Mesmo reconhecendo que se trata de uma conjuntura diferente, 2010 vem sinalizando um ano de reprodução da estrutura política arraigada em Pernambuco desde 1986. Aquela que posso chamar de “reeleição” de Dr. Arraes simbolizou muito claramente a continuidade de um projeto político que hoje vem tentando ser resgatado, mas sem a adesão popular que outrora se fazia marcante.
Cumprindo a sua função essencial de contenção dos avanços da esquerda nacional, o Senado Federal continua abraçando os segmentos mais conservadores e retrógrados da sociedade brasileira. Orgânico em seu propósito, sectário em seus posicionamentos, e, sobretudo, blindado à representatividade dos movimentos sociais, o Senado, em seu sentido institucional, sempre revelou-se como contraponto ao projeto político de desenvolvimento social e econômico que o “Governo PT” ousa implementar em nosso País.
Ocorre que o esvaziamento da pauta político-institucional referente à disputa da composição do Senado Federal vem se tornando uma prática viciosa e alimentada por uma despolitização que se mantém mesmo após o “processo de redemocratização” vivido no Brasil.
Em Pernambuco, as discussões acerca dos nomes para a composição dessa disputa não são diferentes do cenário nacional. O “Arraes ta aí! Arraes taí de novo!” não significou somente o “arrastão” da massa que esperava ansiosa a sua volta. Parece-me que o sentido do jingle significava algo que, mesmo inconsciente, reproduzia a real função de Mansueto e Antônio Farias na chapa majoritária, a de postulantes desprovidos de um projeto político para o Senado que foram literalmente “arrastados” pelo Palácio das Princesas.
Afinado com mesmo alinhamento vomitado pela conjuntura, José Jorge, em 1998, cumpriu a mesma função dos antecessores, seguido, em 2002, por seus colegas, Marco Maciel e Sérgio Guerra.
Não faço aqui uma defesa de uma postulação independente do Partido dos Trabalhadores em 2010. Acredito que a discussão tinha que ser ampla e que a composição deveria ser debatida em consonância com o cenário estadual e nacional. Entretanto, nada disso implica a manutenção do esvaziamento do conteúdo programático do PT na disputa.
Limitar a discussão interna ao campo tático e estratégico na indicação do companheiro Humberto Costa para a composição da disputa de outubro, significa mais uma chance desperdiçada no enfrentamento às raízes históricas da instituição.
Não vejo experiências sólidas de construção política na história do nosso candidato. Vejo sim um acúmulo de políticas públicas ligados à máquina administrativa, não uma referência ideológica que possa travar as grandes discussões programáticas para Pernambuco.
E acho que esse foi o nosso grande erro na disputa interna. Precisávamos fazer o que fizemos em 2000, uma discussão ampla com o povo acerca de uma alternativa política para sociedade.
João Paulo é uma construção coletiva de responsabilidade exclusiva do povo. O reducionismo da discussão interna à composição de forças é um debate que agrada a quem detém a hegemonia do sistema. Não se arvorar do nosso principal combustível na política (o povo) é estreitar laços com o dirigismo arbitrário pautado em números. E esse sempre foi o instrumento utilizado pela direita em nosso País.
Nesse cenário, observo que a candidatura do companheiro Humberto Costa em nada se diferencia daquilo que vivemos na história do nosso Estado, pairando no ar somente a dúvida se o Governador Eduardo Campos quer realmente “arrastá-lo”.
0 falações!:
Postar um comentário