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segunda-feira

Chora direitalha...

Idealizador e articulador da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República, o presidente Lula manifestou ontem, pela primeira vez publicamente, o desejo de que seus aliados se unam em favor de uma só candidatura. “Nós temos ainda seis meses para maturar e aí nós vamos anunciar. Eu gostaria que tivéssemos apenas um candidato, que fizéssemos uma eleição plebiscitária, ou seja, nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo”, afirmou aos jornalistas em Floresta (PE), ao fim da segunda jornada de visitas às obras de transposição das águas do rio São Francisco, em companhia de Dilma e do pré-candidato do PSB, Ciro Gomes. Em entrevistas e num discurso, Lula dedicou-se especialmente a contestar críticas e a atacar críticos ao governo.

Provocado por um repórter a reagir à acusação feita na véspera pelo governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de que o governo não investe em irrigação no Nordeste, Lula atribuiu a manifestação do tucano a um interesse repentino e eleitoreiro.

“Eu não sabia que o Serra tinha alguma preocupação com o Nordeste. Mas, se começa a ter um pouquinho, perto das eleições, já é um bom sinal, é um bom sinal. (…) O que é triste é isso: é que vai passando o tempo, as pessoas não falam, as pessoas ficam mudas, e quando vai chegando perto das eleições as pessoas começam a preparar o discurso para a campanha.”

O presidente ainda mandou um recado ao pré-candidato do PSDB:
“O Serra que fique esperto, porque ele vai ver o que nós vamos inaugurar de irrigação no Nordeste nesses próximos meses – projetos que estiveram parados durante anos, e não por nossa culpa. Quem sabe, eu até convide ele para participar comigo da inauguração de alguns projetos, para ele compreender o que está acontecendo no Nordeste.”

Além de Serra, o presidente Lula desqualificou, sem citar nomes, vários opositores a seu governo e, em particular, às obras de revitalização e de integração do rio São Francisco, entre eles ambientalistas, jornalistas e governantes.

Leia, abaixo, as principais declarações feitas pelo presidente em entrevistas e discurso:
“Se dependesse da oposição, eu não fazia o primeiro (PAC), não faria o segundo, e ninguém faria nada. Porque o que a oposição quer é que o país pare para eles poderem ter razão, e o que a situação quer é trabalhar mais para não dar razão para a oposição. O dado concreto é que eles tiveram uma chance de fazer e não fizeram, e nós estamos fazendo.”

“Teve um bispo que até fez greve de fome para que a gente não fizesse essa obra. De vez em quando aparece um movimento em São Paulo, em Salvador, no Rio de Janeiro, contra a gente fazer água. (…) Quando a gente quer fazer uma obra como esta, aqueles que tomam café de manhã, almoçam, jantam, tomam água gelada todo dia, são contra a gente fazer esta obra.”

“É muito fácil o cidadão sentar em uma cadeira de almofada, com ar condicionado, no seu gabinete lá em São Paulo ou no Rio de Janeiro ou em Minas Gerais ou em Brasília, sem noção do que é o Nordeste brasileiro, do que é a pobreza, do que é o semiárido, e dando palpites, escrevendo lá: “eu sou contra porque não sei das quantas”. (…) Ser contra lá na Tijuca, no Rio de Janeiro, ser contra na Avenida Paulista é fácil. Eu sou contra, depois abro a minha geladeira, pego uma Perrier geladinha, tomo e ainda coloco um pouco no uísque. É muito fácil ser contra. Agora, venha para cá, carregar uma lata d’água na cabeça, com caramujo e tudo, colocando água para “sentar” em um pote para depois tirar com uma canequinha, água barrenta para beber… Então, as pessoas venham ver isso para poderem ter responsabilidade na hora em que fazem o julgamento das coisas, precipitadamente.”

“No fundo, no fundo, no fundo, as pessoas têm uma mania de brigar à toa, porque se algum governador foi contra ou se algum prefeito foi contra, ele deveria, antes de ser contra, saber se ele estava fazendo a sua obrigação para com o rio São Francisco, se ele estava fazendo tratamento de esgoto para jogar o esgoto tratado e jogar água limpa no rio São Francisco, se ele estava trabalhando para recuperar as matas ciliares, recuperar as margens do rio. A verdade é que ninguém estava fazendo isso. A verdade é que uma das razões de o rio São Francisco estar assoreado hoje é que, de forma irresponsável, as pessoas desmataram praticamente todo o cerrado em volta do rio São Francisco para fazer carvão, e, nunca, nenhum governador se importou com isso, nunca. A verdade é que você vê esgoto a céu aberto, caindo dentro do rio São Francisco, todos os dejetos humanos caindo, e ninguém cuidava.”

“Eu lembro do pronunciamento que fiz em 2006, retrucando o ex-governador do estado de Sergipe, que adorava posar para foto em uma ilha, no meio do rio São Francisco, dizendo que a água tinha acabado. A água não estava acabando por conta da transposição, porque ela nem existia. O rio estava assoreado por causa da irresponsabilidade dos governadores que vieram antes de nós e que não tiveram coragem de proibir o desmatamento de todas as matas à volta do rio São Francisco para fazer carvão. Eu conheço rios em Sergipe que são um verdadeiro esgoto a céu aberto, e eu não vi a preocupação dos críticos daquela época em cuidar daqueles rios que eram verdadeiros canais de esgoto, que jogavam tudo no São Francisco.”

Sobre as dificuldades para a realização de obras
“Eu tenho certeza: não existe nenhuma obra parada no Brasil por falta de dinheiro. Se tem alguma obra parada, é alguma coisa, ou da Justiça, ou de briga entre empresários, ou do Tribunal de Contas, porque falta de dinheiro não existe…”

“Fazer uma obra hoje no Brasil é muito difícil. Primeiro porque durante 25 anos esse país não cresceu e pelo fato dele não crescer nós fomos criando uma máquina poderosa de fiscalização, infinitamente superior à máquina de execução. (…) Você veja, hoje, um menino qualquer, do Ministério da Integração, da Casa Civil, do Banco Central, qualquer parte do Governo… se ele der autorização para uma obra acontecer e alguém entrar com um processo contra ele, sabe o que acontece? Ele tem seus bens indisponibilizados, vai para a Justiça e ele tem que contratar o próprio advogado. Então, as pessoas começam a criar dificuldades para não liberar a obra, porque as pessoas têm medo. Agora, ao mesmo tempo, quando o Tribunal de Contas da União ou o Ministério Público ou um outro órgão qualquer paralisa uma obra por um ano, essas pessoas não são responsabilizadas criminalmente, não têm seus bens disponibilizados. Porque deveria ser a lei igual para todos, ou seja, eu dou autorização para fazer uma obra, eu errei, eu posso ser punido. Mas quem também parou a obra e provou que estava errado, teria que ser punido.”

Sobre a geração de empregos
“Enquanto o mundo inteiro ainda está vivendo o problema do desemprego, nós, em setembro, geramos 252 mil empregos com carteira assinada. Até agora, de janeiro a setembro, foram 932 mil empregos, ou seja, vamos terminar o ano com mais de 1 milhão de empregos gerados, o que é um fato inusitado no mundo que está em crise porque nos Estados Unidos, o presidente Obama está festejando o fato de que o desemprego caiu de 400 mil para 200 mil. Nós aqui estamos festejando, em nove meses, a criação de 932 mil empregos com carteira assinada neste país.

Sobre a imprensa
“Em agosto de 2003, eu fui a Ford e disse aos trabalhadores da Ford que eles iriam assistir logo, logo ao espetáculo do crescimento. A imprensa inteira, sobretudo os analistas econômicos, zombaram de mim, muito; os chargistas cansaram de fazer charge ridicularizando a minha proposta. Só que ninguém tem humildade para pedir desculpas porque, em 2004 – eu falei em agosto de 2003 – em 2004, a economia cresceu 5,8%. E eu não vi ninguém pedir desculpas a mim, não vi ninguém.”

“Se vocês acompanharem a imprensa internacional, da Itália, da Espanha, da Alemanha, dos Estados Unidos, da Inglaterra, e vocês lerem o que eles afirmam da economia brasileira, e você pegar a imprensa brasileira, você pensa que está em outro país, porque aqui é um jogar para baixo. Vá ser azedo assim em outro lugar. (…) Eu aprendi, no governo, uma coisa: quem está governando não tem tempo para ficar mal-humorado. Quando a gente é oposição, quando a gente é radialista, quando a gente é jornalista, quando a gente está de fora a gente sabe tudo, a gente pensa tudo, a gente acredita em tudo. Quando você está no governo, você não pensa, você não acredita, você faz. Faz ou não faz. O que fizer, está feito; o que não fizer, você paga o preço.”

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