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quinta-feira

O dia de uma nova oposição.

Por Luis Nassif

A oposição já tem data marcada para ressuscitar e desempenhar o papel relevante de contraponto ao governo, como ocorre em todo democracia saudável. Será em algum ponto qualquer do futuro, quando o rombo das transações correntes chegar a tal nível que provocará uma nova desvalorização cambial.
Em política, assim como no mercado de ações, não existem figuras boas ou ruins – ou empresas boas ou ruins -, mas caras ou baratas. É cara quando passa a percepção de que a realidade é menor do que a avaliação; e vice-versa.
Ou seja, se determinada figura (ou empresa) for massacrada durante muito tempo, quando a opinião pública puder avaliá-la melhor, perceberá que é melhor do que se dizia. Então a tendência será a de seu valor subir mais do que o normal. Até que chega em determinado nível, e o mercado constata que a pessoa (ou empresa) está cara. Isto é, não vale tanto quando todos apregoam. Aí começa o movimento de queda novamente.

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O governo Lula é um caso exemplar. Durante cinco anos, o circuito da velha mídia bateu diariamente nele. Não havia nada de bom, nenhum programa que prestasse. Ai veio a crise internacional, o bom desempenho da economia brasileira e uma tremenda reavaliação do governo Lula, a partir de fontes externas.
Descobriu-se que o país amadurecera, caminha para se tornar uma grande nação. Começaram a aparecer resultados do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do Minha Casa Minha Vida, do Luz Para Todos, da crise vencida.
Foi um bom desempenho. Mas, confrontado com a propaganda negativa diária de cinco anos seguidos, tornou-se excepcional. Tanto que os índices de avaliação explodiram mesmo entre o público mais sofisticado.

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Agora, o governo Lula está no seu auge. A crítica foi desmoralizada pela incapacidade da velha mídia e da oposição em apontar as vulnerabilidades e defeitos reais de seu governo.
Passadas as eleições, começará a hora da verdade. Se perceberá que falta muito a se avançar. São corretas as críticas de José Serra à política econômica. Qualquer país que permita essa combinação terrível de altas taxas de juros, câmbio apreciado e carga fiscal pesada, está comprometendo seu futuro.
Essa conta será cobrada de Dilma Rousseff, assim que sentar na cadeira da presidência e tiver que enfrentar o terremoto cambial. Nesse momento, quebrará o cristal que cercou Lula nos últimos tempos, graças à enorme incapacidade da oposição.
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Aí começará o segundo tempo do jogo, com a oposição renascendo das cinzas. Certamente não será pelas mãos nem de Serra nem de Fernando Henrique Cardoso, que estarão parcialmente fora do jogo. FHC ainda se sustentará graças ao apoio da velha mídia e ao fato de manter um conjunto coerente de ideias – em que pese as inclinações golpistas.
O pêndulo da oposição virá para as mãos de Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Aécio Neves, em Minas – caso o PSDB vença em ambos os estados. Pelo desempenho na sabatina da UOL, outro provável vitorioso tucano, Beto Richa, parece ser bastante limitado.
Assim, a próxima rodada da oposição ficará no eixo de um São Paulo, sem a herança de Serra, e Minas Gerais.

O factóide da espionagem - 1

Se o candidato José Serra pensasse minimamente no partido, estaria repisando esse tema em todas suas apresentações, deixando de lado o primarismo dos ataques à campanha de Dilma, imputando-lhe a responsabilidade pelo vazamento das declarações de renda de Eduardo Jorge. Após fazer essa afirmação por dias, depois que o PT entrou com uma ação contra ele, Serra recuou rapidamente, como tem sido constante na campanha.

O factóide da espionagem - 2

Na sabatina no jornal O Estado de São Paulo, Serra corrigiu a afirmação anterior. Disse que acreditava que a motivação do vazamento seria "política" e não "eleitoral". A troca de palavras foi aconselhada por advogados. Intenção política é algo genérico, que pode ser imputado a qualquer militante do PT. Intenção "eleitoral" é personalizada e se refere à campanha de Dilma. Ao trocar as palavras, Serra pensou no processo.

O caso Amaury - 1

A campanha desnorteada de Serra, aparentemente, não visa competir eleitoralmente nem fazer boa figura. Pelo visto, Serra jogou a toalha. Seu objetivo é de criar uma blindagem contra o livro de Amaury Ribeiro Jr., sobre as privatizações. No ano passado, a divulgação de trechos do livro aparentemente deixaram o candidato abalado. O livro foi bancado pelo Estado de Minas, provavelmente a pedido de Aécio Neves.

O caso Amaury - 2

A iniciativa surgiu depois que correram notícias de que Serra estaria preparando um dossiê contra Aécio, quando ainda disputavam a indicação pelo PSDB. Serra já tinha um bom histórico, no caso Lunus (que sepultou a candidatura de Roseana Sarney) e em dossiês contra Tasso Jereissatti e Paulo Renato de Souza – quando disputavam a indicação do PSDB em 2002. Para se prevenir, foi encomendado um trabalho a Amaury.

O caso Amaury – 3

Durante meses, bancado pelo Estado de Minas Amaury escarafunchou os documentos da CPI do Banestado, foi a Nova York através dos papéis da Beacon Hill (conta de doleiros brasileiros, investigados por promotores novaiorquinos), passou por Ilhas Virgens e refez o trajeto de parte do dinheiro da privatização. Quando o trabalho estava por terminar, foi selada a paz entre Serra e Aécio.

O caso Amaury - 4

O Estado de Minas não quis aproveitar o material, mas Amaury insistiu em transformá-lo em livro. A partir daí começou o calvário de Serra, quando se constatou que sua filha Verônica era um dos personagens do livro, com os recursos transitando em paraísos fiscais, no mesmo circuito montado por Ricardo Sérgio, ex-presidente do Banco do Brasil. Serra preferiu cuidar do futuro a cuidar da oposição.

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