reforma universitária da UNE como prioridade de gestão em relação à educação. Na mesma busca por unidade com outros movimentos sociais, outro acerto foi a construção da Jornada de Lutas em defesa da Educação Pública, em agosto de 2007, e a participação no Plebiscito da Vale, no mesmo semestre.

No debate do REUNI, contudo, a posição da direção majoritária da UNE permaneceu vacilante e conciliatória. A resolução sobre o Programa aprovada na primeira reunião de diretoria por amplos setores da entidade se estruturava a partir de uma crítica acertada sobre a ausência de debates e prazos para aprovação dos projetos enviados ao MEC; reconhecia a expansão da rede federal promovida pelo REUNI como um avanço, mas reivindicava a derrubada dos vetos de FHC ao PNE e apresentava de forma clara sua oposição a diplomação intermediária presente nos Bacharelados Interdisciplinares.

Essa política, combinada com um decidido chamado a mobilização dos estudantes das federais, poderia ter impulsionado lutas em defesa da expansão com qualidade por nós defendida. A postura de alguns setores da UNE, contudo, caminhou em sentido oposto em muitas universidades, num misto de adesão acrítica, omissão, ou organizando “tropas de choque” das reitorias nos conselhos superiores.

No plano interno da entidade, também tivemos idas e vindas. O fato é que a oposição interna e a presença do divisionismo obrigaram no último período a força política majoritária da UNE a incorporar algumas mudanças na gestão, como a valorização formal dos fóruns da entidade e a retomada da periodicidade do CONEB.

Embora importantes, essas mudanças não deram conta de representar um processo concreto de democratização da entidade. Parte delas, inclusive, como o Conselho Fiscal e Editorial da UNE ainda têm que sair do papel. Em linhas gerais, são mudanças extremamente insuficientes para os desafios que a UNE possui no próximo período.

Na verdade, no essencial nada mudou, ou seja, a relação da UNE com o conjunto do ME continua limitada e insuficiente e a linha política e o controle da estrutura da UNE continuam centralizados. Em uma imagem literária, poderíamos fazer referência ao personagem da conhecida obra do autor italiano Lampedusa, “O Leopardo”, que a certa altura diz que é “preciso mudar, para tudo permanecer como está”.

Ao mesmo tempo, ficou evidenciado que apesar de todos os limites, a UNE possui grande potencial de mobilização. Mesmo não assumindo a responsabilidade de pólo organizador da luta estudantil no último período, constatamos a presença política da UNE, manifestada pelas diversas correntes de opinião da entidade, em todas as últimas grandes ocupações e mobilizações estudantis.

Por isso, defendemos que a UNE pode cumprir um papel importantíssimo na defesa do direito à educação pública e gratuita para todos(as), no combate à sua mercantilização e no fortalecimento do movimento estudantil brasileiro. É com essa convicção que participamos, construímos e disputamos seus rumos no dia-a-dia das lutas estudantis.

Defendemos uma outra hegemonia política no movimento estudantil. Uma alternativa capaz de agregar os setores que pautaram historicamente a democratização da UNE, em momentos como a implantação da proporcionalidade na composição de sua diretoria, na construção do Mude (Movimento UNE Democrática), na luta pela realização periódica dos fóruns da UNE como o CONEB e no impulso dado a iniciativas como os Encontros de Mulheres, Negros/as e a criação da Diretoria LGBT da UNE.

Por isso é que devemos reivindicar e disputar a UNE na base, em cada passeata, ocupação de reitoria e luta política na sociedade. Fazer isso é mostrar que o lugar dela é na rua, mobilizada e presente nas lutas estudantis.

Desta disputa, não abriremos mão. Ter essa postura não é se tornar refém da política moderada da maioria da UNE. Ter esta posição é optar pela disputa de opinião e hegemonia de um conjunto maior de estudantes e entidades que têm referência na União Nacional dos Estudantes. Fazer esta movimentação é por em prática, novamente, a postura que os setores combativos do ME tiveram nas greves de 1998 e 2001, no Plebiscito do Provão, na campanha contra a Mercantilização da Educação e em todos os demais momentos que a maioria da UNE se omitiu em construir a luta dos estudantes.

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