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quarta-feira

O grande negócio das drogas na luta do bem contra o mal

Uma cortina de fumaça encobre a mente de gerações nascidas com a política de criminalização das drogas. Mas não é fácil mudar a atitude de quem passou boa parte da vida lendo e ouvindo que a guerra às drogas busca libertar a humanidade do mal gerado pelo consumo de substâncias depreciadoras da raça humana. Infelizmente, os períodos de radicalização desta guerra escurecem ainda mais a fumaça que encobre o lado racional dos indivíduos.

A abordagem midiática dos confrontos em andamento no Rio de Janeiro mascara uma realidade muito mais complexa e difícil de ser mudada. A ocupação do Complexo do Alemão foi aceita pela sociedade como uma legítima vitória do bem contra o mal. Devemos sim, celebrar a expulsão que criminosos que estabeleceram um poder fundamentado na força bélica. Mas limitar os trabalhos da segurança pública a esse nível é manter a velha política de enxugar gelo.

Não custa lembrar que acima de tudo, está em jogo um ambicioso projeto de poder pelo controle das atividades criminais no Rio de Janeiro. Seria de uma enorme ingenuidade acreditar que a expulsão de traficantes do seu principal reduto de poder resultará no encerramento das atividades ilegais. O buraco deixado pelo enfraquecimento da quadrilha que dominava o comércio varejista de drogas no Rio de Janeiro será rapidamente ocupado por novos sócios.

Qualquer indicador financeiro sobre a força da economia das drogas ilícitas é tecnicamente frágil diante de toda estrutura que orbita em torno deste negócio. É racionalmente impossível analisar o funcionamento deste negócio sem levar em contar as redes que possibilitam a chegada da droga pronta para o consumo até os locais de venda.

A cortina de fumaça citada no início deste artigo se refere a falsa idéia de que a força do comércio de drogas está concentrada na figura do varejista das favelas que anda de chinelo e sem camisa. A imprensa torna-se cúmplice desta falácia das autoridades de segurança por não questionar a existência de um trabalho de inteligência capaz de destruir a estrutura de uma organização que consegue corromper homens da lei em todos os níveis de comando.

De todas as operações montadas para "caçar as bruxas" do crime organizado, nenhuma delas foi além dos criminosos das favelas. Não se investiga a lavagem de dinheiro que é feita nos mais respeitáveis setores da economia formal, não se investiga como armas de alto poder de destruição viajam por milhares de quilômetros até chegar às comunidades.

Soa como uma blasfêmia falar em legalização da maconha em períodos em que um sentimento fascista toma conta de parte da população. Mais uma vez, é preciso lembrar que são gerações que nasceram em cresceram neste ambiente de criminalização e demonização das drogas. Provar para essas pessoas que em um passado não muito distante a relação entre o homem e as drogas ocorria de forma bem mais harmônica e civilizada é um dos principais desafios para o movimento antiproibicionista.

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