Por Taiguara Fernandes de Sousa.
Ademais, um petista nunca respeita a forma de um debate: sempre desce a níveis crassos de gritos e ranger de dentes. Ao interlocutor, necessário se faz pular na lama para combater o inimigo enlameado: se eles gritam, gritamos também e assim mostramos que não estamos de brincadeira.
Pois um petista, como seus amigos quadrilheiros de Sierra Maestra, só entende de altos brados retumbantes.
Assim, onde digo “debate”, leia-se “debate com um petista”, coisa que, por definição, possui natureza peculiar e bem distinta de um “debate” propriamente dito.
Mas o petista me mandou “ler”...
Isso porque ser conservador, para um petista, é estar num estágio inferior de inteligência, num nível inadmissível de miséria intelectual, que talvez somente o Ministério da Educação seja capaz de curar, após muitas provas de ENEM bem aplicadas. Ser conservador, para um petista, é ser um leproso da inteligência, um pária do esclarecimento, um não-gente no ostracismo das mentes pensantes, para o qual o único remédio é... “ler”.
Porque um petista, vocês sabem, lê muito.
Sempre que não conseguimos atingir a profundidade de suas reflexões filosófico-políticas, o petista tem a resposta: é porque não “lemos”.
“Leia!”, diz o petista aos pobres conservadores. “Leia!”, dí-lo a estas pobres mentes impensantes.
Somente pela “leitura” chegaremos um dia ao nível de intelecção que permite a um petista acusar a política econômica dos Governos anteriores de “neoliberal” e continuar utilizando a mesma política econômica em seu Governo, dizendo agora que “nunca antes na história destepaiz” houve política tão social! Será preciso muita leitura para entender como o mesmo objeto em essência poderá receber ora a impugnação, ora a louvação, a depender de quem ocupe a cadeira da Presidência.
Somente pela “leitura” chegaremos um dia ao nível de inteligibilidade que permite a um petista condenar o Governo Militar como ditatorial e torturador e louvar, quase que concomitantemente, Fidel Castro e Hugo Chávez como heróis da liberdade.
Não consigo, não consigo... Eu “leio” muito pouco!
Sim, eis o problema: pouca “leitura”.
“Leia!”, diz o petista ao conservador.
E, de pronto, encerra o debate. Dá as costas e sai orgulhoso de sua ordem vitoriosa.
Por que, afinal de contas, o que faria uma mente tão elevada com a de um petista perder tempo com pobres almas de raciocínio mórbido que, além de serem conservadoras, não lêem?!
Não, não. Deve estar correto o petista. Devemos “ler”.
Quando atingirmos, então, o seu nível de “leitura”, haveremos de debater.
Entretanto... como “ler”?
Peço vênia ao leitor, desde já, por, sendo eu pessoa de tão pouca leitura, atrever-me a fazer as seguintes considerações sobre tão nobre e profundo raciocínio da argúcia petista.
O petista me manda “ler”...
Tomemos Hugo de São Vítor. Aos petistas, que “lêem” muito, não precisarei explicar quem é. Mas aos conservadores, miseráveis de pouca “leitura”, direi que foi o maior pedagogo da história, exercendo em Paris os ofícios de professor por volta do século XII, tendo deixado uma linhagem de grandes pensadores.
No seu célebre Opúsculo sobre o modo de Aprender e Meditar, o eminente pedagogo preleciona que “os que se dedicam ao estudo devem primar simultaneamente pelo engenho e pela memória”.
O engenho e a memória estão intrinsecamente unidos no estudo bem-sucedido, sendo o primeiro “um certo vigor naturalmente existente na alma, importante em si mesmo” e a segunda “a firmíssima percepção das coisas, das palavras, das sentenças e dos significados por parte da alma ou da mente”.
“O que o engenho encontra, a memória custodia”, completa.
O engenho seria a firme vontade de conhecer – voluntas cognoscendi–, o desejo que impulsiona a alma à busca da Verdade, um vigor necessário para encontrar o conhecimento certo das coisas, conhecimento que a memória passará a custodiar.
Mas, continua Hugo de São Vítor, “[d]uas coisas há que exercitam o engenho: a leitura e a meditação. Na leitura, mediante regras e preceitos, somos instruídos pelas coisas que estão escritas. A leitura é também uma investigação do sentido por uma alma disciplinada”.
A leitura - é lição vitorina - nos instrui, nos informa, é uma “investigação do sentido pela alma disciplinada”, é a recorrência aos livros, muitas vezes compaginados militarmente por horas a fio, na busca de matéria-prima para o pensamento.
Mas não é tudo.
Diz o nobre pedagogo que são duas as coisas que exercitam a voluntas cognoscendi: além da leitura, a meditação.
São palavras suas: “A meditação é uma cogitação freqüente com conselho, que investiga prudentemente a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa. A meditação toma o seu princípio da leitura, todavia não se realiza por nenhuma das regras ou dos preceitos da leitura. Na meditação, de fato, nos deleitamos discorrendo como que por um espaço aberto, no qual dirigimos a vista para a verdade a ser contemplada, admirando ora esta, ora aquelas causas das coisas, ora também penetrando no que nelas há de profundo, nada deixando de duvidoso ou de obscuro. O princípio da doutrina, portanto, está na leitura; a sua consumação, na meditação”.
Assim, a leitura instrui, mas é pela meditação que a alma realmente apreende a Verdade, encontra o significado da leitura, destrincha cirurgicamente o livro, deleita-se nele, investiga com prudência, pela razão, “a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa”. Donde que a leitura não é um fim em si mesmo. Nem a meditação. A leitura é o meio inicial, ao qual se segue a meditação, para a consecução da doutrina, do conhecimento.
São lições de Hugo de São Vítor.
Onde quero chegar?
O petista me manda “ler”...
Diz-me para entulhar coisas na cabeça, mas nada sobre separá-las, organizá-las e até jogar fora o que não presta.
O petista me manda “ler”, mas ele mesmo não lê, nem medita.
Os petistas que mandam “ler”, quando muito, vão aos congressos do Partido, são ali doutrinados, enfiam-lhes cabeça adentro uma infinidade de chavões para que de lá saiam roboticamente militando na idolatria ao Poderoso Chefão. E ainda acusam os opositores de não “ler”.
O que lê um petista? Qual petista já leu Russell Kirk, G.K.Chesterton, Gustavo Corção, Tocqueville, Maritain, Tomás de Aquino, Aristóteles, Mises, Hayek ou Rothbard?
Mas qual conservador nunca leu Marx, Engels, Lenin e, para ficarmos entre nós, Konder?
Eu sou conservador, e já li Marx, Engels, Gramsci, Lenin e Konder.
Mas o petista que me mandou ler, nunca tocou num livro de Kirk, Chesterton, Corção, do Aquinate ou do Estagirita, só para citar alguns dentre os muitos que sei que ele não leu nem meditou – e eu, pelo menos, já li – e que por isso mesmo não estaria em condições de debater comigo de igual para igual.
Eu, conservador, já li os ideólogos dos petistas e os filósofos conservadores. O petista que me mandou ler mal leu seus ideólogos, muito menos os “meus” filósofos.
Com que autoridade os petistas me mandam “ler”?
Um petista não lê. E, quando lêem – sempre e somente os livros que o Partido lhes empurre –, não meditam. Em suma, ou não têm o princípio do conhecimento – a leitura – ou não chegam à sua consumação – a meditação.
É por este motivo que seus ideólogos – estes, sim, já leram, meditaram e são comunistas de caso pensado, por saberem os benefícios que o Estado burocrático e autoritário proporcionará aos amigos do poder – lhes apelidam sugestivamente de “idiotas úteis”: pessoas que não lêem nem meditam, e que deixaram suas mentes ser domesticadas pelo Partido, transformadas num depósito de tralhas pré-fabricadas pela ideologia. São marionetes adoradoras incondicionais do Poderoso Chefão, muito úteis à manutenção do Grande Irmão e sua quadrilha no poder.
Ou vocês acham que, sem pessoas como o petista que me mandou ler, algum comunista se manteria no poder com seus métodos econômicos falidos, sua filosofia política burra e seu jeito de governar autoritário?
Desta feita, aos petistas que me mandam “ler”, digo: “ler”? Comovocês?
Não, obrigado! Prefiro não “ler”!
O maior ignorante é aquele que pensa que sabe ou pensa que ‘ler’.
De fato, ao ler tal argüição do Taiguara Fernandes de Sousa percebo o quanto se falta debate interno e externo na composição não-mística da Igreja de São Pedro. Em outrora perceberíamos um fomento teórico nas CEB’s, Centro Sociais ou no, velho e novo, Salões Paroquiais por aí afora, mas, nosso presente é maculado pelo fanatismo, intolerância e a reprodução excessiva de uma pseudo-guerra Santa do Islã.
Não preciso ir ao século XII para falar de ‘reflexão’ no ato de ler. Pois, a ação da leitura deve ser desemborcada na Educação Histórica[1], e assim, atuando na práxis do saber Histórico, coisa que o autor, provavelmente, desconhece, desmerece ou marginaliza. Citando o século XIX, por exemplo, indico Nietzsche que não é Ateu como o senso comum reproduz, pelo contrário, demonstra toda sua perspicácia ao analisar que o ‘Deus’ esta fragmentado em mercados do ‘eu’ e em guerras do outro. Esse ‘Deus’, realmente, não deve ser o que é.
Os Símbolos, Mitos e Identidades da esquerda da América Latina são construídos a partir das grandes opressões sociais durante todo o Século XX. Desde a fundação da Res publica[2] no Brasil é, percebido, uma grande fomentação da Eugenia nas Classes mais marginalizadas no país Tupiniquim e isso criando uma aversão a política, antes, oligárquica e depois ‘republicana’. Essa elite intelectual e de relação de poder[3] cria, desde então, esse bloqueio social e político. Essa disparidade reflete não só nos movimentos populares, mas, como dentro da Igreja de Pedro, pois, um grande exemplo é a Pastoral da Terra.
Após Revolução Comunista na Rússia houve um alento aos marginais[4], pois, percebeu-se que era possível, no mínimo, uma nova ordem social. Eventos como a II Guerra Mundial e depois a política de blocos da Guerra Fria foram os quocientes para essa maturação de Símbolos, Mitos e Identidades. Com a ditadura, ou ditabranda pra alguns, brasileira esse imaginário revolucionário se concretizou, pois, era a única opção de saída do Estado de sítio criado pelos Militares e Conservadores. Essa opção seria a liberdade, pois, a mesma é da essência de qualquer sociabilidade justa e fraterna, contrapondo assim, a libertinagem atribuída ao mercado de especulação e ao curral ideológico. A liberdade, segundo Sartre, é a possibilidade permanente daquela ruptura ou nulificação do mundo que é a própria estrutura da existência.
Dito isto, assumo o quanto é retrocesso o pensamento do negar o outro como ser, ou seja, afirmar que o outro é meramente um objeto sem ter que abranger toda a sua totalidade como ser social. Esse retrocesso é assumido nos mais espaços preenchidos pela reprodução e ‘militização’ dos espaços que deveriam ser ambientes de respeitabilidade e de concretização de pensamentos. Da mesma forma que há os reprodutores de práticas Petistas, afirmo, que também há reprodução do pensamento Neo-Liberal, da Igreja Conservadora e preconceitos históricos.
Esse texto que não é ‘Jenial’, mas, expressa o quanto é angustiante o momento, na qual, a Igreja vive. Contradições entre Novas Comunidades, CNBB e afins demonstra tal aspecto. Poderoso Chefão poderia ser os nossos Petistas, mas, qual seria o Poderoso Chefão do Neo-Liberalismo, Igreja Conservadora e Preconceitos? A mão invisível? As leituras, fichamentos e o ensino propedêutico? São questões a se pensar.
Em suma, refuto o que é de mais danoso na sociabilidade: o desprezo ao outro.
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