Tamiflu: quem fez lobby para quem
O dispositivo midiático que fez lobby pró-Roche e pró-Serra, alardeando o despreparo do país para enfrentar uma pandemia de gripe suína, em 2009, e a insuficiente estocagem de Tamiflu pelo Ministério da Saúde, agora acusa o governo de ter comprado quantidades desnecessárias do remédio. E denuncia um lobby por trás desse erro. Serra agora não está mais preocupado em anabolizar sua ‘experiência’ como ex-ministro da Saúde. Ele precisa agora de algo mais forte que uma gripe suína para impedir a vitória de Dilma no 1º turno.
Saul Leblon, na Carta Maior
VEJA ‘denuncia’ na edição desta semana que o governo adquiriu quantidades desnecessárias do medicamento Tamiflu para combater a gripe suína, em junho de
Recuerdos:
1. Em 24 de abril de
2. Naquele momento, Serra disputava com Aécio a candidatura do PSDB presidência da República. Interessava ao tucano anabolizar sua atuação como ex-ministro da Saúde, por contraste. Ou seja, caracterizando o ‘despreparo’ do atual governo para enfrentar a pandemia da gripe suína.
“Aécio Neves, o governador tucano de Minas Gerais, que luta para ter o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014,
4. É nesse ambiente de absoluta isenção e elevado senso ético que a estratégia do pânico em relação à gripe suína, um tema palatável a Serra, recebeu do dispositivo demotucano um tratamento pedagógico. O episódio ajuda a entender porque o presidente Lula disse recentemente que a imprensa tem lado. E não é o da informação isenta.
5. Manchetes da Folha, domingo, 19 de julho de 2009. Na 1º página:
“Gripe suína deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses”
No título interno: “Gripe pode afetar até 67 milhões de brasileiros em oito semanas”
6. O alarmismo foi duramente criticado pela comunidade médica, conforme documentou brilhantemente o blog da jornalista Conceição Lemes, especializada na área de saúde. O próprio ombudsman da Folha então, Carlos Eduardo Lins e Silva, questionaria o jornal em comentário corajoso, dia 26 de julho. Título: ‘No limite da irresponsabilidade”. Trechos:
I] ‘…Ao ler na capa chamada sobre a gripe A, até os menos paranóicos devem ter achado que chances de contrair doença são enormes…’; II] A reportagem e principalmente a chamada de capa sobre a gripe A (H1N1) no domingo passado constituem um dos mais graves erros jornalísticos cometidos por este jornal desde que assumi o cargo, em abril de 2008; III] Quem estivesse febril e com tosse ao abrir o jornal pode ter procurado assistência médica.É quase impossível ler isso e não se alarmar…”
7. O dispositivo midiático demotucano não recuou, nem fez autocrítica. Leia , com exclusividade, o email enviado pelo autor da matéria alarmista, Hélio Schwartsman, a um pesquisador , em 30 de julho de 2009. Schwartsman caça argumentos para defender sua irresponsabilidade jornalística. Trechos do email enviado por ele [omitindo-se o nome do destinatário]:
“ O., tudo bom? escrevo-lhe porque o ombudsman caiu na onda “tranquilista” do ministério e detonou minha matéria em sua última coluna dominical. Estou cogitando de responder. Vi q vc cita predições britânica e dos EUA [...] Minha pergunta é se vc viu mais alguma coisa recente nesta linha para incluir no texto que estou preparando?”
8. Em setembro de
“… Em situações de pandemia como a da gripe suína, ou influenza A (H1N1), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que um país tenha medicamento suficiente para tratar pelo menos 25% da população. No Brasil, porém, os estoques disponíveis até agora dariam para suprir apenas 5% dos brasileiros. A informação foi divulgada pela fabricante do antigripal Tamiflu (oseltamivir), a Roche, em uma conferência internacional organizada pela empresa nesta segunda-feira (7) na Basileia, na Suíça, onde fica a sede do laboratório. ..”
9. O dispositivo midiático age então em ordem unida, às vezes com as mesmas palavras, as mesmas manchetes, na defesa dos mesmos interesses entrelaçados: os da Roche e aqueles da candidatura Serra. Um queria vender mais medicamentos; o outro, acusar a insuficiência dos estoques na área da saúde, de modo a desqualificar o governo Lula e acumular pontos contra Aécio na disputa interna do PSDB.
10. Manchete padrão daquele período estampada no dia seguinte à da UOL, pelo Correio Braziliense: “Estoques de Tamiflu estão muito abaixo do recomendado…” Trecho: “… Ministério da Saúde só tem antiviral suficiente para atender a 5% da população brasileira, quando OMS sugere que o percentual mínimo seja de 25% …’
11. Em 10 de agosto de 2010, 14 meses depois de ter declarado o nível máximo de alerta pela aparição do vírus, a OMS anuncia fim da pandemia.
Segundo o balanço do organismo, a gripe matou 18.449 pessoas em 214 países [é muito, mas é a metade do que mata o trânsito brasileiro por ano]. Em todo o Brasil, foram 1.705 vítimas – casos dolorosos, mas longe de configurarem a tragédia alardeada pelo dispositivo midiático demotucano.
12. Agora, na reta final das eleições presidenciais, as posições se invertem. O dispositivo midiático que fez lobby pró-Roche e pró- Serra, alardeando o despreparo do país diante da pandemia e a insuficiente estocagem de Tamiflu pelo Ministério da Saúde, acusa o governo de ter comprado quantidades desnecessárias do remédio. E denuncia um lobby por trás desse erro.13. A versatilidade, às vezes, é um sintoma de desespero. Serra não está mais preocupado em anabolizar sua ‘experiência’ como ex-ministro da Saúde. Nesse momento, ele precisa de algo mais forte que uma gripe suína para impedir a vitória de Dilma no 1º turno. Corrupção é o nome da “nova pandemia” a ser martelada nas manchetes e comentários do dispositivo midiático pelos próximos 13 dias, incessantemente, em escalada furiosa e alarmista. Até, quem sabe, causar pânico.
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