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Lina e sua agenda...

Autor: João Felício é secretário de Relações Internacionais da CUT e secretário Sindical Nacional do PT.


O jornal Folha de S.Paulo publicou extensa matéria em sua edição do último domingo com o sugestivo título: "Lina acha agenda que teria data de reunião com Dilma". Recém-chegado do exterior, me vi estimulado a escrever este breve comentário.

Há 15 anos estou na executiva nacional da CUT participando de atividades pelo mundo afora, prática que se intensificou no último período quando fui eleito secretário de Relações Internacionais da Central, com intervenções em fóruns, eventos e seminários.

Sempre analisei a forma como dirigentes sindicais, governantes e jornalistas de outros países se relacionavam com o Brasil, e não há como deixar de fazer comparações, traçar paralelos sobre o ontem e o agora.

Confesso que nos últimos anos vêm crescendo imensamente o respeito e a admiração pelos avanços que temos obtido, particularmente dos resultados colhidos pelos projetos sociais do governo federal, como o Bolsa Família, Luz para Todos, Prouni, PAC e o Minha Casa, Minha Vida. Programas e medidas que se somam às políticas de crédito e de incentivos às moradias populares, urbanas e rurais.

Neste momento, foi tema de seminário em Berlim, do qual participei, a forma com que o nosso país está saindo da crise devido à rapidez das medidas tomadas pelo governo, pela diversificação da economia, pelo investimento no mercado interno e, especialmente, pela política de valorização do salário mínimo.

Nunca fui de ficar entusiasmado com excesso de elogios e muito menos de críticas, mas estou empolgado com o novo Brasil que está surgindo. Em países tão diferentes como a África do Sul e a Alemanha, pude ouvir calorosos aplausos de pessoas dos mais variados matizes políticos e ideológicos. Todos querendo saber o que está ocorrendo por aqui e manifestando profunda admiração.

Qual não foi minha surpresa quando desembarquei em São Paulo e comprei os jornais para me "atualizar". Parece até que desci em outro país, pois aquela boa imagem que temos lá fora se viu, repentinamente, embaçada pelos meios de comunicação.

Defendi e defendo a liberdade de imprensa, o direito à crítica. Não a unidirecional, oportunista, que se guia pela desqualificação; a embasada. Definitivamente a imprensa brasileira não é livre, não pratica a liberdade, a não ser o de meia dúzia de famílias que mandam e comandam, mentem e caluniam impunemente.

Na verdade, respondendo aos interesses de seus donos, boa parte da mídia constrói uma realidade virtual, onde o supérfluo vira manchete, a banalidade ganha o pódio e o que não tem importância nenhuma se transforma na grande notícia do dia. O que é importante, com certeza porque contraria os interesses desta elite, fica completamente secundarizado, quando é veiculado. Quando a notícia é boa, rapidamente sai do noticiário. Se for algo que, na avaliação desta mesma mídia, é contrário ao governo ou aos movimentos sociais, a "informação" permanece durante vários dias, às vezes até por semanas e meses.

Recentemente o Brasil foi reconhecido como o país que mais combateu a fome. Ganhou o Prêmio Políticas do Futuro (Future Policy Award), entregue ao governo brasileiro em cerimônia realizada na sede da Prefeitura de Hamburgo, norte da Alemanha. A importante premiação passou completamente em branco na imprensa brasileira, salvo raras e honrosas exceções, que só confirmam a regra da cortina de fumaça e de silêncio contra qualquer agenda positiva.

Em vez de se preocuparem com a consolidação da democracia, com o fortalecimento do Estado, com uma administração republicana, a maior parte dos meios de comunicação se comporta de forma antidemocrática e antiética, com um partidarismo que beira o esculacho.

Em agosto foi realizado o Congresso Nacional da CUT, com mais de dois mil delegados e mais de cem delegados internacionais. Não foi veiculada nenhuma notícia na imprensa. Tanto na África do Sul como em congressos que participei pelo mundo afora, o congresso da central sindical local aparece na primeira página, de forma positiva ou apenas informativa. Só não são destaque onde a imprensa também é autoritária e excludente, como a daqui.

Analisando friamente sobre o caso Lina: qual a relevância que tem para o país e para a sociedade brasileira a ex-secretária da Receita Federal ter achado a sua agenda? O que explica tamanho furor para manchetar uma funcionária, cujo marido foi ministro de FHC? Qual a importância que isto tem? Oh! A Lina achou sua agenda, pessoal. Vejam que esta é uma confissão cabal, por inteiro, da mais completa ausência de assunto para espinafrar o governo. Garimpam notícias sem a menor importância, transformando o lixo em luxo ao sabor da conveniência.

Beirando o ridículo e extravasando cinismo, a imprensa brasileira, dominada pela oposição demo-tucana, quer que Lina volte ao palco, que acendam-se os holofotes, que se pintem de ouro os microfones e elevem-se às alturas o volume das caixas de som, para que a ex-secretária, agora sua salvadora, volte a reacender o fogo da infâmia contra a candidata do Lula.

O que dizer para a dona mídia? Pobre menina rica.

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